Enquanto muitos evocam o princรญpio da reciprocidade e da soberania nacional no caso da polรชmica isenรงรฃo de vistos para cidadรฃos americanos, canadenses, australianos e japoneses que visitam o Brasil, milhares de oportunidades de emprego e geraรงรฃo de renda sรฃo transferidos do nosso paรญs para outras naรงรตes mais inovadoras. Pelos padrรตes internacionais, somos um dos paรญses mais fechados do mundo para turismo, comรฉrcio exterior e negรณcios em geral, seja por adotar barreiras protecionistas ou pela burocracia desmedida.
Em 2018, a Organizaรงรฃo Mundial do Turismo contabilizou 1,4 bilhรฃo de viagens internacionais, mas apenas 6,6 milhรตes vieram para o Brasil. Estagnados desde 2014, representamos apenas 0,47% do turismo internacional, perdendo para a Argentina a histรณrica hegemonia na Amรฉrica do Sul. Aliรกs, somados os visitantes dos EUA, Canadรก, Austrรกlia e Japรฃo,ย nรฃo chegamos a 700 mil turistas.ย Nรฃo bastasse isso, o Banco Central relatou que, em 2018, os brasileiros gastaram US$ 18,263 bilhรตes em suas viagens ao exterior, enquanto que os estrangeiros deixaram US$ 5,917 bilhรตes por aqui no mesmo perรญodo. O dรฉficit se repete hรก 15 anos e a tendรชncia รฉ piorar.
Os viajantes estrangeiros que aterrissam por aqui nรฃo estรฃo interessados apenas em lazer, pois tambรฉm visitam nossas cidades para realizar negรณcios ou participar de eventos. E no campo do comรฉrcio exterior, representamos mรญsero 1,2% do montante global, figurando em 153ยบ lugar em termos de abertura comercial (Fundaรงรฃo Heritage) e 108ยบ para o dinamismo no ambiente de negรณcios (Fรณrum Econรดmico Mundial).
Some-se ao complexo ambiente brasileiro, pouco favorรกvel aos negรณcios, a constante diminuiรงรฃo de investimentos em infraestrutura e marketing internacional, a incansรกvel veiculaรงรฃo da violรชncia urbana na mรญdia global e a falta de parcerias comerciais relevantes. Isso explica parte do medo ou da falta de interesse por parte dos visitantes em potencial.
Seguindo o exemplo de outros paรญses, o governo federal fez um teste ao dispensar o vistoย para cidadรฃos dos quatro paรญses que viessem ร s Olimpรญadas, por serem considerados turistas de alto poder aquisitivo e de baixo risco migratรณrio. O รชxito nรฃo foi desprezรญvel e, no ano passado, com a adoรงรฃo doย e-visaย houve aumento de 35% no interesse pelo nosso paรญs, embora ainda nรฃo observados integralmente nas estatรญsticas de fluxos turรญsticos.
Essa atividade responde por 9% dos empregos do mundo (WTTC), portanto,ย precisamos reagir ร interminรกvel crise econรดmica e ร frustraรงรฃo das oportunidades desperdiรงadas na Copa 2014 e na Rio 2016.ย A isenรงรฃo unilateral do visto indica que desejamos estreitar laรงos e realizar negรณcios. Ainda que pequeno, รฉ um primeiro gesto de hospitalidade, ferramenta poderosa e estratรฉgica, capaz de apresentar soluรงรตes criativas ร s mutaรงรตes da sociedade, especialmente quando observada sob o prisma do mercado e aliada ร s novas tecnologias. Muito em breve, o Big Data e a Inteligรชncia Artificial aposentarรฃo vistos, carimbos e passaportes.
Portanto, busquemos uma aproximaรงรฃo mais pragmรกtica e humanitรกria com outros paรญses, pois, como diria o escritor americano Henry Longfellow, โo que de melhor existe nos grandes poetas de todos os paรญses nรฃo รฉ o nacionalismo e sim o universalismoโ.
*Dario Luiz Dias Paixรฃo, doutor em Gestรฃo do Turismo, รฉ coordenador-geral da Pรณs-Graduaรงรฃo da Universidade Positivo.ย