Assinado pelo arquiteto Bruno Moraes, à frente do BMA Studio, o apartamento exibe um acervo de peças e recordações coletadas por um casal que viajou o mundo. Além disso, a reforma revitalizou os acabamentos originais para manter a história do próprio local
Transformado em um museu particular, o apartamento de 184 m², localizado no Bairro Cerqueira César (SP), faz um resgate de peças decorativas, lembranças de passeios, retratos e esculturas adquiridos em viagens e vivências de um casal de longa data, que após a realização de trabalhos internacionais resolveram firmar o endereço na capital paulista.
O projeto de interiores ficou por conta do arquiteto Bruno Moraes que viu uma oportunidade de contar tanto a história dos moradores quanto do próprio local construído na década de 60. “Foi diferente de tudo o que já fiz. Nós, do BMA, projetamos cada cantinho fazendo referência aos países em que o casal residiu todos esses anos fora do Brasil. Além do mais, como o apartamento era bem antigo, nós conseguimos revitalizar os acabamentos originais, como o piso de taco da sala e de mármore do lavabo”, conta o profissional que lidera o escritório BMA Studio.
Hall social
Logo na entrada, o estilo ousado e autêntico é o primeiro vislumbre que os visitantes têm ao adentrar o apartamento com o piso todo em mármore carrara, original, e que restauramos na reforma. A decoração compõe, harmoniosamente, peças de diversas culturas destacadas ainda mais pela tonalidade neutra que reveste o espaço, como: o tapete de couro de zebra que trouxeram da África; a pintura tradicional chinesa, de quando moravam na China; a mobília pintada à mão com desenhos orientais; e a escultura de Nossa Senhora das Graças.
“O espaço é majoritariamente chinês, como podemos ver na escolha da pintura tradicional, nos desenhos do móvel e até no sofá em design e cor que representam paixão e poder. Em contraste, temos o tapete em couro de animal que, em muitas culturas, simboliza pertencimento, nobreza, luxo, status. Algo que poucos tinham e quanto mais exótico, mais poderoso era”, explica Bruno Moraes.
Ainda no hall, uma pequena sala complementa o espaço. Adornada com papel de parede zebrado, algumas peças chinesas e outras do norte da Europa, a sala também guarda a entrada para o lavabo, onde o revestimento original de mármore fica mais evidente. O arquiteto conta que foi preciso reconstituir muitas das peças para a troca dos sistemas elétrico e hidráulico, ainda característico da construção de 1960. “Após a renovação dos sistemas, o nosso trabalho foi fazer uma revitalização cuidadosa para preservar o mármore. Retiramos as peças que precisavam ser substituídas e trouxemos uma a uma para comparar as tonalidades e fazer o polimento correto”.
Sala de estar transformada em galeria de arte
Projetada a partir dos conceitos da arquitetura de interiores e decoração afetiva, a sala de estar valoriza as memórias importantes, revive experiências do casal e cria narrativas visuais e táteis a partir dos objetos reunidos ao longo do tempo. Tudo exala um significado pessoal, por isso, Bruno decidiu criar um museu particular para contar essas histórias.
Logo no início da reforma, o primeiro passo foi unificar o piso de madeira que estava gasto e escuro, o revestimento foi retirado através de uma empresa especializada em raspagem, para que pudesse ser tratado, clareado e recolocado. “A solução arquitetônica melhorou a aparência e funcionalidade dos ambientes, além de manter atributos primários da história do prédio”, lembra o arquiteto do BMA Studio. Após isso, as paredes foram ornadas na cor sândalo, mantendo um tom neutro para manter o destaque apenas nas peças. Com a renovação da rede elétrica, o projeto luminotécnico buscou valorizar a decoração por meio de pontos de iluminação distribuídos nos ambientes. “Criamos uma iluminação geral, mas não predominante, dando espaço aos Spots AR70 próximos das paredes para valorizar as obras de arte”, completa.
