Com redução do quadro efetivo em até 40% dos funcionários por suspeita de contágio, instituições enfrentam orçamento e querem mais colaboração do poder público na pandemia; capital já registrou morte no setor
Diversas áreas de atuação enfrentam uma crise sem precedentes à medida em que se completa dois meses de combate à COVID-19, o novo coronavírus. No entanto, poucas situações são tão delicadas quanto a das casas de repouso, local de concentração do principal grupos de risco da doença: as pessoas da terceira idade.
Os idosos, cada um com sua particularidade, necessitam de cuidado 24h em Curitiba, onde existem 95 casas em funcionamento e 10 instituições sem fins lucrativos. Dessas, 20 assinaram uma carta manifesto, apelado aos órgãos oficiais por ajuda na disseminação da doença nesses locais. A situação, em algumas instituições, já beiram a calamidade: com 40% do efetivo reduzido por conta de suspeitas de contágio, os funcionários se desdobram e trabalham como podem.
“Tem sido extremamente difícil a aquisição de EPIs (equipamentos de proteção individual) na atual conjuntura”, lamenta Paula Gomes Loyola, diretora da SeniorOnline, plataforma de pesquisa gratuita de casas de repouso em Curitiba. “Os preços estão exorbitantes, acima do que era encontrado antes da crise no mercado. Isso dificulta a compra e, também, há poucos fornecedores para dar conta da demanda”.
A especialista faz um apelo ao poder público. Apesar de ações paliativas realizadas pelos órgãos oficiais – que têm agido, mas de forma lenta em relação ao que é enfrentado no momento – há uma necessidade urgente de acesso a itens que são fundamentais e, no momento, têm seu preço elevado e com baixa disponibilidade.
Até o momento, Curitiba registrou uma morte de idoso dentro de uma casa de repouso. O caso ocorreu em abril, no Lar de Idosos Iracy. A vítima foi uma senhora de 94 anos de idade. A capital paranaense possui, segundo dados de 2017, cerca de 267 mil idosos residentes na cidade.
Prevenção para evitar o caos
A luta das casas de repouso é para ser vista como uma exceção válida, uma vez que os idosos são parte de um grupo de risco e um contágio nesses locais de alta concentração poderia ser trágico. Mais que isso: com o número de leitos de UTI limitados em boa parte do país, a proliferação rápida da doença poderia levar, em último caso, situações extremas como as testemunhadas, meses atrás, em países como a Itália, que no pico da doença teve de lidar com decisões entre a vida e a morte, devido a falta de UTIs.
“A maior preocupação hoje de uma casa de repouso, em qualquer lugar do mundo, é: como fazer o isolamento de idosos dentro de uma instituição?”, indaga Paula. “A grande maioria das instituições são estruturas físicas que não têm possibilidade de fazer isso de forma segura. Além do mais, existem idosos que têm demências e não seguem orientações claras. Você mantê-lo isolado em um quarto, nesse caso, é praticamente impossível”.
Neste contexto, o afastamento de funcionários se torna ainda mais crítico. Com quase metade do corpo efetivo reduzido, essas instituições exigem ainda mais dos funcionários remanescentes, administrando mais pessoas e com menos ajuda.
Paula lamenta a omissão do poder público na questão, pois vê a situação como extremamente crítica. “Se não agirmos rapidamente, em breve nos depararemos com situações muito tristes”, enfatiza.
Famílias inseguras, aumento do efetivo e máscaras de pano
A enfermeira e responsável pelos recursos humanos do Grupo Arte de Cuidar, Ezia Corradi, lida diariamente com essa realidade. No total, foram necessários mais 10 funcionários desde março, quando começou a pandemia, para dar conta das atividades diárias nas casas de repouso, que cuidam de 72 idosos.
“Nossa grande dificuldade, realmente, são os EPIs. Por sorte, adquirimos muitos antes de isso começar, mas no caso das máscaras já tivemos de passar a adotar as de pano”, conta ela, que chegou a ter dois funcionários afastados por suspeita de sintomas da COVID-19, mas nenhum se confirmou.
Lidar com a insegurança das famílias é outra tarefa árdua. Com o distanciamento social recomendado, os grupos de risco como idosos foram proibidos de receber visitas. “Isso gera reclamações e, claro, as famílias ficam preocupadas. Mas estamos fazendo o possível para atenuar isso”, detalha Ezia.