A maternidade perfeita

Leide Albergoni*

A gravidez nรฃo ocorre quando planejamos, engordamos mais do que o recomendรกvel, o parto nรฃo รฉ como esperamos. Nem todas conseguem amamentar, a introduรงรฃo alimentar รฉ difรญcil. Dormir a noite toda nunca mais. A maternidade frustra nossas expectativas, coloca em cheque nossa capacidade. A executiva mais competente se sente impotente diante do choro intermitente e difรญcil de interpretar. A professora que administra uma turma com 50 alunos nรฃo sabe como lidar com um รบnico serzinho. A mulher mais calma e racional chora e se sente culpada ao descobrir que o choro era fome ou calor. Nenhum desafio profissional se compara ao desespero de ver o bebรช se engasgando, a assadura que nรฃo sara, um resfriado a cada 2 dias, o primeiro tomboโ€ฆ

E as crรญticas? Bem intencionadas, claro! Se voltamos a trabalhar, a crianรงa quase nรฃo vรช a mรฃe. Se deixamos de trabalhar, por que abandonar a carreira para cuidar do filho? Vai para a creche tรฃo pequena? Vai deixar uma estranha em sua casa? ร‰ muito cedo para deixar de amamentar! Jรก nรฃo estรก na hora de desmamar? Cama compartilhada? Coitadinha, dorme sozinha no prรณprio quarto?

E as mรฃes competentes e perfeitas? Sim, sempre tem aquela que consegue feitos que nรณs nรฃo atingimos, e a crianรงa que anda primeiro, que fala primeiro, que nunca fica doente, que come de tudo, que dorme a noite toda, que aprende a ler e escrever cedo, que nรฃo tem dificuldades na escola, que รฉ obediente, organizada, fotogรชnica…

Mas o atestado de nossa dedicaรงรฃo รฉ a carteirinha de vacinaรงรฃo. Todas as vacinas em dia? Inclusive particulares? Sem amassar, sem rasgos, sem molhar? Com os campos de desenvolvimento preenchidos? A crianรงa nas linhas de peso e crescimento esperados? E tudo, absolutamente tudo, รฉ culpa da mรฃe. A crianรงa se machucou quando estava com o pai? Culpa da mรฃe. Nรฃo come? Estรก acima do peso? Nรฃo รฉ sociรกvel? Ficou doente? Tem problema na escola? ร‰ teimosa e faz birra? Bate nos amigos? A mรฃe, a mรฃe, a mรฃeโ€ฆ

Mas, certamente, temos as alegrias. O primeiro sorriso banguela (involuntรกrio), a primeira vez que rola (e cai da cama), a primeira palavra (papai), os primeiros passos (bambos), as primeiras gracinhas (e birras), o primeiro dia na escola (mas jรก?), a primeira letra rabiscada (juro que รฉ um M!).

Cada fase รฉ รบnica e comemoramos como uma descoberta fantรกstica. E รฉ! Aquele grรฃozinho de feijรฃo se transformou em uma miniatura de nรณs mesmas (embora seja a cara do pai), capaz de fazer coisas tรฃo…humanas! Crescem rรกpido, desafiam nossa competรชncia a cada dia e colocam em dรบvida nossas certezas.

Ser mรฃe รฉ, antes de tudo, aprender a ter paciรชncia, lidar com as frustraรงรตes e desenvolver a maturidade emocional. A maternidade perfeita nรฃo existe โ€“ porque รฉ uma experiรชncia รบnica, que nos ensina a conviver com o medo, com a incerteza e o desapontamento. Nรฃo fica mais fรกcil com o tempo, nรณs รฉ que amadurecemos e aprendemos a lidar melhor com ela.

*Leide Albergoni รฉ mรฃe da Cecรญlia e professora de Economia da Universidade Positivo (UP).

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