Há uma crise na saúde mental de estudantes de graduação em andamento. E as instituições de ensino superior precisam tomar atitudes urgentes para enfrentar o problema. Essa é a mensagem principal de uma pesquisa global envolvendo mais de 2,2 mil alunos, de 234 instituições de ensino superior, em 26 países. Destes estudantes, 40% está matriculado em cursos de engenharia e ciências exatas e demonstram alto índice de sintomas de depressão e ansiedade.
De acordo com os relatórios validados pela pesquisa, 41% de todos os entrevistados demonstraram sintomas moderados a severos de ansiedade e 39% de sintomas moderados a severos de depressão. Existe também uma significante variação dos resultados por gênero. Cerca de um terço dos estudantes do sexo masculino afirmaram sentir sintomas tanto de ansiedade quanto de depressão, enquanto 40% do sexo feminino afirmaram vivenciar a mesma situação.
“Se os estudantes estiverem nos primeiros períodos dos cursos de graduação, eles têm pela frente um universo acadêmico novo, exigente, nem sempre agradável e que exige certos conhecimentos previamente adquiridos para o êxito nos estudos. Por outro lado, se os acadêmicos estiverem cursando os últimos períodos dos seus respectivos cursos, sinaliza no horizonte das suas vidas um mercado de trabalho saturado e altamente competitivo”, exemplifica Ivo Carraro, psicólogo e professor do Centro Universitário Internacional Uninter.
Segundo Carraro, esses são dois motivos, entre tantos, que levam os alunos a desenvolverem processos ansiosos e estados depressivos. “Some-se a eles a vida acadêmica alongada pelos cursos de pós-graduações, especializações, mestrados e doutorados, como condição necessária para uma colocação no mercado de trabalho”, finaliza.
Os dados coletados pelo estudo também sugerem que estudantes que vivenciam relações de suporte e conforto emocional, dentro e fora do ambiente acadêmico, demonstram melhores índices de estabilidade emocional. Aproximadamente metade dos estudantes com ansiedade e depressão revelam não contar com relacionamentos desta natureza, além de afirmarem não viverem um bom equilíbrio entre suas vidas pessoais e acadêmicas.
Esses problemas podem estar relacionados à maneira com que as instituições são organizadas como indústria, como as pessoas são treinadas e como as carreiras são desenvolvidas. No entanto, há um lado positivo, sugere o estudo. Já há sinais de que as instituições de ensino estão mais atentas a essas situações e tem trabalhado para oferecer aos estudantes novas formas de avaliação e metodologias mais flexíveis que os ajudem a aquedar suas capacidades de aprendizagem ao sistema de ensino.
O psicólogo da Uninter sugere ações para as instituições de ensino superior. “Deverão ter um projeto pedagógico que priorize a uma formação acadêmica de qualidade para que os seus egressos sejam competitivos no mercado de trabalho. É preciso formar pessoas que desenvolvam seus autoconhecimentos, com suporte emocional, para enfrentar e vencer os naturais desafios da realidade. As IES devem estabelecer rede de relacionamentos com o mercado de trabalho, afim de facilitar a colocação profissional dos seus acadêmicos, e dispor de um setor ligado ao RH para acolher os quem venha apresentar crises de fundo emocional, como ansiedade e depressão”.
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