Estudos indicam que chance é até oito vezes maior entre as jogadoras e o futebol é campeão nesse tipo de contusão; técnicas cirúrgicas modernas são esperança para recuperação mais rápida
O futebol, esporte mais popular do mundo que costumava ser um espaço quase em sua totalidade masculino, tem visto a presença feminina aumentar com o passar dos anos, contando cada vez mais com grandes nomes na categoria ao redor do globo. Ao longo da trajetória para atingir o sucesso em campo, as jogadoras têm de lidar com muitos obstáculos, dentre eles, as temidas lesões. Um estudo publicado na revista British Journal of Sports Medicine concluiu que atletas mulheres têm duas a oito vezes mais chances de romper o ligamento cruzado anterior (LCA) em comparação aos homens.
De todos os tipos de lesões sofridas por atletas, as contusões nos joelhos são tidas como maior algoz na modalidade feminina. Em 2022, cerca de 60 jogadoras das principais ligas profissionais femininas do mundo foram afastadas dos campos devido a lesões no joelho. “O futebol é o esporte com maior ocorrência de lesões por conta das mudanças de direção. O atleta, que está em alta velocidade, faz uma mudança brusca de direção. Com isso, há uma entorse no joelho, que pode causar a lesão. Muitas vezes, mesmo estando bem aquecido e com um bom trabalho de fortalecimento muscular, o atleta acaba sofrendo esse tipo de rotura”, diz o ortopedista do Hospital São Marcelino Champagnat, William Yousef.
Lidando com a lesão
Tatielle Alyne, atleta de futebol feminino de 19 anos, tem a difícil missão de lidar com uma lesão enquanto corre atrás de seus sonhos no esporte. Na época da lesão, Tatielle mantinha uma agenda regular de treinos cinco vezes por semana, além de frequentar a academia diariamente. No final de 2023, a atleta descobriu uma ruptura de menisco no joelho esquerdo e iniciou o tratamento conservador com fisioterapia. Um mês depois foi realizada uma nova avaliação do caso, na qual recebeu a indicação de que precisaria passar por um procedimento cirúrgico.
“Minha maior preocupação com tudo isso foi justamente o tempo longe dos treinos; no entanto, minha recuperação tem sido muito boa, e tenho evoluído cada dia mais. Acredito que, com minha dedicação, tenho tudo para voltar logo e conseguir retornar com alta intensidade em breve”, comenta a zagueira, que sonha em trilhar uma longa carreira e, um dia, vestir a camisa da Seleção Brasileira.
Evolução das técnicas cirúrgicas
O futebol é um esporte dinâmico e, para os atletas, é essencial minimizar o tempo de recuperação após uma cirurgia, garantindo que o retorno aos gramados permita alcançar o melhor nível físico possível. Diante disso, técnicas minimamente invasivas são empregadas atualmente para facilitar uma recuperação mais rápida e eficaz, possibilitando um retorno mais breve à atividade.
Segundo o ortopedista William Yousef, que também foi responsável pela cirurgia da Tatielle, a técnica adotada para o tratamento dela foi a mais moderna disponível. “A técnica utilizada no caso foi a videoartroscopia, um procedimento minimamente invasivo com recuperação pós-operatória que gira em torno de um mês. Nós inserimos uma microcâmera dentro do joelho, em uma incisão de um centímetro e todo o procedimento é visualizado e realizado por meio de um monitor. Diferente da técnica antiga na qual era necessário realizar a abertura da articulação para correção das lesões, atualmente, sempre que possível indicamos a sutura meniscal, que garante a preservação do menisco”, explica.
O médico acrescenta que uma recuperação de qualidade depende também da dedicação de cada paciente, uma vez que a cirurgia é basicamente a mesma para todos que enfrentam o mesmo problema no joelho. “O que auxilia para otimizar o processo de retorno de um atleta de alto rendimento é a adoção regrada da fisioterapia. É comum que o atleta dedique até oito horas à fisioterapia já no dia seguinte. Ele faz fisioterapia pela manhã, à tarde e à noite. Por isso, a recuperação de um atleta é muito mais rápida. Um tratamento intensivo de recuperação pós-operatória acrescenta muito para uma recuperação mais rápida. A musculatura se recupera melhor e ele vai estar preparado para um retorno às atividades muito tempo antes”, finaliza.