Especialista destaca os quadros em que o procedimento é indicado e o funcionamento do método para evitar partos prematuros e abortos
Nos últimos meses, diversas celebridades como Eliana, Nadja Haddad e Ary Mirelle se pronunciaram sobre um tema relevante para muitas gestantes: a cerclagem uterina. Com o objetivo principal de prevenir o parto prematuro e o aborto em mulheres que têm uma condição conhecida como incompetência istmocervical, o procedimento, embora recomendado para algumas pacientes, ainda é pouco conhecido pela maioria. O chamado Novembro Roxo, que realiza a campanha internacional de sensibilização sobre a prematuridade, e o compartilhamento do relato dessas mulheres auxilia na visibilidade ao tema e sobre a importância do tratamento, que pode ser vital para evitar complicações graves durante a gestação.
No Brasil, uma média de 3 em cada 10 gestações terminam em aborto, de acordo com estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS). Vicente Letti Junior, ginecologista do Pilar Hospital, explica que, na maioria dos casos, a causa é genética. No entanto, quando o cenário é repetitivo, o quadro passa a ser chamado de abortamento habitual, que é quando, segundo o médico, se inicia o processo de investigação de casos de incompetência istmocervical.
O nome do quadro se origina no conjunto da região do istmo, que pode sofrer um enfraquecimento durante a gestação, e do colo uterino, também chamado de cérvice, que pode apresentar encurtamento. “Quando a mulher engravida, o volume uterino aumenta por causa do bebê, da placenta, do líquido amniótico e das membranas. Assim, o útero fica mais ‘pesado’ e a musculatura que deveria manter a gestação, acaba cedendo por conta da gravidade”, explica. A condição, que pode ser uma característica natural da mulher, também pode ser oriunda de procedimentos feitos ao longo da vida, como uma curetagem, um parto normal, uma cesariana e, até mesmo, por infecções.
O diagnóstico pode ser feito por meio de ultrassonografias realizadas durante o pré-natal e, por ser uma condição que pode ocorrer sem sintomas evidentes, é fundamental que as gestantes realizem exames regulares para monitorar a saúde do colo uterino. Assim que verificado o quadro, o tratamento – chamado de cerclagem uterina – consiste em pontos cirúrgicos que são feitos, na maioria das vezes, via vaginal para estreitar o colo do útero e prolongar a gestação até as semanas finais para o desenvolvimento completo do bebê.
“É importante que o diagnóstico e a intervenção sejam realizados o mais cedo possível para uma gestação segura. O tratamento pode ser feito antes da gravidez, mas normalmente é realizado logo no início da gestação. O ideal é que seja feito entre 8 e 12 semanas”, afirma Letti Junior. No caso da apresentadora Eliana, a cirurgia foi feita na 11ª semana de gravidez da sua filha caçula, Manuela. Nadja Haddad, também apresentadora, fez a cerclagem em sua gestação gemelar. Já Ary Mirelle, influenciadora digital, realizou a intervenção de forma emergencial, com 27 semanas de gestação, para evitar o rompimento da bolsa.
Por ser um procedimento de rápida recuperação, a cerclagem uterina permite que as gestantes retomem as atividades do dia a dia cerca de um mês após a alta. “Cada caso é um caso, mas desde que seja feito na época correta, com a técnica correta e que não tenha outras intercorrências, a recuperação é tranquila. Se dentro de um mês correr tudo bem, é uma vida praticamente normal”, conta o ginecologista.
No entanto, a cerclagem uterina não é indicada para todas as mulheres. A decisão de realizar a cirurgia deve ser baseada em uma avaliação médica detalhada e considerar fatores como o histórico de gravidez da paciente e outros riscos. Letti Junior destaca que o procedimento não deve ser imposto, mas sim realizado a partir de uma decisão da mulher, embasada em orientações corretas e com o acompanhamento de um especialista. Com informações e diagnóstico adequados, muitas mulheres podem garantir uma gestação saudável e bem-sucedida.
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