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Na clientela e na administração: mulheres ganham espaço nos botecos brasileiros

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Tido como um espaço predominantemente masculino, essa escrita tem caído com o passar dos anos. Entre os bares participantes do Comida di Buteco 2023, as mulheres compõem mais da metade da clientela e do empresariado

Historicamente, o bar sempre foi tido como um espaço de predominância masculina. Até pouco tempo atrás, mulheres que ousavam frequentar esses locais eram mal vistas por muita gente. Felizmente, essa escrita tem ficado no passado. Na clientela ou atrás dos balcões, o público feminino está ganhando cada vez mais espaço nesse meio.

Prova disso é o Comida di Buteco, concurso nacional que há 23 anos elege o melhor boteco do Brasil. “Hoje, no Comida di Buteco, cerca de 50% dos bares participantes são comandados por mulheres, isso sem contar os estabelecimentos onde elas estão ao lado dos maridos”, conta o diretor de operações do Comida di Buteco, Filipe Pereira. Entre a clientela dos bares que participam do concurso, elas também são a maioria.

Em Maringá, o cenário não é diferente: é possível observar diversos exemplos, seja de locais que são mais frequentados por mulheres ou de negócios comandados por elas.

Um dos exemplos mais antigos e famosos da Cidade Canção é o Atari Bar, famoso ponto de encontro feminino e do público LGBTQIA+, localizado na Avenida Prudente de Morais. Fundado há 13 anos por um grupo de quatro amigas, o estabelecimento nasceu justamente com esse objetivo: quebrar os paradigmas dos botecos brasileiros.

Na clientela e na administração: mulheres ganham espaço nos botecos brasileiros
Gimena Dipp assina o cardápio do Atari, bar que comanda ao lado da sócia Tatiane Leite (Foto: Divulgação)

“Era uma demanda que nós tínhamos enquanto mulheres que gostam de frequentar bares, percebendo que os bares já existentes não ligavam tanto para a gente. Quando tivemos essa ideia, era um contexto em que o bar no Brasil era um espaço reservado para os homens, principalmente nos balcões e nas mesas – a mulher estava restrita à cozinha”, conta Tatiane Vieira Leite, sócia do Atari Bar.

 

Ela lembra que, na época da fundação, uma das demandas era de que o espaço precisava ser diversificado. “Como éramos frequentadoras, sentimos a necessidade de montar um espaço onde nos sentíssemos mais acolhidas.” Atualmente, o negócio é conduzido por duas das sócias originais: Tatiane e Gimena Dipp. Segundo Tatiane, o preconceito de algumas pessoas com o fato do bar ser administrado por mulheres ainda existe, mas é superado diariamente.

“Sempre foi difícil. Até hoje em dia, de vez em quando, rola preconceito. Mas não damos muita bola, quando se é mulher e está na comunidade LGBTQIA+, lutar tem que estar em nosso DNA”, finaliza.

Quem também tem história para contar atrás dos balcões é a baiana Marcela Figueiredo Dourado, que, ao lado do marido Joeder Santos, fundou o Severina Sabores do Nordeste, na Vila Morangueira. Ela, que nunca imaginou na vida que um dia seria proprietária de um estabelecimento como tal, relata como é a experiência.

Na clientela e na administração: mulheres ganham espaço nos botecos brasileiros
A baiana Marcela Dourado comanda o Severina ao lado do marido, Joeder (Foto: Divulgação)

“Na verdade, é bem diferente, mas estou gostando muito da experiência. É gostoso deixar tudo organizadinho. Homem é daquele jeito, mais descuidado (risos). A mulher não: ela vai lá, dá aquele toque especial, manda ver na cozinha e assim vai”, relata. Ela comanda a cozinha, baseada nas receitas de família trazidas diretamente do nordeste.

De acordo com ela, o toque feminino faz com que o ambiente seja acolhedor para as famílias, que hoje predominam o público do Severina.

“Lá está meio a meio [relação entre homens e mulheres no público]. Tem bastante família e isso ajudou na adaptação. Por conta de ser um ambiente familiar, sempre me senti muito acolhida. Felizmente, posso dizer que nunca sofri preconceito”, explica Marcela.

Unidas pelo buteco

Que o bar é um local famoso por gerar novos laços de amizade, nós já sabemos. Mas e quando elas são feitas atrás dos balcões e não apenas nas mesas? É o caso das amigas Ariane, Jô e Juliana. Cada uma delas é dona do próprio bar, todos localizados na região central de Maringá.

