Alguns estudos verificaram a hipรณtese de que preconceito racial e comportamentos contra imigrantes estรฃo relacionados ao aparecimento de discursos de extrema direita, e ao consequente aumento de votos nos partidos associados a ela.
Isso nem sempre indica o reaparecimento da ideologia nazista ou fascista, mas sempre significa o culto ร personalidade autoritรกria, o desejo de lideranรงas fortes, crรญticas a uma aparente desordem nacional e a procura de certa cidadania que exclui os โdiferentesโ.
Mesmo nรฃo defendendo um racismo no conceito usual do termo, tentam defender que diferenรงas culturais, vigentes nas relaรงรตes entre os vรกrios grupos, podem inviabilizar o funcionamento das normas sociais.
Isso constituiu o que denominamos racismo estrutural, uma forma de violรชncia reproduzida no tecido social que assume caracterรญsticas institucionais e culturais, ou seja, nรฃo direta, porque esta costuma chocar as pessoas.
ร perceptรญvel este fenรดmeno naqueles que denominados โcapitรฃo do matoโ, ou seja, o discriminado que assume todos os valores dos discriminadores, numa tentativa desesperada e infrutรญfera de, pela adesรฃo emocional, estar ao lado dos dominadores e, assim, superar a inferioridade de que se julga possuidor. Estรฃo aรญ alguns dirigentes de รณrgรฃos estatais que ilustram a triste realidade, material farto para vรกrias anรกlises.
Ressalta bem este conceito a minuciosa construรงรฃo da inferiorizaรงรฃo dos negros com afirmaรงรตes que os mantรชm em posiรงรตes subalternas, sob justificativa de incapacidade, ou falta de vontade para o trabalho, ignorando a ausรชncia histรณrica de um efetivo processo educativo abrangente e inclusivo capaz de produzir isonomia na formaรงรฃo para o mundo do trabalho.
As meias verdades e o passado escravagista associados aos conceitos de supremacia branca, surgidos oportunisticamente para justificar o colonialismo e sua absurda comitiva de desmandos, brutalidades e genocรญdios, reforรงaram o preconceito contra negros, รญndios e imigrantes.
Preconceito este sempre negado no aparecimento da opiniรฃo sobre democracia racial e o falso discurso da meritocracia, segundo o qual aqueles que se esforรงarem poderรฃo usufruir de direitos iguais โ uma falรกcia utilizada para apontar as polรญticas de combate ao racismo como desnecessรกrias, jรก que pessoas possuem as mesmas oportunidades, e as ofensas raciais passam a ser consideradas como simples piadas, parte do espรญrito irreverente de nosso povo. Somos engraรงados e sinceros, apenas.
Desta forma estruturamos uma determinada normalidade para o racismo presente nas relaรงรตes sociais, econรดmicas, jurรญdicas e polรญticas, perpetuando a desigualdade e principalmente negando-a, o que nรฃo muda mesmo quando aceitamos uma responsabilizaรงรฃo individual: dizemos que aquela pessoa (ou empresa) foi racista, como se isso fosse exceรงรฃo.
As melhores posiรงรตes no mundo do trabalho, assim como a total liberdade, propriedade privada, finanรงas, sรฃo dominadas por brancos, que definem as normas de conduta ร qual todos devem sujeitar-se. Isso institucionaliza o racismo, tornando os atos de discriminaรงรตes falsos ou inexistentes, e carregamos desde nosso processo de colonizaรงรฃo, fortemente dependente da mรฃo de obra escrava, um Estado em constante estado de exceรงรฃo.
O processo educacional precisa ser completo e eficiente para que possamos falar em igualdade de condiรงรตes, e darmos um passo concreto na direรงรฃo da isonomia e justiรงa plena. Quanto mais soubermos sobre nรณs mesmos, nosso processo civilizatรณrio, nossa ciรชncia e nossa tecnologia, mais combateremos diferenรงas circunstanciais baseadas na quantidade de melanina na pele ou regiรฃo de nascimento.
Boa escola รฉ maturidade e inclusรฃo, capacidade de desenvolver boas polรญticas pรบblicas e as transformaรงรตes sociais, como aquelas que as declaraรงรตes da Organizaรงรฃo das Naรงรตes Unidas (ONU) tem promulgado para colaborar no minorar este estado de coisas, promovendo novas visรตes sobre normas discriminatรณrias.
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Wanda Camargo โ educadora e assessora da presidรชncia do Complexo de Ensino Superior do Brasil โ UniBrasil. wcmc@mps.com.br