A dor da mudança

Claudia Saad*

No trabalho junto às escolas, em contatos com professores, bem como em cursos e palestras que ouvi ou ministrei, tornei-me extremamente observadora. Deparo-me, volta e meia, com situações que me fazem refletir em como o processo de mudança traz consigo a resistência. Mudar mexe com nossas crenças, nos desacomoda e incomoda. Tendemos a deixar para depois, talvez, pela dor que ela nos causa.

Como é difícil mudar a forma com a qual trabalhamos! Aliás, mudar é doloroso em qualquer campo da nossa vida. Peter Senge (1990) define a metanoia como a profunda mudança de mentalidade. Para ele, uma organização ou pessoa que aprende está continuamente expandindo sua capacidade de criar seu futuro.

Nos últimos tempos, temos lido e ouvido falar de assuntos que chegaram como grandes novidades que ajudarão a fazer as mudanças necessárias no campo da Educação. Stem, BNCC, Novo Ensino Médio, cultura maker, escola criativa, entre outros. Muitos nomes e conceitos diferentes do que estávamos acostumados a ouvir em nosso cotidiano de sala de aula ou mesmo como gestores de escolas. E aí, como funcionam todas e tantas mudanças para administrarmos? De onde partimos, como começamos a pensar nessas mudanças?

Pensar e falar sobre o assunto para muitos de nós pode ser um convite à transformação, ao desafio de inovar, recriar e ressignificar sua forma de ver e entender o mundo. Mas, para outros, pode ser simplesmente, mais uma “moda” que alguns querem implementar só para mudar o que já existe e está funcionando. Para esses, resistir é a forma de reagir.

Sabemos exatamente que esse é o processo natural que nos deparamos quando algo é implementado na escola. Sabemos, inclusive, quem serão nossos formadores de opinião e que estarão do nosso lado para fazer acontecer essa mudança. Nosso ponto de partida pode ser rever nossa forma de atender as situações cotidianas, ressignificando o olhar, dispostos a aprender e desaprender o que já conhecemos. Muitas vezes, já temos as condições de fazer acontecer, mas precisamos romper com modelos mentais. Trazer a comunidade acadêmica para esse diálogo, criar situações em que estejam organizados e unidos tornará esses processos muito mais tranquilos e significativos.

Para isso, devemos deixar de lado as “verdades” e expertise para resolver situações habituais, pensar nas rotinas diárias sob óticas diferentes, buscar soluções inovadoras, novos olhares, oportunizar discussões, abordar situações problemas para buscar soluções criativas. Isso poderá gerar uma excelente aliança formadora na equipe como estratégia para pensar no que já estamos acostumados a fazer, porém, revendo processos.

Podemos tropeçar, errar e sentir uma vontade imensa de voltar atrás e continuar fazendo tudo igual. Algumas vezes, sofremos com a ansiedade de criar algo  novo sem ver que muito do que fazemos, daquilo que a escola já traz na sua dinâmica, já conta com práticas viáveis e bem atuais do que todos esses conceitos trazem. Importante buscar, conhecer, analisar as novidades e sua realidade e aí buscar fazer esse novo!

Melhor ainda, quando conseguimos fazer o time entender como seu, o propósito da mudança.

 

Claudia Saad é coordenadora pedagógica Regional do Sistema Positivo de Ensino

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