João Alfredo Lopes Nyegray*
Há 106 anos, num fatídico 8 de março de 1917, aproximadamente 90 mil mulheres soviéticas foram às ruas em busca de melhores condições de vida e de trabalho. Ainda que tivessem jornadas muitas vezes maiores, seus salários eram menores do que os dos homens – ainda que em funções equivalentes. Mais de um século depois, era de se esperar que a luta iniciada em 1917 já tivesse dado todos os frutos necessários, afinal a própria Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 já consagrou a igualdade em seu artigo 7.º. Não poderíamos estar mais errados.
A Universidade de Georgetown, em Washington, EUA, criou o “Women, Peace and Security Index” (Índice de mulheres, paz e segurança, em livre tradução), para medir a inclusão, a segurança e o acesso à justiça de mulheres em cerca de 170 países. São, no total, 11 indicadores que capturam dimensões de inclusão econômica, política e social, além de itens relacionados à justiça e à segurança. Os 10 melhores países para ser mulher são Noruega, Finlândia, Islândia, Dinamarca, Luxemburgo, Suíça, Suécia, Áustria, Reino Unido e Holanda.
Do outro lado da tabela, nos últimos lugares, estão Afeganistão, Síria, Iêmen, Paquistão, Iraque, Sudão do Sul, Chade, República Democrática do Congo, Sudão e Serra Leoa. Foi justamente no último país da lista, o Afeganistão, que os Talibã retornaram ao poder em 2021 – após anos de ocupação estadunidense e uma retirada vergonhosa das tropas de Biden. À ocasião, professores despediram-se de suas alunas, e fachadas de lojas que exibiam fotos femininas foram pintadas. No final de 2022, o Ministério do Ensino Superior do Afeganistão, também administrado pelos extremistas do Talibã, proibiu as mulheres de frequentar o ensino superior no país.
A Síria, por sua vez, vive uma guerra civil há 12 anos. Milhares de refugiados deixaram o país em busca de uma vida melhor, e mais de 500 mil civis foram mortos desde o início do conflito. No Sudão do Sul, o país mais novo do mundo, mulheres e meninas são compradas, vendidas e utilizadas como escravas sexuais e espólios de guerra. Por toda a região do Chade, República Democrática do Congo e Serra Leoa essa situação se repete.
Ao nos depararmos com esses dados podemos, enganosamente, acreditar que a desigualdade está longe de nós. Mas não está. De acordo com o índice criado pela Universidade de Georgetown, o Brasil é apenas o 80.º melhor país para ser mulher. Um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública realizado a partir de dados de 2022, e divulgado na semana passada, apontou que pelo menos 30 milhões de brasileiras sofreram algum tipo de assédio ano passado. Em termos de violência, foram 18,6 milhões de vítimas – o que equivale a 51 mil casos por dia. No ambiente de trabalho, uma mulher é assediada por hora e, no geral dos casos, uma mulher é assediada a cada segundo no Brasil.
De acordo com a Organização das Nações Unidas, no ritmo de hoje, levaremos aproximadamente 300 anos para alcançar a igualdade de gênero. Não é possível que absolutamente nenhuma sociedade se desenvolva ou prospere sem tratar as mulheres – às quais todos estamos ligados por mães, irmãs e/ou esposas – não apenas com a mais alta igualdade, mas com o mais elevado amor e respeito.
*João Alfredo Lopes Nyegray é doutor e mestre em Internacionalização e Estratégia. Especialista em Negócios Internacionais. Advogado, graduado em Relações Internacionais. Coordenador do curso de Comércio Exterior na Universidade Positivo (UP). Instagram: @janyegray