Por David Santos, diretor executivo da DB1 Global Software*
Quando se fala em trabalho remoto, uma preocupação clássica das empresas é: “Se eu não conseguir ver as pessoas, como eu vou saber se elas estão trabalhando? E se elas passarem todo tempo distraídas com outras coisas?”.
Esse é um tipo de questionamento que revela uma cultura de insegurança e controle. Mostra que, na verdade, o sucesso está sendo medido considerando as horas de presença física em um local e não o que foi produzido. Estamos assumindo que esse é o ponto que precisa ser monitorado para dizer que o trabalho está indo bem. E, assim, dificilmente se enxerga o que realmente importa.
A verdade é que presença física só nos garante que a pessoa está ali, mas não garante que ela está envolvida no que precisa ser entregue. Porque se as pessoas quiserem passar o dia inteiro em redes sociais ou enrolar de qualquer outra maneira elas também conseguem fazer isso do escritório. Ir para o escritório não é uma garantia de produtividade. O que deveria estar sendo medido é o valor que aquela pessoa entrega e não quantas horas ela passou sentada em frente ao computador.
Além disso, esse tipo de micro gerenciamento não considera as individualidades de cada um. As pessoas são mais produtivas nas mais diferentes situações, locais e horários. Tem aquelas que produzem mais logo pela manhã, outras preferem destinar a manhã para meditação e exercícios e começar um pouco mais tarde, outras preferem ainda trabalhar só a noite, no silêncio e sem interrupções. Basta pensar por uma abordagem mais humana, que vemos que o controle precisa estar do outro lado.
É uma questão de autoconhecimento. Identificar quando, onde, e como funcionamos melhor tem um impacto direto na nossa produtividade e qualidade de vida. Acredito que as pessoas devem ter autonomia sobre a organização da sua rotina. É uma mudança simples que revela naturalmente o propósito de cada um com o seu trabalho.
Com objetivos bem definidos e compartilhados com o time, não há a necessidade de um papel gerencial. Quando definimos claramente as regras e os pontos de contato, todo gerenciamento pode ser mais focado no progresso. Assim, a relação é de confiança, e não de horário.
É essencial ter um propósito claro, que nos inspire a trabalhar com aquilo todos os dias. No nosso dia a dia aqui na empresa isso acontece por meio de alguns hábitos que adotamos. Em primeiro lugar definimos objetivos anuais e trimestrais através da metodologia OKR. Assim, o time fica alinhado na mesma direção, sabendo quais resultados queremos alcançar em cada período.
Na prática do dia a dia, temos ciclos rápidos de feedback e acompanhamento do progresso. Dentro dos projetos, cada time define objetivos semanais e fazemos alinhamentos rápidos diários onde cada membro do time compartilha o seu progresso desde o dia anterior e quais são os seus próximos passos. O horário e o local de onde estão trabalhando realmente não interessa.
Você não precisa do micro gerenciamento para ter certeza que o seu time está produzindo. Agora, se você não pode confiar nas pessoas que estão trabalhando com você sem fiscalizar de perto, talvez essa contratação ou a própria relação tenha que ser reavaliada. O fato é que o relacionamento das pessoas com o trabalho está mudando, e nesse contexto a confiança é fundamental para garantir um ambiente leve e produtivo.
Você ainda precisa de um escritório pra trabalhar?
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*David Santos é Diretor Executivo e CEO da DB1 Global Software, uma empresa do DB1 Group, especializada no desenvolvimento de software sob demanda com princípios e processos que reduzem o índice de retrabalho e asseguram a entrega no prazo.