Pesquisa mostra que a participação de trabalhadores com 40+ chegou a 44,1% no segundo trimestre de 2024
Mesmo em meio às dificuldades econômicas intensificadas pela pandemia, o mercado de trabalho brasileiro registra um crescimento na participação de profissionais com mais de 40 anos. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que essa faixa etária passou de 42,9% no quarto trimestre de 2019 para 44,1% no segundo trimestre de 2023, representando um aumento de 1,7 milhão de pessoas. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que 57% da força de trabalho no Brasil será composta por indivíduos com mais de 45 anos até 2040.
Segundo o consultor de carreira e negócios da ESIC Internacional, Alexandre Weiler, as empresas estão percebendo que a maturidade dos profissionais 40+ é uma vantagem competitiva. “Diferente dos profissionais mais jovens, os 40+ já enfrentaram diferentes crises e têm uma habilidade natural de adaptação que os mais jovens ainda não adquiriram, sendo esse um ponto importante quando olhamos para dentro das organizações modernas. Além disso, a inclusão de profissionais mais maduros é uma oportunidade de trazer equilíbrio para as equipes e melhorar a performance da empresa”, afirma.
Fatores por trás do envelhecimento da força de trabalho
O aumento da longevidade, a queda nas taxas de natalidade e as recentes mudanças nas regras de aposentadoria são alguns dos fatores que explicam esse fenômeno. Segundo projeções do IBGE, até 2060, um quarto da população brasileira terá mais de 65 anos. Além disso, a reforma da Previdência introduziu a necessidade de permanecer mais tempo no mercado de trabalho, e a crise econômica tem levado muitas pessoas a buscarem uma renda complementar. “Com o envelhecimento da população brasileira, torna-se imperativo que o mercado de trabalho se adapte para incluir e valorizar os talentos maduros, garantindo que a experiência e a sabedoria desses profissionais contribuam para o desenvolvimento econômico e social do país. Além disso, é possível notar que as empresas enfrentam dificuldades na retenção de jovens qualificados, especialmente em áreas como tecnologia. Isso tem forçado muitas delas a reconsiderar os profissionais mais velhos, que oferecem resiliência e experiência acumulada, duas características essenciais para enfrentar períodos de instabilidade econômica, como o que estamos vivendo”, explica o consultor.
Ainda que a valorização dos profissionais mais maduros esteja acontecendo, ela não acompanha a velocidade do envelhecimento da população. Pesquisa do InfoJobs, realizada em 2021, que revelou que 70% dos profissionais com mais de 40 anos relataram ter sofrido preconceito etário em processos seletivos ou no ambiente de trabalho. “Esse fenômeno, conhecido como etarismo, ainda representa um grande obstáculo para a inclusão plena de talentos 40+. No entanto, algumas grandes organizações já estão se movimentando para corrigir essa miopia”, afirma Weiler.
Diversidade etária: um diferencial estratégico
Apesar das dificuldades, um estudo da Deloitte, realizado com 215 empresas, revelou que 25% dessas companhias já possuem grupos de afinidade voltados para profissionais com mais de 50 anos, e 37% desses grupos foram criados em 2021. Além disso, 34% das empresas que ainda não têm uma estratégia voltada para a diversidade etária planejam adotar ações nesse sentido nos próximos dois anos. “O preconceito etário é uma barreira que ainda precisa ser quebrada, mas já estamos vendo sinais positivos de mudança. Empresas que adotam políticas de diversidade etária estão percebendo um aumento na inovação e na capacidade de resposta às demandas do mercado”, reforça o consultor.
Embora ainda haja um longo caminho a ser percorrido, algumas empresas começam a reconhecer que a diversidade etária é um diferencial estratégico, especialmente em tempos de incertezas. “Há uma vertente ainda míope, mas há empresas saindo na frente com ações concretas que vão torná-las mais preparadas para a mudança demográfica. Diversidade traz inovação, e isso começa a ser estratégico Essas iniciativas não apenas ajudam a combater o preconceito, mas também tornam as empresas mais competitivas, à medida que profissionais experientes contribuem com sua capacidade de adaptação e sua visão de longo prazo, promovendo um ambiente de trabalho mais equilibrado e produtivo”, afirma.
Weiler reforça que com o envelhecimento da população brasileira, é essencial que o mercado de trabalho se adapte para incluir e valorizar os talentos maduros, garantindo que a experiência e a sabedoria desses profissionais contribuam para o desenvolvimento econômico e social do país. “Não se trata apenas de inclusão por justiça social, mas de uma estratégia de negócios. Empresas que souberem aproveitar a diversidade etária estarão mais bem posicionadas para enfrentar os desafios futuros”, finaliza.