Fatores emocionais não causam gagueira, mas podem agravá-la, diz especialista

Dia 22 de outubro é o Dia Internacional de Atenção à Gagueira. A gagueira (distúrbio na temporalização da fala) é um problema que afeta a fluência e a comunicação, e é tratada pela ciência como uma disfunção causada por vários fatores, entre eles genéticos, sociais e psicológicos.

Segundo a fonoaudióloga Lorayne Santos, do Hospital Otorrinos Curitiba, a gagueira tem sua origem na infância, podendo persistir, ou não, na vida adulta.

“Cerca de 75% das crianças entre 2 e 4 anos de idade podem apresentar gagueira fisiológica, pois o fluxo rápido de pensamento, associado à ansiedade para contar rápido algo importante, contribui para que a criança apresente dificuldades para produzir o ritmo regular e suave da fala”, explica a especialista.

Ela ressalta, ainda, que é comum ter mais de um membro da mesma família com queixas de gagueira. “Há comprovações científicas da presença de genes envolvidos no surgimento e manutenção desta alteração”, acrescenta.

Pessoas com gagueira possuem a fala trabalhosa, e a ligação entre sons, sílabas, palavras e frases não é automática ou espontânea. Alguns sons demoram mais para serem ditos, interferindo na fluência que representa a suavidade e facilidade com que os sons, sílabas, palavras e frases são produzidos ao longo da fala.

Fatores emocionais podem agravar a gagueira
De acordo com a especialista, é importante deixar claro que a gagueira não é causada por problemas emocionais. Pelo contrário: a vivência de uma fala gaguejada pode trazer alguns incômodos para a pessoa, repercutindo em problemas psicológicos.

“Fatores emocionais não podem ser cientificamente entendidos como causadores da gagueira, mas apenas agravantes dela. Crianças que ainda não manifestaram a gagueira na fala podem desenvolvê-la ao enfrentarem determinada situação de maior impacto; no entanto, isso só acontecerá se houver predisposição para a condição”, esclarece Santos.

Por que um gago não gagueja quando canta?
Uma curiosidade que muitas vezes é levantada é por que as pessoas com gagueira, quando cantam, não apresentam o problema. A explicação é que a parte do cérebro usada no canto é diferente da usada na fala.

“O cérebro tem dois sistemas pré-motores: o medial e o lateral. O primeiro fica ativo quando a pessoa fala e o outro quando ela produz sons mais ritmados, então, mesmo que haja um problema na área da fala, ele pode não aparecer durante o canto. Sílabas prolongadas, emitidas durante o canto, também minimizam o problema. Quem gagueja tem o ritmo da fala alterado, e ao cantar estabelece ritmo pré-determinado”, comenta a fonoaudióloga.

Outra explicação para isso é que o canto é apenas reproduzido e não processado como a fala.

Tratamento para a gagueira
A gagueira tem cura. Pacientes com esse problema conseguirão ter uma fala normal se o tratamento for iniciado assim que percebida a alteração. Segundo a especialista, “o tratamento deve ser iniciado assim que percebidas as manifestações. Quanto maior a espera, menores são as chances de cura”, alerta.

Ajuda da família
Para os pais que têm crianças com esse problema, a ajuda em casa é fundamental para que elas se sintam confortáveis ao se comunicar, oferecendo um ambiente sem cobranças.

“Os pais são orientados a tomar algumas atitudes como: ouvi-las com atenção e naturalidade enquanto fala; separar um tempo para conversar com elas, sem distrações, sem pressa, devagar, mas sem perder a naturalidade da fala; incentivar todos os membros da família a serem bons ouvintes; criar um ambiente o mais relaxante e tranquilo possível; evitar chamar atenção durante interações diárias ou reagir negativamente à gagueira; não punir e não criticar. E lembrar que a gagueira é individual, intermitente e involuntária”, finaliza Lorayne.

 

Diretor Técnico: Dr. Ian Selonke CRM-PR 19141 | Otorrinolaringologia

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