A Comissão de Cirurgia Preservadora da Sociedade Brasileira de Quadril – SBQ – marcou para 19 de março, no Hospital Samaritano de São Paulo, os workshops a que se seguirão o Simpósio nos dias 20 e 21, com uma temática inovadora a qual vai incluir as controvérsias e discussões sobre a questão e serão também abordadas as diversas vertentes da chamada ‘Medicina Regenerativa’ aplicada ao quadril.
O presidente da Comissão da SBQ, Marcelo Queiroz enumera a relação de apresentações programadas: Estado da arte e controvérsias em artroscopia do quadril; Tratamento, regeneração e reparo de lesões condrais; Membrana de colágeno – condrogênese autóloga induzida por matriz; Subcondroplastia; Infiltrações; Radiofrequência; Ácido hialurônico; PRP; BMAC; Células tronco mesenquimais; Transplante condrócitos; Legislação do uso de biológicos no Brasil e perspectivas; o negócio das terapias biológicas; medicamentos ortocêuticos; osteonecrose da cabeça femoral e terapia de onda de choque.
As vagas são apenas 200, as inscrições podem ser feitas pelo portal www.sbquadril.org.br. Marcelo Queiroz adianta que o evento contará com convidados internacionais escolhidos entre os que mais se dedicaram e inovaram na cirurgia preservadora. Os workshops serão Terapia de Ondas de Choque; Subcondroplastia/Rafiofrequência/Membrana; Ultrassonografia – diagnóstico; e Infiltração por USG.
Análise sem sensacionalismo
O Simpósio vai tratar da “grande rejeição por parte de alguns médicos do tema Medicina Regenerativa” e reconhece que ela é decorrência da cobertura de certa mídia que divulgou a questão de forma sensacionalista, “como uma panaceia que cura tudo” e também de alguns médicos que deram aos pacientes promessas irreais de resultados.
A Comissão esclarece que o termo ‘regenerativo’ na ortopedia, soa como mágica, levando o ouvinte a imaginar a regeneração da cartilagem, tecido ósseo e tendíneo, espécie de “Santo Graal” da medicina, “Restitutio ad integrum” de tecidos que hoje tratamos de forma paliativa ou substitutiva.
A primeira coisa em que se pensa é nas células tronco e sua potencial diferenciação em diferentes tecidos. Na verdade os estudos atuais estão focados muito mais na capacidade parácrina, ou seja, na secreção de fatores químicos que estimulariam o reparo dos tecidos lesados.
A ideia antiga de injetar células tronco numa articulação e elas se diferenciarem em cartilagem, por exemplo, não parece ser o principal mecanismo de ação da melhora terapêutica. Os efeitos dessas células tronco, portanto, parecem muito mais uma influência local anti-inflamatória e imunomoduladora. Já o uso de plasma rico em plaquetas tem um nível de evidência maior e um campo mais bem definido. Sem dúvida que é uma área de extremo potencial e um dos campos de atuação da cirurgia de quadril no futuro.
Os médicos que rejeitam a Medicina Regenerativa o fazem também porque “embora a regulamentação proíba esses tipos de terapias celulares em ambientes “extra estudos científicos”, o que se vê na prática é que a pressão comercial e a demanda dos pacientes favorecem a utilização deles de forma desregulada, urgindo uma atualização das diretrizes da ANVISA.
É claro que numa especialidade que tem como carro chefe a artroplastia total de quadril, uma das cirurgias do século, difícil de ser batida em termos de satisfação e sucesso, a resistência a esses tipos de procedimentos é esperada. Toda nova tecnologia passa por uma fase de aceitação. Existe um entusiasmo inicial, posteriormente um desanimo com maus resultados, e, finalmente se chega a um equilíbrio de indicações precisas e benéficas para os pacientes. Também a artroscopia de quadril passou por esse processo, tendo sido muito criticada no seu início.
Posição científica e objetiva
Como a SBQ não pode se furtar a tratar do assunto, que o próprio presidente Giancarlo Polesello determinou que seja estudado e debatido no Simpósio, e cabe lembrar como o tema evoluiu historicamente na Sociedade.
A Comissão de Cirurgia Preservadora foi criada em 2013, a partir da necessidade de expansão em ensino de habilidades relacionadas principalmente às osteotomias e artroscopia do quadril.
A área teve grande impulso devido ao trabalho do prof. Ganz, de Berna, que a partir da década de 80 iniciou publicações relativas à osteotomia periacetabular. Foi porém a partir do ano 2000 que houve o aumento exponencial da prática e pesquisa na área, com a publicação da técnica de luxação cirúrgica e em 2003 do conceito de impacto femoroacetabular, o que significa que são conceitos reativamente novos, dos últimos 20 anos.