Carnaval pode ser muito perigoso para o coração

Artigo publicado na International Journal of Cardiovascular Sciences – IJCS – reúne diversos estudos que comprovam os malefícios da bebida alcóolica, do energético e da maconha

            Pular carnaval – seja no sambódromo, nos bailes fechados ou nos tradicionais blocos de rua – exige muito do coração. Durante as sessões de samba, os indivíduos podem atingir entre 60 e 90% da frequência cardíaca máxima prevista para a idade, em 86% do tempo. E, geralmente, essa atividade intensa está associada ao consumo de álcool, energéticos e/ou drogas, uma combinação perigosa, como mostra o cardiologista Claudio Tinoco Mesquita no artigo, recentemente publicado na International Journal of Cardiovascular Sciences – IJCS – publicada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia.

            “O consumo de álcool, mesmo em doses consideradas de leve a moderada (sete doses por semana ou mais), aumenta a incidência de Fibrilação Atrial, por exemplo”, afirma Mesquita. A associação com o uso recreativo da maconha é ainda mais prejudicial. Estudo norte-americano observou que 2,7% dos usuários de maconha recreativa desenvolveram arritmia, com tendência crescente de 2010 até 2014, e que a Fibrilação Atrial foi o subtipo mais comum entre usuários de maconha hospitalizados.

            Já as bebidas energéticas — que apresentam quantidades muito altas de cafeína e aditivos como taurina e adenosina, já associados a relatos de arritmias atriais e ventriculares – estão relacionados a uma sobrecarga hemodinâmica significativa. A ingestão de uma lata (355 mL) já é suficiente para aumentar a carga de trabalho do coração, evidenciada por pressão sanguínea elevada, frequência cardíaca e débito cardíaco. “A ingestão de energéticos tem sido associada a arritmias mesmo em pacientes com corações estruturalmente normais. E, embora não haja um limiar claramente definido para o uso de energéticos, a Sociedade Internacional de Nutrição Esportiva recomenda que pacientes com condições cardiovasculares pré-existentes, que estão tomando medicamentos e que podem ser afetados pela cafeína e outros estimulantes, evitem a bebida. A entidade alerta também que o consumo de mais de um energético por dia, mesmo em indivíduos saudáveis, pode ser prejudicial”, alerta Claudio Tinoco Mesquita.

            O cardiologista lembra que celebrar o carnaval é fácil, divertido e barato. Mas os riscos potenciais de combinar energético e álcool ou drogas ilícitas são altos. “Por isso, mesmo que sozinho, o energético deve ser ingerido com moderação. Uma das melhores coisas da vida são boas lembranças e ter uma complicação cardíaca durante o feriado é uma daquelas que ninguém gostaria de ter”, finaliza.