Seres humanos são emotivos. Desde o nascimento, o cérebro se desenvolve, criando uma complexa estrutura cognitiva que é capaz de fazer com que, ainda bebês, os indivíduos sejam guiados por processos cerebrais que surgem, muitas vezes, de forma primitiva. E continua assim durante toda a vida. Em palestra para gestores de escolas conveniadas ao Sistema Positivo de Ensino, realizada em Curitiba, o professor e neurocientista Pedro Calabrez afirmou que as emoções são capazes de mudar completamente as decisões das pessoas. “Estudos científicos revelam um conhecimento a respeito do cérebro que nos permite concluir que as emoções impactam o cotidiano de todos nós”, afirma Calabrez.
Para o neurocientista, quanto maior for a distância psicológica que uma pessoa assumir de um fato ou atitude, menor será a emoção aplicada, tornando assim mais frio o processo. “O distanciamento evita o engajamento – e isso é algo que gestores, líderes e professores precisam prestar atenção”, alerta Calabrez. Na maior parte das vezes, as pessoas são governadas por emoções conhecidas como processos quentes, que são sentimentos ou sensações que não se escolhem e sobre os quais, em geral, não temos controle, como fome, raiva, medo e desejo. “Isso traz uma série de implicações para a sociedade”, ressalta. Na aprendizagem, engajamento emocional é fundamental. “O professor que faz um aluno aprender um conteúdo é o professor que consegue engajá-lo emocionalmente”, afirma Calabrez. Sobre o uso da emoção em sala de aula, o neurocientista faz um alerta: “se o professor for usar a emoção no processo, que seja positiva”. Segundo ele, alguns educadores acreditam que fazer pressão ou despertar o medo com a “estratégia do professor carrasco” é o melhor caminho para unir aprendizado e disciplina, mas estão enganados.
De acordo com Calabrez, a emoção mais importante que governa as pessoas é a confiança. “Ela está na base das relações e há uma forte associação entre confiança e progresso”, afirma. Segundo ele, o estudante que confia no professor estabelece um vínculo e se abre para o aprendizado. Para Gabriel Figueiredo Guetter Camargo, de 14 anos, foi a confiança estabelecida entre aluno e professor que fez ele melhorar o desempenho em História. A disciplina era vista com resistência pelo estudante, que ficou em recuperação mais de uma vez nessa matéria. Foi no 8º ano que Gabriel encontrou um professor que o fez enxergar a História de um jeito diferente. “Antes, o meu desempenho nessa disciplina era mediano. Eu achava que História era só decoreba, os conteúdos não me diziam nada. Até encontrar um professor com quem eu me identifiquei”, explica Gabriel, que está no 9º do Colégio Positivo Júnior, em Curitiba. Segundo ele, o professor criou um vínculo com os alunos se mostrando acessível e utilizando linguagens e práticas mais próximas das realidade dos jovens. Gabriel continua a ter aulas com o mesmo professor e atualmente obtém ótimas notas na disciplina.
Quando se trata de uma nação, Calabrez afirma que a confiança pode garantir a prosperidade de um povo. Pesquisas mostram que em países como Suécia, Finlândia e Austrália, o nível de confiança entre as pessoas é elevado. “Já o brasileiro está entre os povos mais desconfiados do mundo. Aqui, o grau de confiança entre as pessoas é muito baixo”, afirma Calabrez. Segundo ele, essa falta de confiança cobra um preço alto: “uma transação comercial hoje no Brasil exige custos que não seriam necessários se as pessoas confiassem umas nas outras, como por exemplo as despesas com cartórios, seguro-fiança e outras burocracias. A desconfiança inibe o livre fluxo de capital que estimula a prosperidade. Quanto mais desconfiado é um povo, maior é a corrupção”, destaca.
Para aumentar o grau de confiança entre as pessoas dentro de uma empresa, um país ou em sala de aula, o especialista sugere que gestores, educadores e governantes exerçam a liderança ressonante: uma relação com proximidade emocional, capaz de promover esperança e estimular o esforço e o engajamento. Para Calabrez, um bom líder conhece bem os que estão à sua volta e sabe equilibrar a relação entre desafio e capacidade de realização. “Isso melhora a produtividade em qualquer ambiente, porque quando as pessoas estão confiantes, elas produzem melhor”, garante.