O Instituto Nacional de Câncer (INCA) aponta que anualmente são diagnosticados cerca de 41 mil novos casos de tumores de cabeça e pescoço que atingem principalmente boca (língua, assoalho da boca, palato duro, gengivas, mucosa da boca, lábio), orofaringe (região das amígdalas, base da língua, palato mole, parte lateral e posterior da garganta.), demais regiões da faringe, laringe, etc. Com números alarmantes, é fundamental campanhas como a do Julho Verde, promovida pela Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP), que acontece desde 2016. A campanha surgiu a partir do World Head And Neck Cancer Day (Dia Mundial do Câncer de Cabeça e Pescoço), comemorado no dia 27 de julho, e que foi uma iniciativa de entidades internacionais, como a International Federation of Head and Neck Oncology Societies (Federação Internacional das Sociedades Oncológicas de Cabeça e Pescoço).
“Neste ano em especial, temos um outro desafio, que é a COVID-19. A pandemia tem contribuído para o atraso no diagnóstico do câncer, o que gera um grande sofrimento que poderia ser evitado. Com diagnóstico precoce e o estágio inicial do câncer, as chances de recuperação são maiores. Um outro problema é a perda de acompanhamento dos pacientes por causa da COVID-19, o que pode levar a um atraso no diagnóstico de recorrências da doença que, da mesma forma, poderiam ser detectadas mais precocemente, com maiores chances de cura”, cita a cirurgião de cabeça e pescoço, Paola A. G Pedruzzi, do Instituto de Oncologia do Paraná – IOP
A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou recentemente que fumantes têm mais probabilidade de apresentar o estágio mais grave da COVID-19 do que não fumantes. Alguns estudos apontam que o tabagismo está associado ao aumento da gravidade e morte pelo COVID-19. “Quanto à relação entre COVID-19 e tabagismo, os estudos ainda não apresentam resultados conclusivos. Devemos avalizar com bastante critérios os estudos que citam uma possível menor incidência de infecção por COVID nos tabagistas, pois existem várias falhas nestes estudos. A principal falha identificada é que esta menor incidência ocorre porque a população de tabagistas morre antes da idade média dos pacientes acometidos por COVID-19 e, desta forma, os pacientes com doença seriam mais frequentemente não tabagistas. O que de fato sabemos é que o tabagismo agrava em muito a condição pulmonar dos pacientes nas síndromes respiratórias e doenças respiratórias. O tabagismo é conhecido por causar bronquite crônica, bronquiolite, enfisema pulmonar e outras alterações que levariam ao declínio da função pulmonar e comprometeriam a resposta frente a uma infecção. Além disso, o tabagista apresenta maior número de comorbidades, isto é, outras doenças associadas que podem agravar o quadro clínico do paciente infectado pelo coronavírus”, destaca Dra. Paola Pedruzzi.
Neste ano, o tema para a campanha escolhido pela SBCCP é “O câncer tá na cara, mas às vezes você não vê. Seu corpo é sua vida. Não o destrua”. De acordo com a oncologista e cirurgiã de cabeça e pescoço, “a boca é um local de fácil acesso ao autoexame, então deveríamos diagnosticar estes caso muito facilmente e em estágios iniciais, porém, esta não é a realidade em nosso país. Os tumores mais posteriores, da parte posterior da língua, garganta (orofaringe, como amígdalas) e laringe, por exemplo, já não são tão visíveis ao autoexame, por isso, sinais de alerta são importantes.
Ligue o sinal de alerta
A importância do diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso do tratamento e a cura do câncer de cabeça e pescoço. No entanto, em 60% dos casos, o paciente chega com o tumor avançado, deixando sequelas para o indivíduo. Dra. Paolo Pedruzzi explica que muitas vezes os tumores de cabeça e pescoço podem ser assintomáticos no início da doença, o que leva à demora do diagnóstico. Por esse motivo, é importante ressaltar que se trata de tumores altamente possíveis de prevenção, por medidas simples, como evitar ou abandonar os fatores de risco, entre eles o tabaco e álcool, responsáveis por cerca de 90% dos casos. O HPV (papilomavírus humano) também pode ser o agente causador de alguns tumores, especialmente o câncer da orofaringe (amígdalas).
O autoexame da boca e a consulta médica ou odontológica de rotina, devem estar presentes na vida das pessoas, em especial os tabagistas, usuários frequentes do álcool e idosos que fazem uso de próteses dentárias. A médica alerta que o autoexame não substitui a consulta médica, mas que pode detectar lesões mais precocemente. “O exame deve ser realizado em frente ao espelho, com boa iluminação e consiste na inspeção visual e palpação. A pessoa deve ficar atenta se encontrar manchas brancas ou avermelhadas na boca, feridas ou lesões que não cicatrizam em 7 a 14 dias, nódulos no pescoço, mudança na voz e rouquidão, dificuldade para engolir, emagrecimento, entre outros”, aponta a cirurgiã de cabeça e pescoço.
Avanços no tratamento
As sequelas da doença são muito menores quando o tratamento é realizado no estágio inicial e o paciente permanece com bons resultados funcionais de voz e deglutição e também com resultados estéticos bastante favoráveis. O câncer é uma doença multifatorial, causada por hábitos de vida, e os fatores genéticos são menos frequentes. Atualmente sabemos que os principais fatores de risco para câncer de cabeça e pescoço são cigarro, álcool e papilomavírus humano (HPV), porém outros fatores são muito importantes como alimentação, atividade física, peso corporal excessivo, fatores emocionais, etc. O paciente pode contribuir para a melhora da sua saúde adotando hábitos saudáveis, como, por exemplo, uma alimentação saudável (dieta anti-inflamatória), redução do estresse e ansiedade, atividade física regular, sono adequado, etc. e que associados ao tratamento convencional beneficiam em muito o paciente.
Além das terapias tradicionais, nos últimos anos, drogas novas têm conseguido melhorar o prognóstico dos pacientes, com uma ação mais eficiente e menos agressiva ao organismo, como as imunoterapias e terapias-alvo. “Porém, a prevenção ainda é a melhor maneira para se evitar os tumores de cabeça e pescoço. Mantenha hábitos saudáveis, não fume, alimente-se bem, evite álcool em excesso, durma bem, cuide da sua saúde mental e física”, finaliza Paola A. G. Pedruzzi.