A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um dado alarmante sobre o Brasil: somos o país mais ansioso do mundo. Segundo a OMS, 18 milhões de brasileiros, ou 23% da população, sofrem com a ansiedade. A incidência em crianças também é preocupante. Estima-se que o distúrbio de ansiedade afete em torno de 1% a 3% da população entre 0 e 17 anos, o que equivale a 8 milhões de crianças e adolescentes.
A ansiedade é um transtorno psicológico caracterizado pela predominância dos sentimentos de preocupação e urgência em resolver determinadas questões a ponto de afetar as atividades diárias. Tanto em adultos como em crianças, o fator que desencadeia a ansiedade podem ser os mesmos, como separações, morte de um ente querido, abandono, abusos físicos, psicológicos ou sexuais, mudanças na rotina, entre outros gatilhos. Para a psicopedagoga Deyse Campos, os fatores que mais impactam na ansiedade em crianças é o ritmo atribulado de vida que os pequenos levam, muitas vezes com responsabilidades acima do que a idade permite, além do relacionamento familiar e o bullying.
Deyse Campos acredita que a terapia pode ajudar nas crianças a superarem a ansiedade e impedir que o transtorno permaneça na vida adulta. “A terapia é muito eficaz para reconhecer os esquemas de ação. Outra alternativa para lidar com a ansiedade é ajudar as crianças a identificar o que a desencadeia. É alguma coisa na escola? É algum problema com os pais? Muitas vezes as crianças têm dificuldade em saber qual é o gatilho”, explica a especialista em educação. Segundo ela, as crianças lidam de forma diferente com a vida, têm outro ritmo e não estão acostumadas ou preparadas para gerenciar as cobranças que mesmo um adulto tem dificuldade em lidar.
“Crianças maiores de seis anos já conseguem verbalizar melhor o que estão sentindo. Nesta idade vale sentar e fazer uma lista daquilo que precisa ser organizado para que ela seja mais feliz. Outro conselho que dou aos familiares de crianças ansiosas é não estimular comportamentos que desencadeiam o distúrbio. Um bom exemplo são as viagens em família. Se a criança é ansiosa e sabe que uma viagem vai acontecer em dois, três meses, vale montar um calendário e estimular a conversa sobre tudo o que vai acontecer até lá, o que vão fazer juntos, passo a passo”, diz Deyse. “Nunca escondam um compromisso com receio de deixar a criança ansiosa, isso é pior”.
Outra dica é que os pais entendem o real motivo da ansiedade. Nem todas as crianças costumam dizer o que se passa na escola, geralmente aquelas que sofrem bullying tendem a se fechar. Neste momento é preciso que os pais olhem com atenção, conversem e, se for o caso, agendem uma conversa com os professores ou psicólogos da escola.
“Com as crianças é preciso organizar os pensamentos e ajuda-las a nomear possíveis emoções. Ensiná-las a antever as consequências e mostrar que a ansiedade faz parte, devemos sentir, mas não devemos ficar paralisados ou com medo do que pode acontecer”, enfatiza Deyse. “A pior coisa que os pais e familiares podem fazer é a negação. Negar que a criança está sentindo ansiedade não elimina o sentimento. Aprender a lidar com este distúrbio de forma saudável e real é o segredo para combater o quadro de ansiedade”, finaliza.
emilia