Fluidez e naturalidade se destacam na arquitetura inspirada nas formas orgânicas

Para as arquitetas do escritório Memoá Arquitetos, a referência é um caminho interessante para os projetos residenciais tanto em função da estética, como pela sustentabilidade e o bem-estar emocional e mental

Incorporar curvas suaves em paredes, tetos e mobiliário contribui para adicionar as sensações de movimento e conforto visual, como nesse apartamento assinado pelas arquitetas Daniela Miranda e Tatiana Galiano | Projeto do escritório Memoá Arquitetos | Foto: Raiana Medina

Em um valioso contraste com as formas geométricas, a organicidade segue aumentando o seu espaço nos projetos de arquitetura. No lugar dos adornos manifestados pelas linhas retas, ângulos bem definidos e com o conceito da simetria acima de tudo, os traços arredondados conquistam pela proposta antagônica que enfatiza a autenticidade, formatos curvilíneos e fluidez.

De acordo com as arquitetas Daniela Miranda e Tatiana Galiano, à frente do escritório Memoá Arquitetos, essa ode ao orgânico está intimamente ligada aos parâmetros de biophilic design, que busca recriar a conexão dos seres humanos com a natureza em ambientes construídos.

A natureza não é reta e se revela sempre viva, torneada e fluida e essas referências se expressam como um meio efetivo de transformar e conceber espaços capazes de refletir, além de personalidade e estilo, ingredientes adicionais de conforto, vitalidade e acolhimento na assimetria que somente pode ser descrita através dessas curvas”, salienta a dupla carioca com escritório em São Paulo.

Toque diferente

Em primeiro lugar, elas começam explicando sobre a ligação do orgânico com os padrões, linhas e contornos que se assemelham aos encontrados na natureza e caracterizados pelas curvas suaves, contornos irregulares e semelhança imperfeita. “Todos esses atributos são muito bem aproveitados na arquitetura, seja no design de mobiliários, revestimentos, estruturas ou outros elementos decorativos”, diz Tatiana Galiano.

Historicamente, o uso do orgânico surgiu no final do século 19 em movimentos artísticos e filosofias de design que valorizavam a integração do ecossistema com o ambiente de vivência, tendo como principais influências o Art Nouveau e o Modernismo e ressaltando o uso de aparências curvilíneas na arquitetura, design, arte e artesanato. Inclusive, Daniela Miranda conta ainda que foi nesse mesmo período que o designer Charles Eames se destacou, sendo lembrado até hoje pelos icônicos modelos de cadeiras e poltronas que levam seu nome.

Com uma compreensão profunda da ergonomia e da relação entre aspecto e função, Eames deixou criações orgânicas que inspiram designers e entusiastas do design em todo o mundo. Ponto alto de suas produções, ele empregava curvas suaves e formas orgânicas que se adaptam naturalmente ao corpo humano | Projeto do escritório Memoá Arquitetos | Foto: Monica Assan

Com o tempo, uma tendência se desenvolveu em resposta ao desejo de possuir algo mais natural e diferente em meio a um mundo cada vez mais urbanizado e industrializado. A busca por esses ambientes mais acolhedores e inspiradores levou ao ressurgimento da organicidade, principalmente após a pandemia, período em que as Daniela e Tatiana consideram que houve uma ressignificação dentro do lar. “Aconteceu uma espécie de novo acolhimento quando nos voltamos muito mais para a nossa casa do que para a rua”, avaliam.

Desafios

Para todo espaço decorado, a necessidade de acessórios que adicionam uma pitada extra de personalidade é vital e com a versatilidade do design orgânico é possível contar com essa aplicação desde as maneiras mais habituais até as mais relevantes, porém sempre existe um ‘mas’. “Como qualquer outra estética, é fundamental evitar os excessos e nesse caso não é diferente. A arquitetura de interiores exige seus equilíbrios, uma vez que o exagero acarretará em um prejuízo maior e a residência pode ficar obsoleta”, avisa Tatiana Galiano. Para ela, a combinação dos elementos comuns com os mais interessantes é o que torna o ambiente convidativo e acolhedor, onde as curvas desempenham protagonismo na criação de uma atmosfera inspiradora.

Nessa sala de jantar, a combinação da mesa de jantar com as cadeiras e luminárias se destaca na execução assinada pelas arquitetas Daniela Miranda e Tatiana Galiano | Projeto do escritório Memoá Arquitetos | Foto: Raiana Medina

Outro obstáculo pertinente está ainda na parte construtiva e Daniela explica que na inclusão de um componente arquitetônico arredondado, é difícil que se obtenha um resultado exatamente igual ao desenhado à mão livre. “Para tanto, entendemos que a assertividade é fruto de um desenho técnico matemático que nos indique o meio certo para essa realização”, diz a arquiteta.

