Família paranaense abre fábrica de açaí no Norte e inicia comercialização de produtos no Sul

Com o açaí em polpa, distribuidoras, sorveterias e consumidores finais terão a chance de gourmetizar um dos principais alimentos da Amazônia

Família paranaense abre fábrica de açaí no Norte e inicia comercialização de produtos no Sul
Áureo, no centro, com as irmãs Marcia e Josenia: polpa do açaí vem para o Paraná

Com granola e leite condensado… caramelo e banana… ou acompanhado de leite em pó… Estas são somente algumas formas de comercialização do açaí por todo o Brasil em quiosques, sorveterias, lanchonetes e açaiterias. Sabendo que o fruto nativo da região amazônica é muito saudável, mas que, quando de forma industrial, é acrescido de emulsificantes, xaropes e açúcar, ele pode se tornar bem prejudicial, cinco irmãos de uma família do Paraná uniram-se para, em 2023, enaltecer a popularidade merecida para a fruta de excelente fonte energética e sabor inigualável.

Áureo, Ivan, Angélica, Marcia e Josenia Bordignon passarão, neste mês de fevereiro, a comercializar o açaí “raiz”, em forma de polpa congelada, primeiramente na região Sul do país. Depois, a ideia é expandir o projeto para todo o Brasil. O público-alvo, nesse primeiro passo, serão empresas que terão a oportunidade de transformar o açaí em outras receitas, como distribuidoras, indústrias alimentícias e até consumidores pessoa física que poderão gourmetizar e criar receitas, saindo do tradicional “feijão com arroz” atual.

Para a ideia dar certo, tudo foi pensado estrategicamente. E, como a natureza não dá saltos, é como se a família tivesse sido preparada para o negócio desde os anos 1980. Ivan foi o primeiro a ter contato com o fruto, já que nessa época trabalhou em uma entidade sem fins lucrativos na maior floresta do mundo para recuperação de uma área degradada. Hoje, à frente do negócio familiar em Porto Velho/RO, ele se lembra de seus perrengues com orgulho: “Na época, os frutos da região nada valiam fora de lá; ninguém conhecia e não havia mercado. Na prática, o açaí foi aceito primeiramente no Rio de Janeiro, com os lutadores de jiu-jítsu o abraçando porque descobriram que ele ajuda na regeneração muscular e retarda o efeito de exaustão na prática de exercício físico. E, desde então, o fruto ganhou o mundo”, conta ele.

Na Kiloton Amazônia, Ivan compra o açaí diretamente das famílias ribeirinhas em várias cidades do Amazonas, Acre, Bolívia e Peru, deixando claro, nos pormenores, “que o propósito dos irmãos é proporcionar a extração e o consumo intimamente ligados a uma cultura constituída em intensa relação com a natureza, que merece todo o nosso respeito”.

Família paranaense abre fábrica de açaí no Norte e inicia comercialização de produtos no Sul

Complementando a ideia do irmão, Áureo diz que o açaí é parte importante do que configura o “ser amazônico”, o que está ligado diretamente ao “ser brasileiro”: “Ou seja: trata-se de um mercado relacionado a uma história e um território entendido para além de um espaço geográfico, que engloba população, relações sociais entre humanos e não humanos, experiências históricas, simbólicas e políticas. E o nosso produto traz tudo isso desde a colheita até chegar à mesa das pessoas”.

Se os astecas acreditavam que o milho era, literalmente, um semideus, na visão da “Irmandade do Açaí”, o fruto tem que ser tratado tal como uma das mais importantes civilizações que habitaram a Terra trataram o milho. “Afinal, estamos falando do Brasil, o maior produtor de açaí do mundo, fonte de renda dos estados do Amazonas, Acre, Pará, Rondônia, Roraima e Maranhão, e parte importantíssima da alimentação das pessoas que vivem nesses lugares”, enaltece Marcia Bordignon.

Industrialização

Depois de comprados, os frutos são levados em transporte refrigerado até a fábrica em Porto Velho, onde uma equipe faz criteriosa seleção e processamento. Para obter uma polpa com qualidade, são necessários dois quilos de açaí para um quilo de polpa. Para se ter uma ideia do rendimento, uma planta adulta, em média de sete anos, produz cerca de 15 quilos de açaí por safra.

Na Kiloton Amazônia, é aplicada uma técnica de branqueamento da fruta. Isso faz com que as enzimas que causam o escurecimento do alimento sejam desativadas, mantendo a sua cor, o aroma e o seu sabor em perfeito estado. Trata-se de um pré-tratamento para que a polpa seja congelada, mas sem perigo de perder suas características originais. “Nosso processo visa preservar todas as propriedades e os benefícios do açaí, pois, segundo o Ministério da Agricultura, o açaí é rico em antioxidante do tipo antocianina, que é o responsável pela sua coloração roxinha característica. Esse antioxidante previne o envelhecimento, diminui os níveis de colesterol ruim e protege nossos neurônios da oxidação”, informa Ivan.

Com todo esse diferencial, a Kiloton Amazônia chega à região Sul valorizando uma alimentação “raiz”, ligada aos povos e culturas tradicionais, comprometendo-se com a sustentabilidade social e ambiental, desenvolvendo fornecedores e mão de obra capacitada, ajudando na descarbonização da economia, gerando renda e, principalmente, incentivando o replantio do açaizeiro em áreas degradadas.

Saiba mais em: Açaí | Kiloton Amazônia | Rondônia (kilotonamazonia.com.br).

Ciência

A pesquisa Bioeconomia amazônica: uma navegação pelas fronteiras científicas e potenciais de inovação, da World-Transforming Technologies (WTT), com a participação da Agência Bori, aponta que o açaí está entre os insumos da Amazônia que mais apareceram em estudos científicos publicados de 2017 a 2021 por instituições de estudo brasileiras sobre matérias-primas da região.

As áreas mais demandadas são ciência e tecnologia de alimentos, biologia molecular, ciências ambientais, bem como ecologia e bioquímica. Veja: Bioeconomia Amazônica – uma navegação pelas fronteiras científicas e potenciais de inovação – Agência BORI.