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Termografia está sendo usada para mensuração da dor, um dos grandes desafios de quem diagnostica

Dr. Alexandre Aldred*

Toda mãe já enfrentou o dilema de saber se a dor abdominal de seu filho é desculpa por causa da prova de matemática que quer evitar, não indo à escola, ou se é o prenúncio de algo mais grave, talvez uma apendicite. Dilema semelhante é do treinador que, diante de lesões no quadríceps de dois jogadores com sensibilidade diferente à dor, ouve de um que tem condições de continuar em campo, enquanto o outro implora por um analgésico.

Esse tradicional desafio de avaliar corretamente o nível da dor e sua causa começa a ser vencido pela termografia médica. Empresas da Índia, da Itália e também do Brasil se valem desse aliado importante para o diagnóstico da causa da dor. A termografia também serve de indicador para a necessidade de tratamento para problemas de saúde que ainda nem geraram sintomas perceptíveis, mas que provocaram ligeiro aumento de temperatura em algum ponto do organismo.

A inovação consiste em equipamentos cuja base é uma bateria de termosensores que escaneiam o corpo humano indicando alterações pontuais de temperatura que podem até passar despercebidas pelo próprio paciente, mas que indicam o início de um processo inflamatório que a detecção precoce tornará muito mais fácil e também rápido eliminar.

A termografia médica se desenvolveu como consequência da evolução da tecnologia com fins militares, a qual tornou acessíveis os termosensores que permitem ao soldado identificar visualmente o inimigo no escuro, pela emanação infravermelha de seu corpo.

A possibilidade de montar uma bateria de termosensores num equipamento que examine o corpo humano de forma não invasiva é de vital importância para detectar os pontos inflamados de uma sinusite, obstruções vasculares, determinar se uma enxaqueca é migrânica ou tensional, a origem de uma febre de causa desconhecida e permite ainda ao reumatologista identificar o ponto preciso de uma dor que o paciente sente como difusa e avaliar a gravidade do problema, entre inúmeras outras possibilidades.

Já na Medicina Esportiva, os atletas da Liga Espanhola de Futebol, por exemplo, foram submetidos à análise com equipamentos de termografia cujo resultado mostrou a necessidade ou não de tratamento preventivo de lesões, com resultados precisos, independentemente da percepção maior ou menor da dor, já que se torna possível visualizar a causa e, com precisão, o nível da inflamação.

No Brasil pelo menos um time de futebol profissional já examina regularmente seus jogadores com equipamento termosensitivo depois de cada jogo, para determinar o nível de lesões identificadas pela dor e que merecem atenção especial.

O protocolo para considerar o que é temperatura normal ou anormal de pontos do corpo humano foi estudado pela Universidade Glamorgan, do País de Gales, que montou um quadro com imagens térmicas do corpo saudável. Uma diferença de um grau é considerada indicação de algum problema pois a lesão, por menor que seja, causa alteração do fluxo sanguíneo no local e a consequente alteração da temperatura, o que é detectado pelo equipamento.

Os aparelhos que se valem da termografia ainda estão sendo aperfeiçoados. No Brasil a Inteligência Artificial já foi e está sendo empregada para analisar informações de termosensores usados para detectar gripes, principalmente a Covid-19. Com um grande banco de dados com temperaturas de pontos do corpo de pessoas sabidamente contaminadas, o sistema capta os resultados do sensoriamento de cada paciente e, em segundos, faz uma comparação com as informações com que foi previamente abastecido. Em caso de concordância das informações obtidas, indica a necessidade de um teste molecular para confirmação da presença do vírus.

Os sistemas de termografia para uso médico certamente ainda vão evoluir muito e ganhar precisão maior nos próximos meses e anos, mas o incrível é que o início do uso da temperatura de pontos do corpo para identificação de doenças começou 500 anos Antes de Cristo.

Embora só há poucas décadas a Medicina tenha se voltado para a medição de pontos de temperatura elevado no organismo para detectar problemas, o primeiro uso do recurso foi relatado por Hipócrates, na Grécia. Ele cobria o paciente com uma fina camada de lama e onde ela secasse mais rapidamente, devido à diferença de temperatura da epiderme, ele sabia que estavam localizadas as inflamações, que passava a tratar.

O princípio do teste inventado pelo pai da Medicina é o mesmo da termografia atual, mas com resultado obtido em segundos e extremamente preciso.

Alexandre Aldred, da Faculdade de Medicina da USP, é especializado em Termografia Médica Diagnóstica e Propedêutica e CEO da Predikta

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