Médicos do mundo todo passaram a contar neste ano com um novo consenso global para o tratamento da urticária. O ‘guideline’ é uma orientação conjunta da Seção de Dermatologia da Academia Europeia de Alergologia e Imunologia Clínica (EAACI) – rede de excelência financiada pela União Europeia –, da Rede Global de Alergia e Asma Europeia (GA²LEN), do Fórum Europeu de Dermatologia (EDF) e da Organização Mundial de Alergia (WAO). Ao todo, 42 sociedades das mais diversas partes do planeta participaram da votação que levou à redação final do documento, além de especialistas credenciados pela GA²LEN. Somente tópicos com mais de 90% de concordância foram incluídos.
De acordo com a médica alergologista Dra. Roberta Jardim Criado, que coordena o Ambulatório de Urticária e Alergia a Drogas da Faculdade de Medicina do ABC – o primeiro centro brasileiro certificado pela GA²LEN como UCARE (Urticaria Center of Reference and Excellence) –, a grande mudança neste novo consenso está no uso das medicações, em especial do imunobiológico omalizumabe. “O consenso manteve o uso de anti-histamínicos como ponto de partida do tratamento, assim como a elevação das doses em até quatro vezes, de acordo com a resposta do paciente e o efetivo controle da doença. O que muda agora é que, para os casos que não respondem a esse tratamento inicial, a terapia adicional deve ser feita com o omalizumabe”, explica a especialista, que detalha. “Até então, ficava a critério do médico o uso do omalizumabe, de ciclosporina ou de outras drogas como terapia adicional. Agora não. Pelo valor das evidências científicas, após o aumento em quatro vezes da dose de anti-histamínicos, o omalizumabe é o próximo passo como terapia adjuvante. Somente em casos refratários ao omalizumabe deve-se entrar com a ciclosporina”.
Segundo a especialista, as demais medicações disponíveis, como metrexato, dapsona e cloroquina, por exemplo, podem ser bastante úteis no tratamento da urticária, mas não apresentaram níveis suficientes de evidência para entrar no consenso e só devem ser usadas em casos de insucesso da terapia recém-padronizada.
CONSENSO BIENAL
O consenso para o tratamento de urticária é realizado a cada dois anos e normalmente ocorre em Berlim, na Alemanha. Antes da votação, os especialistas recebem texto preliminar para avaliação individual dos níveis de evidência do que será colocado em votação. Todos os artigos científicos relacionados e demais materiais utilizados na elaboração do texto também são anexados e encaminhados.
O guideline é definido por especialistas do mundo todo. Cada sociedade participante indica seu representante. Também votaram representantes de todos os centros de urticária certificados pela GA²LEN como UCARE – hoje são 46 UCAREs no mundo, sendo oito no Brasil.
CONTROLE DA DOENÇA
O aumento da dose dos anti-histamínicos e a necessidade da terapia adjuvante com omalizumabe dependem do controle da doença, que deve ser feito a partir de alguns instrumentos, como questionários que o paciente preenche, registrando diariamente a atividade da urticária, com graduações do número de urticas e da intensidade da coceira. “É um método bem fácil de fazer e muito prático. Todos os pacientes estão aptos. Esse tipo de ferramenta, somada à avaliação física e aos relatos do paciente, permite que o médico avalie com precisão o controle ou não da doença, para definir a manutenção ou aumento das doses dos medicamentos, assim como a indicação de novas drogas”, acrescenta Criado.
URTICÁRIA
Cerca de 20% da população apresenta urticária pelo menos uma vez na vida e 0,5% desenvolverá a urticária crônica. Trata-se de doença de pele extremamente comum, que forma vergões ou urticas (como uma mordida de inseto), que podem ocorrer em conjunto com inchaço nos olhos, lábios e, em alguns casos, na região da garganta (edema de glote). Os principais sintomas são coceira no corpo todo e lesões avermelhadas que desaparecem geralmente em 24 horas e voltam repentinamente, podendo sumir em poucas semanas ou levar anos para desaparecer.
A doença é mais frequente em adultos, mas também pode aparecer em crianças. Responsável por muitos aborrecimentos e pela perda de qualidade de vida, a urticária também prejudica o sono e, muitas vezes, faz com que o paciente não consiga desenvolver atividades do dia-a-dia, como trabalhar ou frequentar a escola, devido ao grande incômodo e a coceira.
“Entre as principais causas da urticária aguda, que dura menos de 6 semanas, estão a alergia a medicamentos, as infecções virais e a associação entre medicamentos e infeções virais. Já as urticárias crônicas, que duram mais de 6 semanas, não têm causa específica e, na maioria das vezes, são espontâneas. Também existem as urticárias induzidas, relacionadas ao frio, calor ou exercícios físicos, por exemplo. Os alimentos, ao contrário do que muitos imaginam, estão entre as causas mais raras para o aparecimento da doença”, detalha a médica alergologista e coordenadora do Ambulatório de Urticária e Alergia a Drogas da FMABC, Dra. Roberta Jardim Criado.
Para determinar o tratamento, inicialmente é feita avaliação clínica, seguida de exames complementares. Raramente há necessidade de testes de alergia. Com o diagnóstico, a terapia é à base de anti-histamínicos e outros medicamentos, conforma a resposta de cada paciente. “O diagnóstico preciso da urticária e o tratamento adequado contribuem muito para a melhora dos sintomas. Dessa forma, é importante procurar um especialista logo nos primeiros sinais da doença”, recomenda Dra. Roberta Criado.
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