Mulheres e pessoas abaixo de 60 anos vivem menos após infarto, mostra estudo

Resultados mostram que esses grupos têm um risco relativo mais alto de morte ao sofrer um ataque cardíaco e, portanto, maior perda de expectativa de vida em anos

Mulheres e pessoas abaixo de 60 anos vivem menos  após infarto, mostra estudo

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Mulheres perdem mais anos de vida após um infarto do que homens, mostra um estudo publicado no periódico científico Circulation, feito por pesquisadores do Instituto Karolinska, na Suécia. Segundo a pesquisa, um ataque cardíaco aos 50 pode encurtar a vida da mulher em até 11 anos, já um homem que infarta aos 80 pode viver apenas cinco meses a menos do que sua expectativa de vida.

Os autores chegaram ao resultado após analisar dados de cerca de 335 mil suecos que sofreram infarto no período de 1991 a 2022, a partir de um registro nacional chamado SWEDEHEART. Eles foram separados em grupos de acordo com o sexo e a idade (abaixo de 60 anos, entre 60 e 75 anos e acima de 75 anos). Os autores também compararam os participantes com mais de 1,5 milhão de pessoas que não tiveram problemas cardíacos. Uma análise estatística cruzou as informações considerando ainda fatores como renda, educação e comorbidades.

Os resultados mostram que pessoas com menos 60 anos e mulheres no geral têm um risco relativo mais alto de morte ao sofrer um ataque cardíaco e, portanto, maior perda de expectativa de vida em anos.

O infarto é uma consequência de várias condições que envolvem doenças crônicas (diabetes, hipertensão e obesidade), estilo de vida (consumo de álcool, tabagismo, sedentarismo e sono de má qualidade) e aspectos pessoais e genéticos (como sexo, idade e antecedentes familiares). Ele afeta a expectativa de vida tanto pela presença dos fatores de risco em si quanto pelas sequelas que pode gerar, como insuficiência cardíaca e arritmias.

O fator da idade

Para a cardiologista Juliana Soares, do Hospital Israelita Albert Einstein, o estudo reforça o que as evidências mostram. “Sabe-se que um infarto em um paciente jovem tende a ser mais grave e, consequentemente, com maior impacto na mortalidade e expectativa de vida”, afirma.

Ela explica que isso acontece, em parte, porque pessoas com menos de 50 anos ainda não desenvolveram uma proteção conhecida como “circulação colateral”, que são pequenos vasos sanguíneos formados no coração para compensar a falta de irrigação causada por uma artéria entupida. Essa circulação auxiliar tende a se formar ao longo da vida em quem tem fatores de risco e aterosclerose – a formação de placas que entopem as artérias.

Além disso, infartos pessoas mais novas também podem decorrer de condições genéticas, como a miocardiopatia hipertrófica, e do uso e abuso de substâncias como a cocaína, o que também impacta negativamente o prognóstico.

Segundo a especialista, atualmente os números sugerem um aumento de problemas cardíacos em jovens em relação a décadas passadas devido, principalmente, a questões como má alimentação, sedentarismo e estresse. “Os jovens não estão imunes a um infarto, mas muitos ainda pensam que essa é uma doença de pessoas mais velhas”, diz Soares. Por isso, manter os fatores de risco sob controle pode atenuar esse impacto na mortalidade.

Particularidades femininas

Nas mulheres — principalmente as mais novas — costuma haver uma sucessão de erros na cadeia de prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças cardiovasculares agudas. Isso acontece porque elas têm com maior frequência fatores de risco como estresse, depressão, doenças autoimunes (como lúpus e artrite reumatoide, que são mais frequentes no sexo feminino) e ainda podem sofrer com sequelas de tratamentos para condições como o câncer de mama.

Além disso, as mulheres não costumam apresentar os sintomas clássicos de um infarto, a exemplo da dor no peito. Nelas, as manifestações incluem cansaço, falta de ar e uma dor de difícil caracterização, o que pode retardar o diagnóstico e o tratamento adequado, agravando o quadro.

Muitas vezes, os próprios profissionais de saúde podem acabar ignorando os sintomas e subdiagnosticando determinadas comorbidades e mulheres, deixando de prescrever o tratamento adequado. Isso contribui para aumento de mortalidade e queda de expectativa de vida entre elas.

“De um modo geral, as mulheres têm menos acesso a exames de rotina do coração que permitiriam diagnosticar e tratar fatores de risco como diabetes, colesterol alto e hipertensão arterial. Esses problemas ficam, então, escondidos por décadas, até que desembocam em uma síndrome coronariana aguda, o infarto”, analisa a cardiologista. “Naquelas em situação de vulnerabilidade social, isso é ainda mais intenso.”

De fato, as condições socioeconômicas fazem toda a diferença nos desfechos das doenças cardíacas agudas. “Isso significa ter mais acesso ao tratamento de condições crônicas de saúde, a uma boa alimentação, maior conscientização sobre benefícios da atividade física, mais atenção acerca de sintomas e maior acesso a serviços de saúde, tanto para o controle dos fatores de risco quanto para o manejo de condições graves”, explica a Juliana Soares.

 

Fonte: Agência Einstein

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