Não é novidade que o hábito de fumar pode ampliar a predisposição para doenças respiratórias, como a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), terceira causa de morte no mundo em 2019 – atrás apenas do infarto agudo do miocárdio e do derrame (AVC). Diante da pandemia causada pelo novo coronavírus, tanto os tabagistas, quanto as pessoas com doenças respiratórias crônicas, como a asma, precisam redobrar os cuidados para evitar a Covid-19. É o que orienta o pneumologista Irinei Melek, preceptor da especialidade no Hospital Angelina Caron (HAC) e presidente da Sociedade Paranaense de Pneumologia.
“É uma análise complexa, mas o tabagismo sempre vai causar problemas. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) aponta que houve um agravamento na China em relação aos tabagistas, que têm uma predisposição maior. Em relação às enfermidades que o tabagismo produz, a DPOC é uma doença pulmonar obstrutiva crônica, uma mistura de bronquite crônica e enfisema, bastante delicada. E 95% dos casos são causados por tabagismo”, enfatiza Melek.
Na entrevista a seguir, Irinei Melek esclarece questões importantes da relação entre as doenças respiratórias, fumantes e o novo coronavírus:
Além do cenário observado na China, já existem outros levantamentos sobre uma maior incidência de Covid-19 em pessoas fumantes? Ou, caso infectadas, se elas seriam mais propensas a terem seus quadros agravados?
O Centro de Pesquisa e Educação para Controle do Tabaco da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, reuniu 12 estudos que analisaram 9.025 pacientes infectados pelo novo coronavírus, somando todos os estudos. Desse total, 878 (9,7%) apresentaram complicações, sendo que 495 desses pacientes eram fumantes (56%).
A pesquisa reforça que tanto o tabagismo quanto o uso de cigarros eletrônicos aumentam a gravidade das infecções pulmonares, e aponta que fumantes têm 2,25 vezes mais chances de complicações graves decorrentes da Covid-19 do que não fumantes.
Qual a orientação para pessoas com asma?
Em relação aos asmáticos, recomendo que haja acompanhamento médico da condição de cada caso. Boa parte deles não se cuida muito, só toma remédios quando o quadro piora.
Fala-se muito nos sintomas mais severos, como a síndrome respiratória aguda grave. Cansaço ao andar, associado a sintomas de gripe, deve ser levado em conta? Quando ir até o hospital?
É importante lembrar que o quadro inicial é semelhante ao da influenza, vírus que circula até mais do que o novo coronavírus. Inicialmente, é um quadro gripal. Sinal de alerta é febre mais intensa e falta de ar. A insuficiência respiratória pode aparecer na sequência, dependendo do agravamento do caso.
Em casos mais graves da Covid-19, há intervenção de intensivista, infectologista e do pneumologista? Quem acompanha o processo de respiração assistida por aparelho?
As equipes trabalham em conjunto. No Hospital Angelina Caron, os pacientes dão entrada e passam pela triagem com infectologista. Se o paciente tiver insuficiência respiratória, será internado e acompanhado pelo pneumologista. Se for o caso de ir para a UTI depois, quem colocará em ventilação mecânica serão os pneumologistas junto com os intensivistas.
É preciso destacar que, até o momento (primeira semana de maio), no HAC não há pacientes internados confirmados com a Covid-19, portanto seus atendimentos médico-hospitalares seguem da mesma forma, com todos os cuidados necessários para garantir o bem-estar de médicos, pacientes e colaboradores.
Em relação às atividades físicas, elas são permitidas quando não estamos em lockdown?
É fundamental se exercitar, mesmo em isolamento social. Fazer três séries de 50 minutos de exercícios na semana. De preferência, dentro de casa ou numa caminhada rápida no quarteirão, sem aglomeração de pessoas. Dormir bem e se alimentar bem. Para a nossa saúde, os efeitos antiinflamatórios dos exercícios são amplamente confirmados na pneumologia.