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Carnaval, escolas e pandemia / Por Wanda Camargo*

O Carnaval é uma festa religiosa, embora pareça irônico. É parte dos ritos da “Septuagésima”, tempo que inclui a Quaresma.

Muitas religiões, muitos povos, têm tradições fortes de períodos de abstinência e moderação no consumo de alimentos e bebidas. É o caso da Quaresma cristã, do Ramadã muçulmano, do jejum do Yom Kipur judaico, e de muitos outras confissões ou filosofias religiosas ou laicas. Há nisso o aspecto de respeito a datas importantes, reforço à própria autoestima pela disciplina praticada, até o sacrifício por algum objetivo material ou político.

Os benefícios do comedimento e temperança são inegáveis e reconhecidos há muito tempo pela medicina e outras ciências da saúde, desintoxicar periodicamente o corpo e a mente é parte importante de uma vida saudável e favorece a longevidade, e este ato costuma ser comemorado ao final.

As festividades de sátira, inversão temporária de papeis sociais, uso de disfarces, consumo exagerado de bebidas e determinados alimentos, existem desde a antiguidade marcando geralmente o início da primavera e do plantio no hemisfério norte. Essas festas incluíam comemorações entre os antigos egípcios, judeus, gregos e por fim romanos, e delas o Carnaval do cristianismo ocidental, quando a Igreja autorizava o afrouxamento de certas regras de comportamento antes do início do período quaresmal em que jejum, mortificações e orações constantes eram obrigatórios.

Como o conhecemos, o Carnaval deve ter se iniciado em Veneza com as mascaradas da “commedia dell’arte”, e festas populares de Paris donde se espalharam por muitos lugares com destaque para as cidades de Nice, Nova Orleans, e finalmente Rio de Janeiro.

Desde o século dezenove o povo se divertia nas ruas do Rio, Salvador, Parati e outros locais com as “brincadeiras” do entrudo, que envolviam batalhas de água e outros líquidos, máscaras, danças, zombarias a autoridades, excesso de bebida alcoólica, e por fim brigas que podiam resultar até em mortes. Os privilegiados comemoravam em clubes e sociedades, e desfiles nos primeiros automóveis, os “corsos”.

O espírito festeiro e a musicalidade popular geraram os “blocos” carnavalescos, alguns ainda existentes, e por fim as “escolas de samba”, gênese do que é hoje o maior carnaval do planeta. Embora o desfile das escolas do Rio de Janeiro seja o que mais se conhece desta festividade, as expressões mais autênticas, e divertidas, são os blocos de rua, as bandas, os cordões, os trios elétricos, os foliões solitários, que existem em todo o país, de Manaus a Antonina, de Salvador a Pirapora, e no Rio, sempre no Rio.

Neste ano a festa será mais triste, a prudência assim o recomendou, e o bom senso reforça a recomendação de evitar aglomerações, justo no Carnaval, a essência da aglomeração e do ajuntamento. Mas não podemos facilitar o trabalho deste vírus assassino, não devemos nos colocar em risco, menos ainda aos que amamos. Ruy Castro em seu livro “Metrópole à beira mar” relata a Gripe Espanhola em 1918, que também matou milhares de brasileiros, e conta que quando a peste passou no início de 1919 foi comemorado o maior carnaval que já se havia visto.

A comemoração deste ano deverá ser bem menor, embora a alegria possa ser online e entre familiares, torcendo todos para que o carnaval de 2022 possa ser comemorado livre da Covid, e como homenagem aos profissionais que a combateram, respeito às vítimas e seus familiares, e despertar de mais este pesadelo.

Neste momento de tímido retorno às aulas, cercados de cuidados e com receio, pois se trata de nossas crianças e jovens, com a maior parte dos professores ainda sem perspectiva próxima de vacina, a faixa etária será contemplada bem mais tarde, e a insegurança das etapas seguintes é grande. Não primamos pela eficiência governamental no combate a esta doença, precisamos nos destacar na responsabilidade pessoal.

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.

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