Contra preconceitos, estigmas e tentativas de silenciamento e ocultamento, a voz da mulher preta, lรฉsbica e umbandista ecoa forte em “O Peso da Pele”, o novo รกlbum da cantora e compositora mineira Alessandra Crispin. Composto por 12 faixas, o trabalho expressa afeto, resistรชncia e religiosidade em prol da experiรชncia coletiva, trazendo ร tona a “escrevivรชncia”, termo cunhado pela escritora Conceiรงรฃo Evaristo para descrever a dualidade de narrar a realidade vivida tanto pelo coletivo quanto por si mesma, em primeira pessoa. “O Peso da Pele” convida o ouvinte a mergulhar em รกguas profundas onde o racismo delineia a invisibilidade da populaรงรฃo negra brasileira.
Ouรงa โO Peso da Peleโ: https://onerpm.link/OPesoDaPeleAlessandraCrispinย
A histรณria do Brasil รฉ marcada pela opressรฃo e exploraรงรฃo do povo negro, que foi e ainda รฉ tratado como mercadoria e inferior. Por outro lado, a cultura africana moldou o paรญs, permeando diversos aspectos como o samba, o ijexรก, o funk, o congado, a capoeira, a religiosidade e a culinรกria, apesar do grande preconceito existente em uma sociedade que evita olhar-se no espelho. Lidar com o racismo e com a tragรฉdia do assassinato de Marielle Franco levaram a reflexรตes que inspiraram a criaรงรฃo do รกlbum.
“Infelizmente, conheci Marielle atravรฉs da tragรฉdia e o choque da violรชncia me impactou profundamente. Eu jรก havia sofrido injรบria racial e comecei a refletir sobre minha prรณpria histรณria e a violรชncia que a populaรงรฃo negra enfrenta. Foi a partir desses fatos e reflexรตes que comecei a desenvolver ‘O Peso da Pele’. O nome do รกlbum jรก deixa claro o alvo que carregamos nas costas, aquilo que suportamos”, conta Alessandra.
Alessandra Crispin vem trabalhando neste projeto desde 2018, misturando todas essas influรชncias e dando um salto alรฉm de seu primeiro รกlbum, “Meu nome รฉ Crispin” (2016). O novo trabalho foi realizado pela artista com a co-direรงรฃo de Joรฃo Paulo Lanini e recebeu o apoio da Lei Federal Aldir Blanc, gerida pela Secult/MG.
“Precisamos retomar nosso lugar de realeza, o valor que temos com nossa histรณria e nossos ancestrais. Buscamos esse olhar festivo e guerreiro, inspirado por Beyoncรฉ, Janelle Monaรฉ, Luedji Luna, Liniker e pela estรฉtica de Tina Turner em ‘Mad Max – Alรฉm da Cรบpula do Trovรฃo'”, revela a artista sobre as escolhas visuais do projeto.
Visto como um projeto de empoderamento pessoal e de reconhecimento das mulheres negras como deusas poderosas, “O Peso da Pele” conta com diversas musas que deram vida ร s criaรงรตes de Alessandra. ร o caso de “Laranjeira”, dedicada a sua mรฃe Alaรญde durante o perรญodo de isolamento da pandemia; “Leve”, dedicada ร sua namorada Tainara; e “Guerreira Oyรก”, mรบsica feita em parceria com Clarissa Reoli, em homenagem a Iansรฃ, sua Orixรก de Cabeรงa.
Ao abordar as desigualdades sociais, “Mulher Incomum” traz o diรกlogo sobre transformar a dor da opressรฃo em forรงa para reivindicar respeito e espalhar o bem para aqueles que sofrem. “Filho de Oxossi” evoca o mistรฉrio das raรญzes sagradas, o abraรงo da natureza e das entidades que nela habitam, oferecendo proteรงรฃo e forรงa nas batalhas. A resistรชncia polรญtica da existรชncia do corpo negro se manifesta de vรกrias formas nas canรงรตes “Malandro, Pilantra”, “Presente” (mรบsica que inspirou o projeto), “Posiรงรฃo de Risco” e “Pretas Vidas”. O encerramento da jornada รฉ um convite para permitir-se o afeto, a brisa do toque e a relaรงรฃo entre os seres.
“O Peso da Pele” รฉ um manifesto antirracista que mescla luta e ternura, mantendo-se em uma sonoridade pop. O รกlbum estรก disponรญvel em todas as plataformas de mรบsica.
Ficha tรฉcnica: Direรงรฃo musical: Alessandra Crispin e Joรฃo Paulo Lanini Produรงรฃo musical: Alessandra Crispin, Dj Black Josie e Joรฃo Paulo Lanini Arranjos digitais: Dj Black Josie Violรฃo e guitarra: Joรฃo Paulo Lanini Violรฃo, cavaco, banjo, percussรฃo, voz e vocal: Alessandra Crispin Percussรฃo geral: Almin Bah e Mari Assis Participaรงรตes: Clarissa Reoli: letra em “Guerreira Oyรก” e “Malandra, Pilantra” Jรด Brandaum: letra e voz em “Mulher Incomum” Mรกrcio Guelber: sanfona em “Guerreira Oyรก” Tainara Campos: texto em “Maria Bonita” e “Presente” Captaรงรฃo de รกudio: Renato Dias (Estรบdio Sensorial) Mixagem e masterizaรงรฃo: Maurรญcio รvila (Estรบdio Sonidus) Distribuiรงรฃo: Sensorial Centro de Cultura Projeto realizado com recursos da Lei Federal 14017/20 (Lei Aldir Blanc) gerida pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais. Foto: Equipe Difference (Janaรญna Oliveira, Francisco Silva e Marcella Calixto) Capa: Raul Gonรงalves Arte do lanรงamento: Guer midia, Raul Gonรงalves.