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Gravidez na adolescência: fenômeno global que exige toda atenção possível

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A gestação na adolescência é um fenômeno global de sérios e graves problemas não apenas de saúde, mas também sociais e econômicos. Devido aos riscos que as gestantes adolescentes estão submetidas, como pressão alta, eclampsia, infecções puerperais, a exemplo da endometrite e septicemia (sepse), diabetes e são mais vulneráveis a partos prematuros. Por sua vez, os bebês também possuem maiores chances de admissão em UTI neonatal e maiores dificuldades de desenvolvimento nos primeiros cinco anos de vida, essa realidade merece atenção especial dos poderes públicos pela sua gravidade e morbidade desse fenômeno.
De acordo com alguns estudos internacionais, embora a gestação na faixa etária entre 10 e 20 anos vem decaindo, o Brasil é ainda um dos países que mais sofre com esse cenário na América Latina e no Caribe, ficando atrás apenas do Paraguai, do Equador e da Colômbia, ressalta a ginecologista e obstetra Amanda Kanaciro, membro do corpo clínico do Neocenter/Belo Horizonte , referência na gravidez de alto risco e neonatologia.
Citando dados do Sistema de Informações de Nascidos Vivos, do Ministério da Saúde, segundo a médica, do total de partos realizados no Brasil, em 2020, 380 mil foram de mães com até 19 anos, o que corresponde a 14% de todos os nascimentos no país.
Gravidez precoce – De acordo com a Dra. Amanda Kanaciro, muitos fatores contribuem para uma gravidez precoce. Conforme a Organização Mundial de Saúde – OMS, em primeiro lugar está o fato de ainda haver sociedades onde meninas serem obrigadas ao casamento, como ocorre em algumas etnias na África e Ásia, em que elas também perdem a autonomia sobre quando engravidar.
“Outro problema que ocorre em muitos países, como o Brasil, é a dificuldade em acesso aos contraceptivos e consultas ginecológicas de acompanhamento, que aumentam essas estatísticas. Muitas adolescentes têm dificuldade ao acesso às informações sobre tipos existentes de contracepção, maneiras sobre uso correto, efeitos adversos e estigmas do uso dessas medicações e/ou dispositivos”, observa a ginecologista.
Segundo ela, ainda há um terceiro fator que a OMS cita e também a Febrasgo, em seu último estudo: a taxa maior de abuso sexual nessa faixa etária. A WHO (Women Health Organization) estima que cerca de mais de 100 mil meninas abaixo de 19 anos tiveram alguma experiência forçada de contato sexual. “Todo esse quadro deve ser um alerta para as sociedades”, reafirma a Dra. Amanda Kanaciro.
Impactos – Da mesma forma se posiciona a Associação Nacional Especializada em Ginecologia infanto-puberal. De acordo com a entidade, deve-se ter especial atenção a essa realidade e principalmente aos impactos biológicos e psicossociais da gravidez na adolescência, “uma vez que estamos lidando com organismo muito mais imaturo do que o de uma mulher com mais de 19 anos”. As adolescentes que engravidam tendem a abandonar os estudos, passam a se sentir mais isoladas de pessoas com quem conviviam, bem como se sentem abandonadas. Daí, o aumento da taxa de diagnóstico de ansiedade e depressão, especialmente em uma gravidez precoce não planejada.
Outro grande problema é a reincidência da gravidez na adolescência, observa a ginecologista. Conforme ressalta, meninas que engravidam muito cedo, tendem a gestar novamente em curto período de tempo, pois, como dito antes, as causas dessa gestação não foram sanadas, como falta de informação e autonomia. O que nos cabe fazer e o que muda na vida de uma adolescente nessas situações é garantir um pré-natal adequado e informações corretas para o melhor desfecho materno-fetal”.
Nos últimos anos, o ministério da saúde tem realizado medidas estratégicas que englobam múltiplas perspectivas de prevenção e cuidado. Não só ofertar informações e acesso ao uso de métodos contraceptivos, como, também, abordagem da sexualidade responsável, com postergação do início da vida sexual, acompanhada de orientações para perspectivas de vida e planejamento familiar.
A gestação na adolescência é um fenômeno global com causas claramente conhecidas e com graves consequências de saúde, sociais e econômicas para toda sociedade. Há consensos sobre como evitar, mas é preciso pôr em prática e difundir conhecimento. Para a Dra. Amanda Kanaciro, há um crescente compromisso mundial sobre a temática, visto a diminuição das taxas atuais.

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