Angรฉlica Molteni e Dario Paixรฃo*
Nรฃo รฉ novidade que a imagem do Brasil no exterior seja negativa, controversa, ambรญgua e difusa graรงas a dezenas de anos de equรญvocos, desleixos, falta de investimentos e tambรฉm de profissionalismo. O estereรณtipo de paรญs da festa, da sensualidade, do sexo fรกcil, da preguiรงa e do jeitinho nos remete a um paรญs visto com preconceitos, potencializado pela reputaรงรฃo de desigual, violento, protecionista e descuidado com o meio ambiente.
A gritante falta de uma polรญtica clara, abrangente, atual e global em relaรงรฃo ao produto Brasil que valorize nossa hospitalidade, musicalidade, multiculturalidade, gastronomia e patrimรดnios histรณrico-culturais desemboca em dificuldades de comunicar nossa identidade e valorizar a diversidade da naรงรฃo. O marketing internacional do paรญs serve para aumentar o fluxo de visitantes de lazer e de negรณcios; atrair investimentos nos setores produtivos e aumentar as exportaรงรตes das empresas brasileiras.
Quem supera o medo da violรชncia brasileira e visita o paรญs, sente-se incomodado pela dificuldade de comunicaรงรฃo em outros idiomas ou pela falta de limpeza de nossas cidades. Somente nossos atrativos e a simpatia do povo brasileiro nรฃo sรฃo suficientes para gerar renda e emprego. Por isso, estamos estagnados com menos de 0,5% do turismo e do comรฉrcio mundial hรก anos. Pasmem: em 2018, a Repรบblica Dominicana arrecadou mais com o fluxo de estrangeiros que o Brasil.
Um produto ou serviรงo brasileiro para ser vendido no exterior precisa de preรงos competitivos, qualidade acima da mรฉdia, valor agregado e marca respeitada. Essa รบltima รฉ a ponta do iceberg do marketing internacional e, quando forte, tem o poder de comunicar valores intangรญveis, tais como a seriedade para os negรณcios ou a hospitalidade de uma naรงรฃo. Nรฃo รฉ fรกcil construir uma marca com impacto positivo, mas um bom exemplo foi o premiado Plano Aquarela (2004-2018), com uma marca bonita e eficiente que comunicava bem o Brasil para o exigente e competitivo mercado global. Jรก a nova marca รฉ ambรญgua, amadora e constrangedora para o design brasileiro. Apenas observou-se o mรฉrito de economizar dinheiro pรบblico. O famoso barato que sai caro.
Nรฃo hรก desculpas para a promoรงรฃo amadora de nosso paรญs. Sรฃo inรบmeros os bonsย casesย pelo mundo (a marcaย Visit Peru รฉ um รณtimo exemplo); hรก profissionais de ponta na Embratur e na Apex-Brasil (mas sofrendo mandos e desmandos polรญticos); especialistas em marketing de destinos e lugares nosย Convention & Visitors Bureaux, agรชncias de desenvolvimento, federaรงรตes das indรบstrias, Sebrae e cรขmaras de comรฉrcio (todos com orรงamento limitado), e melhorarmos a divulgaรงรฃo realizada atรฉ o inรญcio dos anos 1990 (da mulher, praia carnaval e futebol).
O marketing do Brasil nรฃo รฉ trabalho para amadores. Urge aumentar a renda e diminuir o desemprego com o auxรญlio de um planejamento estratรฉgico, evitando os constantes cortes de verbas do jรก limitado, mal explorado, menosprezado e deficiente produto que oferecemos. Marketing internacional รฉ รกrduo e com muitas variรกveis incontrolรกveis. Enquanto isso, por nossa expertise em descontinuidade, seguimos criando polรชmicas com uma marca similar ร de uma farmรกcia popular e com a divulgaรงรฃo de uma dupla sertaneja como embaixadora do turismo brasileiro. Aliรกs, como mudar a imagemย Brazil, sem mudar o produto Brasil?
*Dario Luiz Dias Paixรฃo รฉ doutor em Gestรฃo do Turismo, professor de Negรณcios Internacionais e Turismo e coordenador-geral de Pรณs-Graduaรงรฃo da Universidade Positivo.
*Angรฉlica da Cunha Molteni รฉ mestre em Turismo e professora de Gestรฃo de Eventos da Universidade Positivo.ย