O antigo ditado, “ser mãe é padecer no paraíso” inclui alterações na saúde ocular durante a gestação que a maioria das brasileiras desconhece. É o que mostra uma pesquisa feita pelo oftalmologista Leôncio Queiroz Neto do Instituto Penido Burnier com 745 mulheres de 25 a 60 anos. Das participantes 90% não sabem que as mudanças hormonais na gravidez interferem na saúde dos olhos.
Instabilidade de grau
O especialista afirma que a visão embaçada é a queixa mais comum das gestantes. Uma das causas, explica, é a maior produção de estrógenos que faz o corpo reter mais água e o cristalino do olho ficar mais espesso. Esta produção oscila e quando cai desidrata o cristalino. ” Este processo instabiliza o grau dos óculos e lentes de contato. Ainda assim, a troca só é indicada dois meses após o parto” afirma.
Olho seco e ceratocone
A variação hormonal também influi na qualidade e quantidade da lágrima. ” É a síndrome do olho seco que também embaça a visão, provoca coceira, irritação e maior sensibilidade à luz”, afirma. O oftalmologista adverte que o olho seco pode agravar o ceratocone. “A doença degenerativa afina a córnea e reponde por 70% dos transplantes no país. Por isso, todo cuidado para manter os olhos bem lubrificados é pouco”, pondera.
A dica do oftalmologista para prevenir o olho seco é incluir na dieta alimentos que contêm ômega 3: semente de linhaça e peixes gordurosos como a sardinha, salmão e bacalhau. “O tratamento é feito com colírio lubrificante e a melhor fórmula depende de uma avaliação médica da lágrima”, salienta. O especialista diz que a única terapia que interrompe a progressão do ceratocone é o crosslink, cirurgia ambulatorial que fortalece as fibras de colágeno da córnea, associando a aplicação de radiação ultravioleta e riboflavina (vitamina B2)
Manchas escuras
Queiroz Neto afirma que outra alteração ocular que pode ocorrer na gravidez é enxergar manchas escuras. A alteração está relacionada à pré-eclâmpsia, uma emergência médica caracterizada pelo aumento da pressão arterial e inchaço generalizado do corpo. O diagnóstico pode ser feito pelo exame de fundo de olho que diagnostica alterações nos vasos da retina, um dos primeiros sinais da hipertensão arterial. O tratamento é feito pelo oftalmologista em conjunto com o ginecologista e pode impedir a morte da mãe e do bebê durante o parto.
Alimentação da mãe pode cegar o bebê
“Consumo de verduras e frutas mal lavadas, água contaminada, ovos crus ou leite não pasteurizado durante a gravidez pode contaminar o feto”, alerta Queiroz Neto. Ele explica que o parasita toxoplasma gondii atravessa a placenta e pode causar no bebê importantes causas de perda da visão na infância: glaucoma, doenças inflamatórias na retina, nervo óptico, ou catarata congênita
Falha na vacina
O oftalmologista alerta que muitas mulheres não tomam as duas doses da vacina contra rubéola quando completam a idade de 1 ano e entre 4 a seis anos. Por isso, não ficam imunizadas contra a doença que pode ser contraída durante a gravidez, expondo o bebê ao risco de nascer com catarata congênita, salienta. O diagnóstico é feito na maternidade pelo teste do olhinho que apesar de barato ainda não é obrigatório em todo o país. Como nos adultos, o único tratamento da catarata infantil é a cirurgia que deve ser feita até 1 ano de idade, pontua.
Doenças sexualmente transmissíveis
A vida e a visão de milhares de bebês que são contaminados pela bactéria da sífilis, doença sexualmente transmissível, poderia ser salvas se as gestantes fizessem o tratamento com antibióticos assim que recebessem o diagnóstico. “A bactéria atravessa a placenta e pode causar sérios danos na visão como a catarata congênita, além de alterações no coração e cérebro que podem levar à morte. O herpes genital também pode causar a perda parcial da visão do bebê caso a uma ferida se rompa na hora do parto.
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