*Zair Candido de Oliveira Netto
No modelo de gestรฃo do esporte de alto rendimento brasileiro – com exceรงรฃo do futebol, que รฉ um mundo ร parte – observamos um direcionamento muito complicado. E nรฃo precisa ser um doutor em sociologia esportiva para perceber as dificuldades do modelo brasileiro esportivo: temos o Ministรฉrio do Esporte, o Comitรช Olรญmpico Brasileiro, as Confederaรงรตes e Federaรงรตes esportivas. Obviamente hรก uma hierarquia neste processo de administraรงรฃo, no qual o Ministรฉrio do Esporte traรงa diretrizes nacionais e conta com o apoio do Comitรช Olรญmpico Brasileiro (COB), cuja missรฃo รฉ atuar no esporte de alto rendimento; liderar a estratรฉgia de desenvolvimento do esporte e de preparaรงรฃo de modalidades olรญmpicas, com a anuรชncia dos presidentes das Confederaรงรตes; e contribuir com os formadores (clubes, escolas, associaรงรตes, estados municรญpios) para a inserรงรฃo social por meio do esporte, para a prรกtica da cidadania e na formaรงรฃo de atletas para o alto rendimento. Porรฉm, temos uma naรงรฃo com mais de 200 milhรตes de habitantes com um potencial incrรญvel de talentos esportivos e nรฃo conseguimos fazer a evoluรงรฃo necessรกria para o desenvolvimento em massa do esporte.
Certamente, todo o processo de emergรชncia e projeรงรฃo do esporte de alto rendimento demanda de uma carga alta de recursos financeiros que, na maioria das vezes, รฉ oriundo de patrocinadores privados. O prรณprio Governo Federal e o COB nรฃo disponibilizam verba direta para esta finalidade, buscando recursos em leis de incentivo ao esporte e tambรฉm por meios de projetos aprovados para captaรงรฃo de verbas pelas loterias federais. Nesta cadeia hierรกrquica, as Confederaรงรตes Esportivas sรฃo os captadores destes recursos para alavancar o esporte de alto rendimento – e a forma encontrada para viabilizar esse financiamento sรฃo as empresas estatais, sejam elas federais ou estaduais, que entram neste processo.
Alguns modelos de gestรฃo de patrocรญnios de estatais no esporte brasileiro sรฃo sinรดnimos de sucesso, vejam o caso do voleibol brasileiro, patrocinado pelo Banco do Brasil: seus resultados sรฃo significativos e mostram que pode ser viรกvel esse modelo de administraรงรฃo. Porรฉm, temos alguns casos que nos fazem abrir os olhos para a mรก gestรฃo, mas acredito que sรฃo pontos fora da curva e devem ser tratados com o rigor da lei. Em marรงo de 2018, o Ministรฉrio do Planejamento apresentou o crescimento de 214,1% deste segmento estatal em 2017, em relaรงรฃo a 2016. O conglomerado formado por Banco do Brasil, BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econรดmico e Social), Caixa Econรดmica Federal, Eletrobras e Petrobras, que representam 95% dos ativos do patrimรดnio lรญquido dentre as 146 estatais federais. Com este poder de captaรงรฃo, as estatais podem ser um forte promotor do nosso esporte nacional, por meio do patrocรญnio destinado ร s Confederaรงรตes esportivas. Contudo, os recursos devem ser rigorosamente controlados e pelo menos 40% do valor total do patrocรญnio deve ser destinado ao esporte de formaรงรฃo e social na confederaรงรฃo de destino. Nรฃo vamos conseguir ser uma potรชncia esportiva sem uma base esportiva formativa. Hรก vรกrias questรตes na gestรฃo esportiva brasileira, mais isso deixamos para outra oportunidade de discussรฃo.
*Zair Candido de Oliveira Netto, doutorando em Ciรชncias da Saรบde e coordenador do curso de Educaรงรฃo Fรญsica da Universidade Positivo (UP).