Na clientela e na administração: mulheres ganham espaço nos botecos brasileiros
Juliana, Ariane e Jô: quando não estão trabalhando, uma visita o bar da outra (Foto: Renata Mastromauro)

A proximidade dos estabelecimentos também aproximou o trio. Quando não estão trabalhando, uma tem o costume de frequentar o bar da outra. “Faz uns três para quatro anos que a gente se conhece. Quando uma não está no bar trabalhando, está visitando o bar da outra. Eu mesmo, tenho os meus dias fixos, de terça, quarta-feira, para ir nos bares das amigas (risos)”, relata Ariane Cardoso de Oliveira, que é proprietária do Pikeno Bar e Restaurante.

A empresária está no ramo desde 2017 e se desdobra em todas as funções dentro do negócio. Segundo ela, o ambiente do Pikeno conquistou uma clientela bem diversificada. As mulheres, ao verem um ambiente familiar, ficaram encorajadas em frequentar o estabelecimento.

“Lá no meu bar, até pouco tempo atrás era um público bem família. Aí a gente tem mudado um pouco o foco. Antes a gente tocava bastante rock, mas a questão financeira foi apertando e a gente precisou mudar para poder agradar todo mundo. Hoje tocamos pagode e esse outro tipo de som tem chamado as mulheres. Hoje, podemos dizer que temos 50% família e o restante bem dividido entre homens e mulheres. Estamos ganhando as mulheres, que estão mais seguras para irem sozinhas, se sentindo acolhidas”, diz.

Juliana Viana também é testemunha de como o ambiente propicia que mais mulheres frequentem os bares. Dona da Venda du Carmo, ela sentiu que o público feminino passou a comparecer mais ao seu bar após vê-la atrás do balcão.

“Antes, por conta de não termos mulheres no bar, elas também não iam. Agora vai todo mundo, sem exceções. Quando comecei, estava com meu pai, então foi tranquilo. A questão foi quando comecei a tocar sozinha, pois muita gente não acredita, acha que a gente não vai conseguir. Mas quem tem que acreditar é a gente mesmo”, diz Juliana.

No Sputnik Bar e Petiscaria, a história é semelhante. Aberto há um ano e meio, o local também atrai mulheres e famílias. E rola até eventos específicos para cada público, como explica a empresária Joceli de Carvalho Barbosa, carinhosamente conhecida entre os frequentadores como “Jô”.

“Meu esposo trabalha em outro serviço, então eu fico ali na frente. Meu filho e meu marido dão suporte para que eu fique na cozinha, que é onde eu amo estar, é ali que eu brilho, é a forma como nós nos organizamos. Em nosso bar, a clientela é igual (entre homens e mulheres), é um ambiente bem familiar. Tem dia que vão só os homens e no outro só as esposas”, conta Jô.

Comida di Buteco

Na clientela e na administração: mulheres ganham espaço nos botecos brasileiros

Dezenove bares da Cidade Canção estão participando da etapa regional do “Comida di Buteco 2023”, um dos concursos gastronômicos mais famosos do Brasil e que vai eleger o Melhor Boteco do país. Todos eles tiveram de explorar o tema proposto: ervas e especiarias, e o preço único é de R$ 30 por porção. Em Maringá, o concurso vai até dia 30 de abril.

 

Público e jurados visitarão os estabelecimentos para votar em quatro quesitos: atendimento, temperatura da bebida, higiene e petisco. O petisco leva 70% do peso da  nota e as demais categorias 10% cada uma. O voto do público vale 50% do peso total e dos jurados 50%

Nascido em 2000 em Belo Horizonte (MG), cidade famosa pela boemia e boa gastronomia, o Comida di Buteco é realizado em duas etapas desde 2016: a primeira etapa é regional, no qual a votação é feita pelo público e jurados da própria cidade. Depois de eleitos os campeões de cada circuito, um outro corpo de jurados visita e avalia os campeões para que seja eleito, então, o Melhor Buteco do Brasil. Em julho, em uma festa realizada em São Paulo, é revelado o campeão nacional.

A missão do concurso é TRANSFORMAR VIDAS ATRAVÉS DA COZINHA DE RAIZ – BUTECO COMO EXTENSÃO DA SUA CASA,  promovendo um resgate da cozinha de raiz, com foco sempre voltado para a valorização do pequeno comércio familiar.

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