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Ortopedistas temem volta de epidemia de lesão cervical devido a mergulhos, durante o Carnaval

                A Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia – SBOT e a Sociedade Brasileira de Coluna iniciaram campanha conjunta para alertar do risco da volta da verdadeira epidemia de lesões de cervical (à altura do pescoço), que costuma ocorrer durante os feriados de Carnaval e que, quando não matam, deixam a vítima paraplégica, tetraplégica ou com alto grau de incapacitação.

                “Esses casos, que infelizmente são comuns em Minas Gerais, ocorrem quando a pessoa mergulha de cabeça em cachoeiras ou em águas turvas, sem saber a profundidade e bate a cabeça no fundo, causando a lesão cervical”, explica o ortopedista mineiro Cristiano Menezes, presidente do Comitê de Coluna da SBOT.

                “Quando a cabeça bate no fundo e o corpo continua com o impulso do mergulho, há flexão violenta à altura do pescoço, que se dobra num ângulo anormal e pode haver fratura das vértebras cervicais. O risco maior é afetar a medula espinhal, afetando o movimento dos braços, pernas e até respiração”, acrescenta Sandro Reginaldo, que responde pelas campanhas públicas da SBOT.

                Os médicos explicam que a ruptura da medula espinhal tem efeito imediato. A vítima às vezes não consegue mover os braços para voltar à superfície, e morre por afogamento. Mesmo quando socorrida e retirada da água, é frequente que passe o resto da vida numa cadeira de rodas.

O presidente da SBOT, Moises Cohen, diz que o mais triste é que as estatísticas mostram que esse acidente acontece principalmente em jovens que tem toda a vida pela frente, na faixa etária entre 10 e 29 anos.

17.500 casos nos Estados Unidos

                O Brasil tem poucas estatísticas sobre o problema, a Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático diz que em 67% dos casos de lesão por mergulho o paciente morre antes mesmo de chegar ao hospital.

Os casos aumentam no Carnaval por causa dos feriados em tempo de muito calor, o que leva os jovens a correr risco ao mergulhar em rios, lagoas, cachoeiras e mesmo no mar, pois o acidente pode acontecer ao ‘furar’ uma onda, batendo a cabeça na areia, explica o especialista. Só no Paraná foram oito casos em 2017, mas na Bahia o Hospital Geral do Estado, da Bahia, tem um estudo com 145 casos, o que motivou uma campanha de prevenção.

Em São Paulo, o Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas fez um estudo que comprovou ser o mergulho em água rasa a quarta causa de lesão medular do Brasil, e a segunda no verão, quando 10 pessoas ficam paraplégicas por semana.

                Já nos Estados Unidos a estimativa é de 17.500 casos de fratura de cervical por ano, mas não só por mergulho e, estatisticamente 54 norte-americanos por milhão sofrem esse tipo de problema, o que significa que entre 245 mil e 353 mil pessoas são deficientes devido a fratura de cervical.

Prevenção e tratamento

                A SBOT e o Comitê de Coluna recomendam nunca mergulhar num corpo d´água sem saber a profundidade e, caso ocorra o acidente, manipular a vítima com cuidado, com o colar cervical dos Bombeiros. “É que às vezes a vértebra fraturada não sai de posição e ao mover o paciente, ela se movimenta e atinge os nervos que passam dentro da coluna”.

                O tratamento é complexo e multidisciplinar, explica Cristiano Menezes, porque dependendo do nervo afetado, o paciente não poderá mais respirar e terá que viver com respirador artificial. 

O ortopedista que opera para retirar eventuais fragmentos da vértebra e para aliviar a pressão sobre os nervos trabalha juntamente com o neurologista e outros especialistas. A fratura cervical não é acidente com bom prognóstico, porém, e quando é possível devolver a mobilidade dos braços, por exemplo, o paciente pode ser considerado tendo tido sorte.

                “A rapidez no atendimento também é importante”, diz Sandro Reginaldo, pois o diagnóstico precoce e a cirurgia para tratar o trauma raquimedular tem maior possibilidade de reverter o quadro, quando possível, se realizados menos de 24 horas após o acidente. Esse é um dos motivos pelos quais os hospitais sempre têm um ortopedista de plantão e pelo qual a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia insiste tanto no treinamento e capacitação de seus associados.

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