Apesar da crise sanitária da Covid-19, o consumo aparente – produção nacional somada ao total das importações do período, descontadas as exportações – de produtos para a saúde caiu 1,5% no Brasil, em 2020. É o que revela o Boletim Econômico da Aliança Brasileira da Indústria Inovadora em Saúde (ABIIS), que acaba de ser divulgado. A produção doméstica teve queda de 22,2%, resultado do cancelamento de procedimentos e cirurgias eletivas (baixa de 25,9%) e da redução de 21,2% no número de exames diagnósticos, que comprometeram a cadeia de suprimentos na indústria de dispositivos médicos (DMs).
Por outro lado, houve um aumento na fabricação de itens destinados ao enfrentamento da Covid-19, como EPI’s, ventiladores, vestimentas e outros descartáveis. No acumulado de janeiro a dezembro do ano passado, as importações cresceram 12,9% e as exportações 16,4%, em relação ao mesmo período de 2019. “A pandemia desorganizou o mercado global de DMs como um todo, que encolheu 3,2%”, conta o diretor executivo da ABIIS, José Márcio Cerqueira Gomes, que acrescenta: “Não tivemos um cenário tão ruim quanto em outros países, mas no mercado interno, a queda (de 22,2%) na atividade da indústria doméstica de produtos para a saúde foi mais severa do que a verificada na indústria de transformação como um todo, que acumulou contração de 4,6%, em 2020”.
Entre janeiro e dezembro de 2020, o número de internações hospitalares no SUS teve uma redução de 20,5%, em relação ao mesmo período do ano anterior. A maior parte ocorreu com a finalidade de tratamento clínico, 40% do total. Apesar de 462.149 pessoas terem sido internadas para o tratamento clínico da Covid-19, as internações por gripe no período apresentaram redução de 44%.
Durante o ano, foram realizadas cerca de 3,7 milhões de cirurgias, um número 25,9% menor do que as 4,99 milhões registradas em 2019.
Também houve queda significativa nos exames realizados na atenção ambulatorial no SUS, 21,2%, no acumulado de janeiro a dezembro de 2020. Destaque para a redução de 38,8% na realização de endoscopias, 38% no diagnóstico por anatomia patológica e citopatologia, 36% na coleta de materiais, 26,9% em ultrassonografias e 25,6% em raio-x.
Todas essas quedas impactaram também no mercado de trabalho, que abriu apenas 146 vagas no ano e cresceu 0,1%. Em 2020, o setor de saúde totalizou 142.052 trabalhadores, número que não inclui os empregados em serviços de complementação diagnóstica e terapêutica. Entre os segmentos, destaca-se o fechamento de 614 postos de trabalho na ‘Indústria de instrumentos e materiais para uso médico e odontológico e de artigos ópticos’.
“Estima-se que o mercado global de dispositivos médicos deve se recuperar e crescer cerca de 6% a.a., a partir de 2021. No Brasil as expectativas são menos otimistas. Esperamos uma leve recuperação este ano, com a gradativa retomada de consultas, procedimentos e cirurgias, a depender de uma aceleração no processo de vacinação”, finaliza José Márcio Cerqueira Gomes.
O Boletim Econômico ABIIS é desenvolvido pela Websetorial Consultoria Econômica. O estudo completo está em https://abiis.org.br/dados-economicos/