Em meio a tantas incertezas, a chegada da vacina contra a Covid traz esperança para toda a população. No entanto, ainda existem muitas dúvidas sobre a relação entre a vacinação e a necessidade de testagem para a melhor contenção da pandemia. O médico geneticista David Schlesinger, CEO da Mendelics, laboratório responsável pelo desenvolvimento do primeiro teste de detecção do coronavírus em amostra de saliva no Brasil, o #PARECOVID, responde às principais dúvidas sobre o assunto. Confira:
É possível transmitir a doença mesmo após estar vacinado? Se sim, poderei transmitir a doença na forma mais grave ou a vacina também ameniza o vírus transmissor?
David – Sim, é possível transmitir a doença mesmo vacinado. Estudos mostram que todas as vacinas reduzem as chances de contrair a doença, assim como reduzem as chances de apresentar sintomas, principalmente na forma mais grave, e reduz muito a chance de transmissão para outras pessoas, mas não zera nenhuma dessas possibilidades. Após vacinado, as chances de transmissão da doença são reduzidas em 90%. Também existe uma queda na mortalidade em 95%. Mas ainda há uma pequena chance de transmissão e mortalidade, e, por isso, o uso de máscara e alguns outros protocolos – como manter distanciamento social, lavar as mãos frequentemente, evitar aglomerações e espaços mal ventilados – são muito importantes enquanto não tivermos uma parcela muito grande da população imunizada. O uso da máscara não é apenas para se proteger do vírus. O grande benefício da máscara é proteger as outras pessoas que ainda não estão vacinadas.
Posso receber a vacina logo após ter testado positivo para a doença? Neste caso, estarei protegido dos sintomas graves?
David – Pode, porém não é recomendado que a pessoa saia de casa se tiver no período infectante. O ideal é esperar passar este período para não colocar outras pessoas em risco.
É possível vacinar uma pessoa que está internada e/ou intubada com a doença? Isso pode, de alguma maneira, amenizar ou regredir os sintomas?
David – Não. Quando doente, o sistema imunológico da pessoa está comprometido no combate à infecção e vaciná-la nessa situação não traria benefícios.
Após vacinado, quando devo realizar o teste de Covid-19?
David – Não há necessidade, a menos que você apresente sintomas, ou tiver a necessidade de ir a um ambiente que tenham pessoas não vacinadas. O objetivo é proteger o ambiente. Mas não é preciso testar apenas para saber se foram produzidos anticorpos, pois, em média, 95% das pessoas produzirão anticorpos após as duas doses da vacina.
Os testes sorológicos que detectam volume de anticorpos, conseguem diferenciar se os anticorpos foram gerados por conta da vacina ou de uma infecção (ativa ou passada)?
David – Existem vários tipos de anticorpos contra vários alvos diferentes. Dependendo do teste, sim, é possível detectar, mas no geral eles vão resultar em positivo ou negativo. A maior parte dos testes sorológicos não conseguem detectar o alvo, portanto não há necessidade de testar sorologia depois de vacinado.
Qual teste é mais indicado para detectar o vírus pós vacinação?
David – Tanto o RT-LAMP quanto o RT-PCR são eficazes para detectar o vírus. Nós indicamos o RT-LAMP pela facilidade e rapidez no resultado, fatores que contribuem muito para conter a propagação do vírus.
O teste RT-LAMP ou RT-PCR é capaz de detectar alguma variante do vírus? Isso tem interferência após a vacinação?
David – Para detectar qual é a variante é necessário fazer o sequenciamento do material genético do vírus. Atualmente, os testes de diagnóstico do Sars-Cov-2 não sequenciam o vírus, restringindo-se a detectar sua presença na amostra coletada.
Se testei positivo após ter sido vacinado, qual a probabilidade de apresentar os sintomas mais graves da doença?
David – De acordo com estudos, as vacinas mais aplicadas no Brasil protegem cerca de 95% das manifestações graves da doença.
Se testei positivo após ter sido vacinado, devo procurar um hospital? O que muda no tratamento neste caso?
David – Qualquer pessoa que tenha testado positivo, com sintomas ou não, deve seguir as recomendações do seu médico e do Ministério da Saúde – http://coronavirus.saude.gov.
– Fazer isolamento por, pelo menos, 14 dias para diminuir o risco de contaminação para outras pessoas;
– Não compartilhar objetos, ficar sozinho em um cômodo e, se possível, com banheiro próprio;
– Caso divida ambientes com outras pessoas, usar máscara e fazer a higienização dos locais com água e sabão, álcool 70% ou água sanitária após o uso.
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