A maior competição estudantil do Brasil

Jacir Venturi
Com uma média anual de 18 milhões de estudantes inscritos, a Olimpíada Brasileira de Matemática (OBMEP) foi criada em 2005 pelo internacionalmente prestigioso Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e é seguramente a maior competição estudantil do Brasil. Graças à ampla divulgação da mídia, das instituições e dos professores, no ano passado participaram 49.452 escolas públicas e 5.036 escolas particulares (estas convidadas pela primeira vez em 2017). Em 2023 (18ª edição), competirão estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio, sendo as inscrições feitas exclusivamente pelas escolas no site www.obmep.org.br até 17 de março de 2023. A prova da 1ª fase será aplicada em 7 de junho, na própria escola do aluno.
A prova da 1ª fase contém 20 questões de 5 alternativas e, além dos conteúdos curriculares, prioriza a lógica, o raciocínio crítico e a criatividade. Pimba, passa ao largo das decorebas! Na 2ª fase, cuja prova será aplicada em 8 de outubro, participarão apenas os 5% melhores estudantes de cada escola. As inscrições são gratuitas para alunos de escolas públicas, conquanto os de particulares pagam na proporção dos inscritos. Todavia, não haverá ranking de classificação ou comparativo entre as escolas, ou seja, cada instituição de ensino receberá tão somente o próprio resultado e de seus discentes. Pede-se aos diretores e professores, especialmente os de Matemática, que motivem os educandos a participar com denodo e a dedicar o máximo de si. Os mais bem colocados ganham medalhas de ouro, de prata e de bronze, bem como menções honrosas, e em geral portas se abrem para boas oportunidades.
Ademais, a Olimpíada Brasileira de Matemática contribui para desenvolver um ambiente de cultura e amor à “rainha e serva de todas as ciências”, identifica jovens talentosos e promove inclusão social. É um ganha-ganha, e são pertinentes as referências ao estudo promovido pelo INEP, segundo o qual escolas que regularmente participaram dessa competição com organização e método por anos seguidos apresentaram evolução equivalente a até a 1,5 ano de escolaridade adicional na prova do Saeb (prova aplicada pelo INEP/MEC para estudantes de escolas públicas em praticamente todos os municípios brasileiros).
A importância de tal feito é ainda mais relevante quando rememoramos que sobejamente conhecido é o desempenho sofrível dos nossos estudantes tanto nas avaliações internas em Matemática quanto em comparação com outros países. Eis o grande paradoxo! Se há uma ponta vistosa que merecidamente enleva e orgulha a Matemática brasileira, formada por estudiosos notadamente aguerridos, há em contrapartida uma grande massa de estudantes – a parte submersa desse iceberg – que precisa emergir. Para citar apenas um exemplo, no último Saeb constatou-se que apenas 9,1% dos concluintes do Ensino Médio apresentaram aprendizado adequado dos conteúdos de Matemática. Ou seja, histórias de sucesso convivendo com o problema crônico do ensino da Matemática.
Tais fatos geram um misto de esperança e ameaça, uma vez que, em tempos da intensa evolução da inteligência artificial e da 4ª Revolução Industrial, nunca se deu tanto valor ao profissional com boa capacidade de raciocínio e de tomada de decisões lógicas (um “resolvedor” de problemas). Defrontar-se com uma tarefa mais complexa faz bem aos neurônios, desenvolve a autonomia intelectual e a confiança para superar outros desafios.  Por essas e outras razões, estimular o raciocínio deve ser uma das principais incumbências dos pais e professores, em especial no ambiente escolar.
E nesse mister, um dos primeiros passos – embora muitos outros sejam necessários – é desmistificar a Matemática como bicho-papão, ciência abstrata, sinistra, lúgubre.  Amar a Matemática é uma decisão: basta no seu estudo se debruçar e se aprofundar, o que requer esforço mental e disciplina. E isso deve começar desde cedo, pelas crianças, porque nelas o gosto pela Matemática é imanente. Ajuda demais quando se tem um professor com boa didática e paixão, pois quem leva ojeriza e preconceito na cabecinha delas são os adultos. Para o diretor do IMPA, Marcelo Viana, nossos professores, em sua maioria, têm uma formação deficiente em conteúdo e método de ensino. E ele vai além: classifica o ensino de grande parte de nossas escolas como “massificador e chato”, baseado na memorização e imposição de conteúdos – “justamente o que a Matemática não é”.

Jacir J. Venturi, formado em Matemática e Engenharia, autor dos livros “Álgebra Vetorial e Geometria Analítica” (10ª edição) e “Cônicas e Quádrica (6ª edição). Foi professor de Matemática, diretor de escolas públicas e privadas e um dos Coordenadores da Olimpíada de Matemática no Paraná. É membro do Conselho Estadual de Educação do PR.

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