Grandes invenções e o progresso

José Pio Martins*

 

De vez em quando retornam as discussões sobre quais invenções, ou inovações, tiveram maior impacto sobre o aumento da produção, da produtividade (produto por hora de trabalho) e do bem-estar da população. Algumas são unanimidades. É o caso da agricultura, que, descoberta há 10 mil anos, libertou a humanidade da vida nômade (mudança constante de local em busca de alimentos) e ampliou enormemente as possibilidades de bem-estar social.

Outra ação humana revolucionária que impactou profundamente a produção e o comércio foi a domesticação do cavalo, ocorrida há 6 mil anos nas estepes da Ucrânia, sudoeste da Rússia e Cazaquistão. O cavalo viria a se tornar importante meio de transporte de homens e cargas, fazendo que a vida humana melhorasse substancialmente. Nessa galeria, outra invenção decisiva para o progresso foi o papel. Inventado por Cao Lun em torno do ano 105 antes de Cristo e feito com fibras vegetais, o papel teve enorme efeito no desenvolvimento econômico e social.

Em 1455, Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg criou uma das maiores contribuições para o mundo: a imprensa. A tipografia tornou possível que os textos, antes manuscritos, fossem impressos por “tipos” – letras móveis produzidas em cobre e fixadas em uma base de chumbo, que recebiam a tinta e eram prensadas no papel. Esse invento, ao lado de outros, promoveu uma revolução tão grande que a essa época convencionou-se chamar de “Renascimento”. E a vida do homem nunca mais foi a mesma.

No mundo moderno, uma invenção genial foi a máquina a vapor, sobretudo por estar na base da Revolução Industrial (1760-1830) e no aumento expressivo da produtividade. A máquina a vapor deu os primeiros passos em 1698, quando Thomas Savery, engenheiro militar inglês, criou um motor para ser utilizado dentro das fábricas. Depois veio Thomas Newcomen, em 1712, com uma nova máquina que poderia ser utilizada dentro de minas de carvão.

Porém, a mais fantástica revolução nos processos produtivos veio com a invenção, por volta de 1870, da energia elétrica tal qual a conhecemos hoje. E a humanidade seguiu fazendo maravilhas com sua inteligência. O telefone (1876), o rádio (1920), a telefonia celular (1973), a internet (1989), além de muitos outros em várias áreas, sobretudo na cura de doenças. Atualmente, há milhares de invenções e inovações em curso, das quais quase nada sabemos, que vão revolucionar radicalmente a vida humana nas próximas décadas.

Enquanto tantas inovações estão acontecendo no mundo, nós, no Brasil, passamos os dias bombardeados por uma avalanche de notícias e desgraças morais produzidas nas estruturas e nas instituições de Estado, instituições essas que deveriam cuidar das bases para o progresso da ciência, da moral e do bem-estar social. Com tanta evolução ocorrendo no exterior, fora no campo da ciência e da tecnologia, o Brasil está gastando tempo, energia e dinheiro do povo com desmandos e as misérias do poder e da política.

Nos estudos comparativos internacionais, o desempenho do Brasil na educação, na ciência e na tecnologia é pífio, fraco. E as últimas estatísticas mostram algo pior: o Brasil nem gasta pouco com educação; gasta absurdamente mal. Isto é, o país faz as coisas malfeitas ou por falta de dinheiro ou, quando põe dinheiro, por ineficiência, corrupção e inchaço de burocracias estatais. Há momentos em que cabe perguntar: será que, se o sistema estatal brasileiro tivesse 50% a mais de dinheiro, a educação básica, a saúde e a pesquisa não continuariam sendo quase tão ruins quanto são hoje? A questão está aberta, em busca de resposta.

 

*José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.

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