Aplicações no décor

A dupla do Memoá Arquitetos reuniu algumas inspirações:

  • Mobiliário:
Utilizando móveis e acessórios com designs modulares que se encaixem de maneira eficiente no espaço disponível, como evidenciado nessa combinação de salas de estar e jantar elaboradas pelas arquitetas Daniela Miranda e Tatiana Galiano | Projeto do escritório Memoá Arquitetos | Foto: Raiana Medina

Os móveis estão entre os aliados mais comuns, pois praticamente todo tipo possui um portfólio de modelos orgânicos: sofás, poltronas, mesas, cadeiras, camas, cabeceiras e armários. Seja em ambientes grandes ou pequenos, sua utilização entrega diferentes efeitos positivos para o décor.

Em livings, onde não há um grande espaço de circulação, mesas de centro orgânicas cooperam na fluidez e em salas grandes também propiciam um toque dinâmico no visual. O mesmo se aplica para outros cômodos como salas de jantar, varandas, dormitórios e cozinhas e outro ponto positivo está atrelado à segurança pela inexistência de quinas”, apontam as arquitetas do escritório.

  • Acessórios de decoração:
Na imagem à esquerda, o quadro decorativo emula ondas do mar em um vermelho intenso, enquanto à direita o pendente assemelha-se à uma nuvem do céu | Projeto do escritório Memoá Arquitetos | Foto: Carolina Lacaz e Divulgação

Esculturas, vasos, luminárias e objetos de arte podem ser usados para criar pontos focais interessantes e agregar textura e movimento. Entretanto, devem estar alinhados com o estilo geral do espaço. Assim, peças em madeira, ferro ou cerâmica se encaixam melhor na estética industrial ou rústica, enquanto peças suaves e simples combinam com orientações mais modernas e minimalistas. “Luminárias pendentes com design orgânico ou esculturas de parede tridimensionais entregam uma dimensão escultural aos espaços”, indica Daniela.

  • Tapetes:
Um tapete em configuração orgânica precisa apresentar o tamanho adequado para o espaço em que será colocado e levar em conta a proporção do ambiente e a disposição dos móveis. Com isso, suavizará as linhas retas e conceberá uma transição suave entre diferentes áreas | Projeto do escritório Memoá Arquitetos | Foto: Divulgação

Definitivamente, a tapeçaria é uma vertente a qual as profissionais do escritório mais optam, haja vista as possibilidades se ampliam com formas e cores variadas para receberem verdadeiras obras de arte no chão, diferentemente dos quadrados e retângulos já saturados na maioria dos ambientes.

De maneira geral, os tapetes se apresentam em curvas suaves, traços sinuosos e padrões inspirados na natureza como folhas, flores ou ondas. “Versões em lã, algodão ou fibras naturais são mais indicadas para o dia a dia”, sugere Tatiana.

  • Espelhos:
Neste projeto, a inclusão de diversos itens orgânicos e de cores vivas tem mais a ver com o conceito de bem-estar. “A escolha selecionada, além do tipo de cores e formas, está diretamente ligada à dopamina e a alegria do casal de moradores”, compartilham as arquitetas Tatiana Galiano e Daniela Miranda | Projeto do escritório Memoá Arquitetos | Foto: Carolina Lacaz

Queridinhos da casa, os espelhos entram em cena em combinações diversas, tais como através de molduras com contornos irregulares, os esculturais adquiridos em lojas ou mesmo com uma composição de peças. As profissionais só alertam para as formas de instalação e cobrimento das curvas visando uma maior segurança da casa.

·         Materiais naturais:

Revestimentos orgânicos são possibilidades sustentáveis no mercado, principalmente aqueles oriundos de materiais naturais renováveis como madeira, bambu e cortiça. Isso se dá pelo baixo impacto ambiental, a biodegradação e a melhoria na qualidade do ar | Projeto da Memoá Arquitetos | Foto: Raiana Medina

Revestimentos texturizados como papéis de parede com padrões orgânicos ou azulejos com formas curvilíneas são os mais inovadores na arquitetura de interiores e podem transformar completamente a aparência de uma parede ou piso. “Nós gostamos de utilizar o seixo para acrescentar um certo dinamismo para mobiliários personalizados ou banheiros do tipo spa. Também apreciamos as pedras naturais, painéis de madeira e pastilhas”, concluem Daniela e Tatiana.

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