No Dia Internacional das Mulheres na Tecnologia da Informação e Comunicação, celebrado em 25 de abril, surge a oportunidade de refletir sobre a representatividade feminina neste setor. Dados da pesquisa Woman in Technology divulgados em 2021 mostram que menos de 20% dos cargos das áreas de tecnologia no Brasil são ocupados por elas. Em toda a América Latina, essas profissionais ocupam menos de 30% dos cargos de liderança no setor.
Estudos mais recentes mostram que a presença feminina no mercado de Tecnologia da Informação (TI) no Brasil varia entre 20% e 25%, uma proporção que reflete uma disparidade de gênero e um desequilíbrio na representação profissional. Além disso, as mulheres enfrentam uma diferença salarial significativa, ganhando em média 14,7% a menos que homens na indústria de TI no Brasil.
A boa notícia é que as pessoas já perceberam a necessidade de mudança. Dados divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) revelam um aumento notável na participação feminina no setor nos últimos cinco anos, indicando um movimento de inclusão e crescimento.
Para que esse panorama se transforme de fato, é preciso um esforço real das empresas em contratarem mulheres para suas posições disponíveis nos setores de Tecnologia. Qualificadas para tal elas certamente são.
No caminho para a equidade no mercado de trabalho
A igualdade de gênero no local de trabalho não só é possível, como já é realidade em algumas empresas. Uma delas é o frotacontrol, onde as mulheres são metade da força de trabalho, inclusive em posições de chefia em diferentes departamentos.
Uma voz que se destaca nesse panorama é a de Deise de Moraes, desenvolvedora de software no frotacontrol, cuja trajetória revela não apenas os desafios enfrentados por mulheres na área, mas também o potencial transformador que cada uma carrega consigo.
Com uma formação inicial em Administração de Empresas e uma década de experiência no setor financeiro, Deise encontrou sua paixão pela tecnologia ao se deparar com desafios em sistemas digitais durante seu trabalho anterior.
Estas dificuldades iniciais a instigaram a explorar mais a fundo o campo da TI, levando-a a buscar uma segunda graduação, em Análise e Desenvolvimento de Sistemas.
“Decidi dar um passo para trás, me tornando estagiária, para hoje estar uns dez passos à frente”, comemora Deise, destacando a coragem e a determinação necessárias para enfrentar os desafios do novo campo.
Há avanços – mas os desafios continuam
Entre os principais obstáculos enfrentados por Deise e outras mulheres na área, destaca-se a dificuldade inicial de aprender uma nova linguagem de programação e lidar com a sobrecarga de informações que uma troca de funções acarreta.
O medo de fracassar em um ambiente tão diferente do acadêmico também se apresentou como uma barreira a ser superada. No entanto, Deise enfatiza a importância da resiliência diante dos obstáculos. “O segredo é não desistir. Persista, pois tudo isso passa”, afirma.
Quanto à questão da representatividade feminina na tecnologia, Deise acredita que as empresas têm um papel fundamental em estimular a entrada de mais mulheres no setor.
“Desmitificar o tema da tecnologia como sendo algo masculino ou difícil é essencial”, argumenta. A profissional ressalta a importância de difundir histórias de mulheres bem-sucedidas na área, como a de Ada Lovelace, a primeira programadora do mundo.
“Hoje, quando falamos de TI, os nomes que surgem são Bill Gates, Elon Musk, Steve Jobs”, pontua. Para Deise, disponibilizar esse tipo de conteúdo de forma acessível para mulheres pode ser um catalisador poderoso que estimula o interesse e a participação delas na tecnologia.
Há luz no fim do túnel
Nos últimos 5 anos, a representatividade feminina no mercado de TI brasileiro cresceu 60%. Isso significa que cada vez mais mulheres estão ocupando cargos na área. O número de profissionais femininas ingressando em cursos de tecnologia também está crescendo. Em 2022, 47% dos ingressantes em cursos de Ciência da Computação no Brasil eram mulheres.
Além disso, elas estão se destacando como empreendedoras no setor de inovação, criando startups e indo além dentro de um mercado tido majoritariamente como masculino. Diversas empresas e instituições estão criando programas de incentivo para aumentar a participação feminina na área de TI, como bolsas de estudo, treinamentos e eventos de networking.
Ações para dar maior visibilidade às mulheres que já atuam na área de TI, como premiações e campanhas de marketing, são cada vez mais frequentes. Há um crescente combate à discriminação de gênero no mercado de trabalho, com leis e políticas públicas que protegem os direitos das mulheres.
É importante lembrar que diversidade e inclusão são tópicos de governança que devem estar cada vez mais presentes em qualquer segmento, agregando valor à empresa e ajudando com o desenvolvimento sustentável das melhores práticas de ESG.
Portanto, embora a igualdade de gênero e salários ainda não seja uma realidade em todas as empresas, é imprescindível que se reconheça os avanços já feitos. Assim, eles podem impulsionar outras mudanças futuras.
Deise deixa um conselho para as jovens mulheres que desejam se estabelecer na área: “Se você tem vontade e medo, venha com medo mesmo, porque passa”. Ela enfatiza a importância da dedicação, do comprometimento com os estudos e da persistência como ingredientes essenciais para o sucesso na tecnologia.
Neste cenário, é essencial que empresas e sociedade como um todo trabalhem juntas para criar um ambiente mais inclusivo e igualitário, onde o talento e a capacidade sejam reconhecidos independentemente do gênero.
A celebração do Dia Internacional das Mulheres na Tecnologia da Informação e Comunicação é uma oportunidade de reconhecer as conquistas das mulheres neste campo, mas também de reafirmar o compromisso com a construção de um futuro mais diversificado e equitativo.