Especialista do HCor explica recomendações para os chamados grupos de risco
Com a realidade do início da vacinação contra Covid-19 no Brasil, pacientes dos chamados grupos de risco começaram a se questionar se podem ou não se vacinar.
Muito além das questões incoerentes baseadas em fake news sobre os imunizantes produzidos pelo Instituto Butantan com o laboratório chinês Sinovac, e pela Universidade de Oxford com a Fiocruz, essa população tem dúvidas importantes sobre contraindicações e interações medicamentosas, por exemplo.
De acordo com o líder médico da Infectologia do HCor, Guilherme Furtado, a recomendação para quase 100% das pessoas, estejam elas ou não em grupos de risco, é para que se vacinem. No entanto, é claro, há algumas poucas exceções. Abaixo, o infectologista aponta quais são elas:
Alérgicos a componentes das vacinas
“Embora os imunizantes liberados no Brasil não contenham componentes altamente alergênicos, algumas pessoas podem ser alérgicas a certas substâncias”, salienta Furtado.
A vacina do Instituto Butantan contém hidróxido de alumínio, hidrogenofosfato dissódico, di-hidrogenofosfato de sódio, cloreto de sódio e hidróxido de sódio. Enquanto a da AstraZeneca inclui cloridrato de L-histidina monoidratado, cloreto de magnésio hexaidratado, polissorbato 80, etanol, sacarose, cloreto de sódio e edetato dissódico di-hidratado (EDTA).
Aqueles que tomaram a primeira dose e manifestaram anafilaxia – reação alérgica grave – não devem se submeter à aplicação da segunda dose.
Pacientes que têm alergia a outras vacinas devem ficar atentos, verificando se o local está preparado para atender casos de reações alérgicas e ficando em observação por até meia hora depois de se vacinar.
Crianças e adolescentes abaixo de 18 anos
As vacinas disponíveis até o momento são indicadas para a população acima de 18 anos. Esse público não é considerado prioritário, por desenvolver, em geral, formas mais leves da doença.
Febris ou com suspeita/confirmação de Covid-19
“Quem teve febre nas últimas 24 horas deve adiar a vacinação, até uma melhor avaliação do quadro febril. O mesmo vale para quem está com Covid-19 ou suspeita da doença”, orienta o especialista.
Quadros agudos de doenças crônicas também demandam que a imunização seja postergada. Ou seja, se o paciente estiver com uma agudização de qualquer processo crônico no dia de se vacinar, deve aguardar que a doença se estabilize.
“Pacientes que tomam imunoglobulina intravenosa, em tratamentos para algumas doenças inflamatórias ou imunológicas, precisam esperar um mês após a aplicação para se vacinar, isso porque a substância pode interferir na efetividade da vacina”, explica.
Recuperados da Covid-19
Pacientes recuperados de casos leves de Covid-19 podem se vacinar. Já aqueles que passaram por quadros graves e críticos com internações recentes, que provavelmente apresentam ainda um nível elevado de anticorpos, podem aguardar algumas semanas após a alta para se vacinar.
“É prudente essas pessoas aguardarem, pois estão em convalescença e, como esse tipo de paciente não foi incluído nos estudos vacinais, não temos ainda uma resposta clara sobre a vacinação precoce pós-alta nesse grupo”.
Grávidas e lactantes
Há ainda uma discussão sobre a aplicação da vacina em grávidas e lactantes, mas não há uma contraindicação formal para essa população.
A Sociedade Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia já sugere a vacinação, no entanto, “tem que haver um acordo entre o médico e a paciente, comparando-se os benefícios e os riscos potenciais”, reforça Furtado.
Podem se vacinar a qualquer momento
Pessoas com câncer, HIV e diabetes podem se vacinar tão logo chegue sua vez na fila. Também não há contraindicações para pacientes cirúrgicos ou que estejam em programação cirúrgica.
“O mesmo vale para os cardiopatas, que são um dos principais grupos de risco para Covid-19. A Sociedade Brasileira de Cardiologia, inclusive, indicou a prioridade de vacinação para essa população”, esclarece o infectologista do HCor.
O médico ainda comenta que não é necessário alterar nenhuma medicação que esses pacientes venham tomando, já que a administração concomitante da vacina com esses medicamentos não os torna menos eficazes e não ocasiona reações adversas.
Deve-se apenas ter cautela em pacientes em uso de anticoagulantes pela aplicação intramuscular da vacina, podendo haver risco de hemorragia local. Nesses casos, pode-se usar gelo local após a vacinação para minimizar esse problema.
Seguras e eficazes
Tanto a vacina de Oxford quanto a CoronaVac foram consideras seguras e eficazes no combate à Covid-19, e ambas já estão aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A primeira utiliza a tecnologia de vetor viral, ou seja, um adenovírus que não é capaz de se replicar no organismo da pessoa e, por isso, não oferece risco aos imunizados. Já a segunda, é feita com vírus inativo – metodologia usada em muitas outras vacinas – que induz o corpo a gerar os anticorpos necessários para combater a doença.
“A taxa de eficácia das vacinas aprovadas é suficientemente boa para nos prevenirmos. Há quem questione os 50,38% da CoronaVac sem observar que ela teve 100% de eficácia nos quadros graves e críticos, apesar do número pequeno de pacientes nesse subgrupo”, relembra o especialista. Segundo ele, é fundamental compreender que a vacina do Instituto Butantan reduz pela metade o risco de adoecer e que, com ela, mesmo que adoeçamos, estamos 100% livres de adoecer gravemente.
luna.aghata@maquina.inf.br