Toda a área do estar se converteu em um espaço hospitaleiro e acolhedor. Com a colaboração dos moradores, que cuidadosamente catalogaram as peças decorativas, todas distribuídas em coerência para formar uma leitura elegante em todos os ambientes do apartamento. A coleção reúne: fotografias em preto e branco, quadros artísticos, cadeiras nórdicas, talhas, máscaras africanas, abajures, símbolos religiosos, peças entalhadas, vasos decorativos, tapetes orientais, mobiliário europeu, cerâmicas chinesas, esculturas brasileiras, objetos Art Déco entre outros.
A biblioteca íntima foi pensada para que os moradores se aprofundassem sobre os mais diversos assuntos literários. Amantes de livros, os dois já acumulavam muitos títulos e necessitavam de um local para acomodá-los e para explorar novas ideias e se envolver nas páginas de grandes obras que integram o precioso acervo.
“Antes de planejarmos o móvel, os moradores nos passaram a quantidade de títulos que tinham e, com isso, conseguimos ter dimensão do tamanho que o mobiliário precisaria ter para guardar todos de forma organizada. Projetamos prateleiras reforçadas para suportar peso e dividimos: parte superior com 25 cm para livros menores, e parte inferior com 50 cm para livros maiores”, ressalta o profissional Bruno Moraes.
Cozinha à la Bulcão
A cozinha passou por uma mudança radical no layout, onde foi ampliada para adicionar mais espaço e assim receber uma península e uma ilha. Com tons claros, o destaque do cômodo são os revestimentos alto-astral que fazem uma releitura da arte de Athos Bulcão, artista brasileiro conhecido pelo uso característico de azulejos e o grafismo com base em cores e formas geométricas. Athos possui obras de arte que enfeitam todos os cantos do Distrito Federal.
O painel e a paginação foram desenhados pelo escritório e executados conforme aprovado pelos moradores. “Os clientes possuem uma conexão muito forte com Brasília, então nós decidimos trazer essa essência por meio dos azulejos, de forma a homenagear um dos maiores artistas plásticos, referência da capital federal”, relata o arquiteto Bruno Moraes.
Pensada no dia a dia dos clientes, a paleta de cores dos revestimentos deixa a rotina de limpeza mais prática ao apontar a sujeira com mais facilidade. Os armários à base de alvenaria não deixam a madeira do móvel ter contato com a umidade. As bancadas receberam quartzo, material de alta resistência a choques, riscos, manchas e marcas de talheres.
Sala de jantar de cerâmica
Integrada com a área social, o espaço que escolhemos para expor a coleção que ressalta a cultura chinesa, combina história e sofisticação ao reunir as cerâmicas chinesas garimpadas pelo casal em vários momentos da vida. Bruno compartilha que o mobiliário é do norte da Europa, mas o que ele quis destacar foi a coleção de cerâmicas chinesas, essas peças serviram de ponto de partida até para definição do papel de parede do espaço, que também apresenta tons de branco e azul, como aos pratos e vasos.
Banheiro principal
O banheiro do casal recebeu uma atenção especial, pois foi inspirada tematicamente nos objetos de estilo cubista que ambos gostariam que ficasse no espaço, então, todo o local foi decorado em função deles. Além da renovação da rede hidráulica, o banheiro recebeu detalhes de peças grandes de porcelanato preto, extremamente alinhados com o piso, forro e demais revestimentos. O mobiliário em laca preta fosca, também, entra em contraste com a bancada branca.
2 em 1: home office e quarto de hóspedes
No quarto de hóspedes, a dupla proposta foi de acolher os visitantes e ainda ser um home office para quando fosse necessário trabalhar em casa. No espaço, a decoração foi mais ‘abrasileirada’ em relação ao restante de casa, visto nos elementos genuinamente brasileiros como a cestaria que reveste parte do mobiliário clean. “A palhinha é um elemento que permite esconder parte da fiação e dos equipamentos sem perder o sinal de captação”, diz Bruno.
Serviço:
(11) 2062-6423
@brunomoraesarquiteturastudio