Sustentabilidade, segurança e direitos

A bicicleta é uma das maiores realizações técnicas da humanidade. Através da aplicação inteligente dos princípios das roldanas e alavancas multiplica a força física empregada pelo ciclista, e o conduz em velocidade superior à que desenvolveria a pé e com muito menor esforço. Pedalar é um excelente exercício aeróbico, e pode ser feito por praticamente qualquer pessoa, desde crianças e adultos que passeiam nos finais de semana até os atletas de ponta. Talvez seja o meio de transporte mais civilizado: não polui o ar, é silencioso, não consome combustível, se conduzida com cuidado representa pouco risco aos pedestres. Além de tudo é plasticamente bonita, suas dimensões somadas às do ciclista têm um equilíbrio que não se encontra em nenhum outro veículo, nem mesmo nas motocicletas.

Mas como nada é perfeito, as bikes tem limitações de ordem climática e de relevo acidentado, em meio ao tráfego das cidades e estradas o ciclista é sempre o mais frágil, não tem a protege-lo uma carroceria, para-choques, airbags, nem o porte que “imponha respeito”. Por isso mesmo o Código Brasileiro de Trânsito estabelece regras para ciclistas e motoristas, dentre elas que pedestres têm prioridade sobre ciclistas; ciclistas têm prioridade sobre outros veículos e que veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres.

No entanto, assim como existem bons e maus motoristas, existem bons e maus ciclistas. Os motoristas quando são maus são péssimos, desatentos, prepotentes, criminosamente desrespeitadores da legislação e do bom senso, e não apenas quanto aos ciclistas mas aos demais motoristas e pedestres também. Os maus ciclistas têm sua parcela de culpa nos acidentes em que frequentemente se envolvem, raramente suas bicicletas são equipadas com espelho e sinalização luminosa, parecem acreditar que enxerga-los é responsabilidade exclusiva dos outros, confundem a prioridade que a lei lhes dá no transito com direito de pedalar em sentido contrário ao fluxo de veículos, atravessar vias preferenciais sem o menor cuidado, “costurar” em meio aos carros, não parar em sinais fechados; alguns praticam o perigoso esporte de “pegar rabeira”, segurar-se em caminhões e ônibus em estradas para poupar-se do esforço. Recentemente um motorista de ônibus biarticulado de Curitiba foi agredido por um grupo de ciclistas quando pediu a um adolescente que não continuasse na rabeira; além de extremamente perigosa esta prática é proibida obviamente, é de perguntar o que daria a esses jovens o direito de fazer o que fizeram.

Atualmente fala-se muito em fascismo, o original, estabelecido por Benito Mussolini, valeu-se de milícias, as camisas negras, para chegar ao poder absoluto na Itália. Esses milicianos agiam totalmente à margem da lei, aterrorizavam opositores reais ou imaginados, não permitiam que políticos rivais fizessem comícios, espancavam jornalistas independentes, tiravam seu poder da desfaçatez e da impunidade. 

É evidente que o exemplo não aplica a alguns rapazes que fizeram uma bobagem em final de semana, mas é preocupante que a cada momento o poder derivado do número e da força bruta pareça estar ocupando espaço. Inclusive em detrimento da própria segurança, pois o que parece divertido muitas vezes leva a um péssimo desfecho.

Nas escolas a queixa de professores e funcionários envolve muitas vezes a falta de discernimento dos estudantes para o que constituiu verdadeira legalidade, pois confunde-se muitas vezes “minha vontade” com “meu direito”, bastando que um pequeno grupo tome uma decisão para que esta necessariamente deva ser acatada pelos demais independente de suas vontades.

Num tempo de confrontos e ódios expressos, é tudo muito preocupante.

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.

wcmc@mps.com.br

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