Fake News e o incêndio no Reichstag alemão

André “Bode” Marcos*

Vivemos uma enxurrada de notícias e informações que, em alguns casos, são mentiras ou fake news, como se diz modernamente. Com a popularização das redes sociais e dos aplicativos de troca de informações via celular cada vez mais utilizados, a possibilidade de informações falsas e mentirosas cresce exponencialmente. Eleições são vencidas ou perdidas, carreiras artísticas e esportivas são comprometidas e até profissionais experientes do meio jornalístico e intelectual são alvos nessa rede. Mas se você pensa que essas situações são frutos da internet e da modernidade, engana-se. Algumas fake news históricas geraram extrema confusão para as pessoas das mais variadas épocas e sociedade.

O regime nazista pode ser considerado o campeão das fake news: sobre judeus, esportes, história, antropologia, economia, guerras, religião, etc. Esse regime horrendo protagonizou algumas das maiores atrocidades contra a humanidade e, grande parte disso, baseando-se em fatos mentirosos. Escolhemos um fato que o consolidou no poder em 1933: o incêndio do Parlamento.

Quando a notícia do incêndio do Parlamento alemão atingiu a população em 27 de fevereiro de 1933, uma massa indignada de alemães dirigiu-se ao prédio que estava isolado pela polícia e os bombeiros tentavam apagar o fogaréu em vão. Hitler e Goebbels (ministro da propaganda alemã) também se dirigiram ao local para apurar os fatos. Goebbels procurava alguma vantagem política com o acontecimento, chegando a conversar com Hitler: “Vamos tomar o poder agora, por meio do incêndio, do medo e do terror”. Hitler tinha sido recém-nomeado Chanceler pelo presidente Hindenburg e o partido Nazista ainda não tinha se firmado no poder.

Um jovem holandês foi preso – Marinus van der Lubbe – e confessou ter sido o responsável pelo atentado num repúdio ao governo e aos nazistas. Como ele tinha relações com os comunistas, rapidamente Hitler acusou os comunistas de uma conspiração contra o governo e declarou: “Precisamos exterminar essa peste assassina com punhos de ferro”. Naquela noite, vários deputados comunistas foram presos e as tropas de assalto S.A. foram autorizadas a utilizar armas de fogo contra os “inimigos”. Até abril, mais de 25 mil pessoas tinham sido detidas.

O presidente Hindenburg, pressionado, publicou O Decreto do Presidente do Reich para a proteção do povo e do Estado, no qual as liberdades de expressão, opinião e reunião, eram proibidas e o sigilo de correio quebrado. Essas medidas possibilitaram a real ascensão nazista ao poder. Alguns historiadores ainda afirmam que o incêndio foi provocado pelos próprios nazistas para gerar um clima de instabilidade propício à utilização da violência e da censura, mas o consenso atual é de que foi realmente o jovem holandês numa atitude impensada e inconsequente que desencadeou toda essa confusão. A população, por sua vez, acreditava nas notícias propagadas pelos jornais, que acusavam os comunistas de tramarem uma conspiração contra o governo.

As fake news não são de hoje, mas, até as mais inocentes e despretensiosas, podem ser muito perigosas, pois a maioria das pessoas apenas aceita como verdadeiro e reproduzem o que viram sem contestar ou confirmar, gerando um “telefone sem fio”. Mas neste mundo moderno, com as facilidades das redes sociais, como evitar que um parente seu receba pelo WhatsApp uma informação e a repasse no grupo da família como verdade absoluta?

 

*André “Bode” Marcos, especialista em História do Brasil e Gestão Escolar, é professor do Colégio Positivo, em Curitiba (PR). 

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