Lideranças do setor automotivo estudam medidas para a retomada do mercado

Em debate on-line, líderes sugerem que saída para superar a crise passará pela desburocratização, incremento do e-commerce e estímulo ao consumo consciente com uso de crédito de forma sustentável

 

Colocar as pessoas no centro de todas as decisões. Essa é a diretriz que vai seguir norteando as ações das principais lideranças dos segmentos financeiro e automotivo, mesmo após Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos) e Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) confirmarem, nos números do mês de abril, a dimensão dos impactos na produção (- 99%) e nas vendas (-76%) do setor, com o isolamento social.

Em debate on-line, com a participação de mais de 1.200 empresários do setor, o presidente da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), Hilgo Gonçalves; o presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Júnior; o vice-presidente da Fenauto (Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores), Enilson Sales, e o vice-presidente da Tecnobank, Luís Otávio Matias, confirmaram um entendimento comum que salvar e preservar vidas são prioridades, inclusive, para a continuidade dos negócios. Na falta de uma alternativa melhor, todos aderiram ao fechamento das concessionárias, mas parte deles também se mostra favorável a uma liberação organizada da abertura, de acordo com a realidade de cada região. Anfavea, Fenabrave e Fenauto, inclusive, apresentaram propostas aos governos estaduais sugerindo tal flexibilização com um protocolo de segurança.

A imprevisibilidade sobre o fim do isolamento, porém, não compromete a convicção sobre as oportunidades decorrentes da crise, a exemplo de outros momentos difíceis superados pelos participantes. “Temos, neste grupo, uma experiência enorme de se retomar, de como lidar com crises – e não será diferente desta vez. Vamos sair fortalecidos e ainda mais unidos. Somos pessoas que apoiam pessoas e colocam pessoas no centro das nossas decisões. Assim o mundo se acerta e nós acertamos o mundo”, acredita Luís Otávio.

“Isso é cíclico”, resumiu Alarico, complementando que o otimismo tem sido testado frente à dificuldade de caixa e à falta de previsibilidade. “Essas duas vertentes têm machucado o setor da distribuição. Desemprego gera fome e a fome, igualmente, mata. Isso é muito importante ser levado em consideração”, complementou o presidente da Fenabrave.

“A perda de renda é para todos. As pessoas vão precisar arrumar a casa primeiro, vão ter que arrumar o hiato de renda e isso é o que vai determinar a retomada”, ponderou, Hilgo. “Precisamos que as pessoas estejam bem para haver boas oportunidades de negócios. A continuidade das vendas vai depender de como estamos cuidando de nossos colaboradores, de nossas parcerias e de nossos clientes”, defendeu.

Sobre um dos fatores determinantes para a retomada das vendas de veículos, a disponibilidade de crédito, o presidente da Acrefi apresentou argumentos sólidos para o otimismo. “Se depender do Sistema Financeiro Nacional, vamos sair desta crise. Temos um sistema sólido, no qual o regulador, o Banco Central, injetou recursos suficientes para ter liquidez”, garantiu Hilgo. “Mais de 60% das instituições associadas à Acrefi atendem ao mercado de veículos e em todas, sem exceção, nota-se um apetite, uma segurança e uma tranquilidade na retomada”, informou.

 

Mundo em promoção on e off-line

Assim como a certeza de que a crise será superada, os debatedores reconheceram que a pandemia deixou clara a tendência para o setor de coexistir canais de vendas pela internet e lojas físicas. “Nesta pandemia, o mundo entrou em promoção. O trabalho do revendedor é ir buscar o cliente via internet ou nos showrooms, quando isso for liberado”, defendeu Enilson. Segundo ele, um levantamento da entidade junto aos principais portais de vendas de veículos mostrou que, após uma queda inicial na audiência entre final de março e início de abril, tais portais começam a registrar um aumento nas propostas eletrônicas. “O mercado de distribuição de veículos vai se adaptar rapidamente ao on-line, porque as operações não são excludentes”, observou Luís Otávio.

“Em um mundo que tudo que se compra chega à sua casa, não dá para viver de papel moeda e autenticação analógica. O eletrônico chegou, vai atuar de forma célere e transformar nossa economia em algo mais leve. Que todos possam fazer seus negócios sem grandes intermediações e burocracias, a exemplo do que acontece em todos os mercados”, complementou Luís Otávio, acrescentando que a retomada deverá focar em gerar senso de oportunidade para as pessoas, para que os consumidores percebam a realização de um sonho.

 

Fenabrave teme por fechamento de 30% das concessionárias

O presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Júnior, acredita que vai demorar alguns anos para a equiparação de patamares das vendas no Brasil antes da Covid-19. “Sou extremamente otimista, mas não dá para deixar a realidade de lado. Na crise de 2015/16, saímos de 3,7 milhões para menos de 2 milhões de veículos vendidos; 2,1 mil concessionárias foram fechadas e 172 mil empregos foram eliminados”, recordou.

A falta de previsibilidade sobre a reabertura das lojas e a falta de liquidez, segundo ele, agravam a situação do setor. “Cada semana de fechamento é uma limitação e uma piora ainda maior na atividade. Muito provavelmente, 30% das 7,3 mil concessionárias e dos 315 mil colaboradores diretos devem ficar pelo caminho”, admitiu.

 

Cadastro Positivo

Para Hilgo Gonçalves, o Sistema Financeiro Nacional está estruturado para garantir liquidez e solidez à superação econômica da crise – com critérios para a liberação de financiamentos. Tanto que algo que deverá ser fortalecido é o Ccadastro Ppositivo de crédito. “Enquanto o desemprego e a perda de renda poderão comprometer a melhor análise do crédito, o Cadastro Positivo será muito importante, pois traz o histórico do comportamento financeiro da pessoa. Atualmente, o banco de dados conta com cerca de 100 milhões de pessoas e a previsão é que nos próximos anos sejam incluídas mais 20 milhões que, atualmente, não são bancarizadas, contribuindo, com isto, com o momento e com a continuidade dos negócios”, assegurou o presidente da Acrefi. “O crédito deve ter como propósito a realização de um sonho, não para um endividamento, mas uma compra consciente que vai gerar uma experiência positiva que fideliza o cliente”, complementou.

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