Opinião: Crise energética a caminho: há saída?

Alysson Diógenes*

 

No momento em que este artigo é escrito, os reservatórios das hidrelétricas do Brasil estão, em média, com 70% de sua capacidade. Isso é bom ou ruim? Péssimo. Em fevereiro de 2023, esses mesmos reservatórios estavam próximos a 95% de sua capacidade. Essa queda brusca de um ano para o outro indica que, ao término do verão – a estação mais chuvosa do ano – os reservatórios ainda não se recuperaram o suficiente. Com a aproximação do inverno, o brasileiro estará mais uma vez em maus lençóis.

O cenário mais provável é que, em abril, as usinas termelétricas sejam acionadas e a bandeira tarifária nas contas de luz seja alterada para amarela, o que resultará em aumento das tarifas para preservar o sistema elétrico como um todo. E, consequentemente, essa bandeira deve mudar para vermelha durante o inverno. Portanto, prepare seu bolso, seja você um consumidor residencial, empresarial ou industrial.

Do outro lado da ponte, as eleições municipais estão se aproximando e políticos de todo o país já estão com seus discursos prontos para falar sobre “reativar a indústria” e “aumentar o emprego”. Bom, este engenheiro que vos escreve faz duas perguntas simples: Isso é realmente possível sem energia? Isso é possível com a energia do preço que pagamos? Como base de comparação, atualmente o brasileiro paga em média 0,164 dólares por kWh, o que pode parecer pouco se comparado aos 0,166 dólares pagos nos EUA. No entanto, há uma pequena diferença: lá, se ganha em dólar. A situação torna-se ainda mais desfavorável quando comparamos com nossos vizinhos. Deixarei a Argentina de fora desta lista, pois lá ainda vigoram muitos subsídios. No Paraguai, por exemplo, o valor é de apenas US$ 0,05; no Equador, US$ 0,09; e no Chile, US$ 0,15. Todos esses países têm tarifas mais baixas que o Brasil, e com um agravante: nenhum deles tem as condições geográficas que o Brasil tem para produzir energia.

Qual seria então a saída? Investir em mais hidrelétricas? Continuaríamos dependentes das chuvas e enfrentaríamos a fúria irracional de ambientalistas que acham melhor queimar diesel a construir novos ter reservatórios. E quanto às termelétricas? São caras e poluentes. E o que dizer das energias eólica e solar? Além de serem extremamente caras, pouco se fala sobre o impacto ambiental do descarte dos materiais utilizados em suas usinas. Duvida? Basta pesquisar “wind turbine cemetery” em seu buscador preferido e ver as imagens do que acontece com as pás das turbinas eólicas nos países onde sua vida útil chega ao fim. Em breve, isso acontecerá também com as placas solares.

Então, qual seria a solução? Do ponto de vista da engenharia, a resposta é simples e instigante. O Brasil possui a oitava maior reserva de urânio do mundo, com potencial para estar entre as cinco maiores. Além disso, detém uma das melhores tecnologias de enriquecimento de urânio e domina o processo de produção dessa energia, sendo capaz de produzir mais energia por metro quadrado do que qualquer outro país. Usinas nucleares de pequeno porte podem produzir grandes quantidades de energia. Vale ressaltar que, antes que a fúria irracional de ambientalistas se manifeste, a energia nuclear não emite gases que contribuem para as mudanças climáticas. Seu principal inconveniente é o rejeito de plutônio, mas o Brasil já possui tecnologia para armazenar esse material de forma segura.

Temos tudo em nossas mãos. O que falta é vontade e foco. Vontade para seguir na direção certa, garantindo energia disponível para indústrias e residências a preços mais baixos. E foco para ignorar opiniões de pessoas que, embora ignorantes no assunto, fazem bastante barulho na imprensa e na política. Sem esses dois elementos, o Brasil continuará sendo o país do futuro, onde todas as condições para ser bem-sucedido estão presentes, mas nunca se concretizam.

*Alysson Nunes Diógenes, engenheiro eletricista, doutor em Engenharia Mecânica, é professor do Mestrado e Doutorado em Gestão Ambiental da Universidade Positivo (UP).

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