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Performance e mindfulness: qual a relação?

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Performance e mindfulness: qual a relação?
Andrea Rodacki

Estudos científicos comprovam que o mindfulness pode melhorar a saúde física e mental

Existe comprovação de que o mindfulness melhora a performance? Antes de responder a essa pergunta, vamos refletir sobre o que é mindfulness e o que é performance.

Mindfulness, no meu ponto de vista, é muito mais do que um conjunto de práticas; é um modo de vida, é prestarmos atenção, com consciência e sem julgamento, ao que estamos fazendo agora. Mas o que é prestar atenção com consciência? É focar em uma coisa de cada vez, é estar totalmente engajado no que você está fazendo, sem se distrair pensando no que precisa ser feito e no que já passou. A expressão “sem julgamento” é muito importante, pois pode ser uma das chaves com relação à performance.

Considere que você está prestando atenção ao desenvolvimento de uma atividade no trabalho, como a elaboração de uma proposta, uma planilha ou atendendo um cliente, um paciente. Se essa ação for desenvolvida sem nenhuma outra em paralelo, de modo que você esteja totalmente focado na atividade, você age “sem julgamento” quando executa essa ação sem a “ruminação mental”. Ou seja, quando você desenvolve a atividade sem ficar pensando “está bom”, “não está” e acredita no seu potencial, prova aquele gostinho de “estou fazendo o meu melhor”.

Outros casos de atitudes mindful sem julgamento que gosto de citar estão relacionados ao nosso dia a dia. Por exemplo, ao passar por uma pessoa conhecida, mas ela não te cumprimenta, você pode começar a pensar “puxa, essa pessoa é uma grossa”, “puxa, ela não gosta de mim”, mas, na verdade, a pessoa pode realmente não ter te reconhecido ou estava tão absorvida com seus próprios pensamentos que nem te viu passar. Se, nesse caso, você agisse sem julgamento, simplesmente pensaria: “Passou, não me viu e sigo adiante”.

O comportamento mindful sem julgamento, muitas vezes, está mais relacionado ao autojulgamento do que ao julgamento dos outros. Porém, é importante também reparar na sua conduta em relação ao mundo externo, pois esse tipo de julgamento é o sentimento concebido sem exame crítico, assumido em consequência da generalização apressada de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio externo.

Em resumo, agir sem julgamento é perceber o fluxo da mente (bom/mau/neutro) e não tentar pará-lo, mas apenas estar ciente dele.

Esse estado de ser mindful é alcançado quando você pratica mindfulness diariamente. Nesse caso, podemos comparar essa prática ao hábito de fazer exercícios. Se queremos correr bem, precisamos correr por um período de tempo e com regularidade, e assim é com a prática de mindfulness.

Mindfulness consiste em exercícios que envolvem o foco na respiração, na percepção do corpo, em sons ou visualizações e têm uma duração de 10 a 20 minutos. As práticas normalmente são guiadas e realizadas com áudios e/ou aplicativos, como Meditopia, Headspace, Calm, Lojong, Insight Timer, Ten Percent Happier. Podem ainda ser realizadas em silêncio ou de maneira contemplativa. É importante praticar mindfulness todos os dias, pois esse é o exercício mental que faz com que você crie o hábito de viver no modo mindful.

Sara Lazar, neurocientista do Hospital Geral de Massachusetts e da Escola de Medicina de Harvard, foi uma das primeiras estudiosas a mostrar que o cérebro muda com a prática de mindfulness. Ela submeteu praticantes dessa técnica a exames por meio de tomógrafos computadorizados e descobriu que “os praticantes de mindfulness têm a massa cinzenta aumentada na região da ínsula e regiões sensoriais do córtex auditivo e sensorial. O que faz sentido. Quando você tem plena consciência, você está prestando atenção à sua respiração, aos sons, à experiência do momento presente e fechando as portas da cognição e assim seus sentidos são ampliados. Também descobrimos que os praticantes têm mais massa cinzenta no córtex frontal, o que é associado à memória e à tomada de decisões”.

Muitos estudos científicos comprovam também que o mindfulness pode melhorar a saúde física e mental de uma pessoa e aí está a relação dessa prática com performance.

Compreendido o que é mindfulness, como definimos performance? A palavra performance tem sua origem no francês antigo: parformance, de parformer, accomplir (fazer, cumprir, conseguir, concluir), podendo significar “levar alguma tarefa ao seu sucesso”.

Tomando por princípio que todas as pessoas querem ter uma boa performance na vida, tanto pessoal como profissional, mindfulness pode nos ajudar a ter mais foco e resiliência. Por exemplo, uma pessoa bem-sucedida pode ser aquela que sabe se relacionar bem com sua família e nos demais ambientes sociais. Pela prática de mindfulness, desenvolvemos condutas de não julgamento, aceitação, empatia, confiança, compaixão, gratidão e generosidade que são citadas nas atitudes mindfulness criadas por Jon Kabat-Zinn, o “pai” do mindfulness no mundo ocidental.

Mas por que atitudes como essas nos levam a ter um melhor desempenho? Ora, porque você terá maior controle sobre suas emoções e conseguirá pensar antes de agir, atuando como uma testemunha imparcial de sua existência. Ao aumentar o autocontrole, é possível perceber suas emoções antes de reagir e ter uma melhor eficiência nas tomadas de decisões.

E assim chegamos à relação entre mindfulness e uma boa performance na vida profissional, pois praticá-lo implica diretamente o desempenho, gerando aumento da criatividade e produtividade, promovendo uma liderança positiva, por meio de comunicação mais eficaz, e provocando melhoria nos relacionamentos e maior motivação e satisfação com o trabalho. Grandes corporações e instituições, como Harvard, Stanford, Google, Facebook, Intel, Nike, General Mills, Target, Aetna e The New York Times já incorporaram o mindfulness em seu cotidiano.

Dessa forma, concluo dizendo que eu mesma sou exemplo de como o mindfulness ajuda a melhorar a performance, pois desde que comecei a praticá-lo, em 2014, tenho conseguido enfrentar com mais resiliência e positividade os desafios que ocorrem na vida pessoal e na profissional

*Andrea Rodacki é professora de Mindfulness na FAE Business School

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