O Trabalho no Futuro

Daniel Medeiros*

Vivemos na era das incertezas. Essa expressรฃoย tornou-se comum nรฃoย porque as incertezas tenham passado a existir sรณ agora, mas porque se multiplicaram exponencialmente nas รบltimas dรฉcadas. Como sabemos, nunca tivemos certeza de nada, exceto da morte. Agora, nem isso. Jรก se fala em escaneamento da consciรชncia, uma espรฉcie deย pendriveย que seria conectado a um andrรณide e permitiria que vivรชssemos e vivรชssemosย long time.ย Ficรงรฃoย Cientรญfica? Nรฃo. A ficรงรฃoย tornou-seย oย nome do que ainda nรฃoย foi realizado e nรฃoย mais do fantasioso e do mirabolante. E todas as mudanรงas mudarรฃoย as pessoas e as coisas em volta delas. Como entender e participar desse mundo?

ร‰ fato que hรก 30, 40 anos, quando pensรกvamos noย futuro, apareciam na tela de nossa imaginaรงรฃoย nรฃoย mais do que umas seis ou sete possibilidades deย trabalho: mรฉdico, engenheiro, advogado, militar, funcionรกrio do Banco do Brasil ou de algum cartรณrio, motorista de รดnibus ou ajudarย oย pai na loja (lembrando que astronauta e arqueรณlogo eram profissรตes desejadas em um tempo ainda mais remoto). Agora,ย oย problema รฉ que, diante da mesma pergunta, sรฃoย dezenas as profissรตes possรญveis, muitas das quais ainda nem tรชm nome, outras conhecemos de ouvir falar mas nรฃoย sabemos exatamente quais habilidades seriam necessรกrias para exercรช-las: energias renovรกveis, inteligรชncia artificial, manipulaรงรฃoย genรฉtica, robรณtica, internet das coisas, etc. e tal. Jovens miram perplexosย oย horizonte dos prรณximos anos e se perguntam: vai ter lugar para mim?

Tudo vai sendo virado de cabeรงa para baixo e as tradiรงรตes que ancoraram tantas prรกticas sociais, conceitos e valores do mundo doย trabalho, rapidamente vรฃoย se tornando obsoletas. Isso gera um desconforto, quando nรฃoum sentimento de revolta. Mas a saรญda continua a ser uma sรณ: buscar entender as mudanรงas em vez de maldizรช-las. Quanto maior a compreensรฃoย do que estรก acontecendo, maiores as chances de assumir um protagonismo nesses novos tempos. E entรฃo,ย oย que estรก acontecendo? Como um jovem de hoje pode ter chance de uma boa colocaรงรฃoย profissional no mundo de amanhรฃ?

Em primeiro lugar, compreendendo que precisa aprenderย oย tempo todo e precisa se comunicar com todo mundo. Ou seja: a ideia de โ€œestar formadoโ€ em algo, de โ€œter feito seus estudosโ€ em tal lugar, de โ€œter terminado a escolaโ€ em tal ano, nรฃoย tem mais nenhumย futuro. Viver รฉ aprender permanentemente e da maneira mais heurรญstica possรญvel. Heurรญstica? ร‰, trata-se do aprendizado que leva ao aprendizado, do questionamento constante e do uso intensivo da imaginaรงรฃo, da criatividade, do pensamento disruptivo. Disruptivo? Sim, refere-se ao pensamento que rompe comย oย padrรฃoย da normalidade, que rastreia novos paradigmas, que estรก sempre atento para outras maneiras de associaรงรฃo, composiรงรฃo, reorganizaรงรฃoย dos fatos e dos saberes.

Alรฉm de aprenderย oย tempo todo, รฉ preciso tambรฉm poder se comunicar com todo mundo. Daรญ a importรขncia de dominar as linguagens: lรญnguas estrangeiras, linguagem da programaรงรฃo, mas tambรฉm a linguagem social doย network, a linguagem emocional das negociaรงรตes, a linguagem afetiva das parcerias. Em resumo: conectividade e capacidade de traduรงรฃo, esses sรฃoย os dois pilares doย trabalhoย noย futuro.

A escola, em algum momento, vai precisar contribuir para essa reconstituiรงรฃoย de saberes, rompendo com a ideia de que hรก coisas que precisam ser aprendidas porque sรฃoย coisas importantes. Nรฃoย รฉ assim que funciona. Tudoย oย que precisa ser aprendido nรฃoย รฉ importante por si, mas porque tem um papel no processo de transformaรงรฃoย constante do mundo. A linguagem matemรกtica รฉ fundamental, assim como a compreensรฃohistรณrica ouย oย conhecimento dos seres vivos, mas apenas na medida em que estรฃoย inseridos no contexto da descoberta, que รฉย oย lugar da problematizaรงรฃo; da justificaรงรฃo, que รฉ onde se analisam os dados e apresentam-se as conclusรตes; e da aplicaรงรฃo, quando esses conhecimentos agem como ferramentas de transformaรงรฃoย da realidade.

Assim, pensar uma escola a partir deย cases, de questionamentos, de problematizaรงรตes, associando diversas disciplinas com diferentes mentes de diversas idades, estimulando a formulaรงรฃoย de hipรณteses, sendo rigoroso na apresentaรงรฃoย e verificaรงรฃoย dos dados, premiandoย oย esforรงo, a criatividade eย oย espรญrito de equipe – sรฃoย os passos para colocar a escola no lugar de relevรขncia para as exigรชncias desse tempo que รฉย oย de olharย ohorizonte e nรฃoย enxergarย oย que hรก, mas imaginarย oย que haverรก lรก. Um tempo cujoย futuroย serรก uma invenรงรฃoย do presente.

*Daniel Medeiros รฉ Mestre e doutor em Educaรงรฃoย Histรณrica pela UFPR. ร‰ professor no Curso Positivo.

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