Mulheres podem realizar um parto normal após uma primeira gestação com cesárea?

VBAC é o termo em inglês para parto vaginal após uma cesárea, que é cada vez mais realizado justamente porque a obstetrícia mostrou através de vários trabalhos científicos que o risco é extremamente baixo

Mulheres podem realizar um parto normal após uma primeira gestação com cesárea?A Organização mundial da Saúde indica que a taxa ideal de cesáreas deve ser de 10% a 15% dos casos – sempre quando a recomendação de saúde pode reduzir a mortalidade e morbidade da mãe e do bebê. Mas o Brasil extrapola essa taxa: cerca de 55% dos partos no Brasil são cesáreas (no sistema privado o índice chega a 86%). A Agência Nacional de Saúde, por conta disso, realiza, há mais de uma década, um trabalho de incentivo ao parto normal para reduzir o número de cesáreas desnecessárias. E, para completar, muitas mulheres acreditam que não é possível fazer um parto normal após uma primeira gestação com cesárea. Mas isso não é verdade: “É possível, sim, ter um parto normal pós-cesárea, mas vale ressaltar que mulheres com duas ou mais cesáreas anteriores têm o dobro de risco de complicações comparadas com aquelas que tiveram apenas uma. Com relação a somente uma cesárea prévia, não há contraindicação para que a segunda gravidez seja de parto normal”, explica a Dra. Eloisa Pinho, ginecologista da clínica GRU. Há um termo para esses casos: VBAC, ou Vaginal Birth After Cesarean (Parto Natural Após Cesárea). “As mulheres possuem um certo receio de não estarem preparadas para encarar este momento tanto psicologicamente como fisicamente, no entanto, cabe ao médico do pré-natal o encorajamento e esclarecimento para que a gestante decida com tranquilidade e segurança o tipo de parto que deseja ter”, completa a médica.

O parto vaginal após cesárea é um tema muito relevante considerando os altos índices de cesárea no Brasil atualmente, segundo a ginecologista. “O parto normal traz uma série de benefícios como uma recuperação mais rápida pós- parto, contato imediato com o recém-nascido, amamentação mais precoce. Mas vale ressaltar que ainda existem riscos, sendo o maior deles a rotura uterina. Este risco é muito raro (0,5 a 1%), porém, é muito grave podendo levar a paciente e o bebê a óbito. Portanto, a decisão do parto deve ser tomada em conjunto: médico e paciente! O parto deve ser individualizado, levando em consideração uma série de fatores que devem ser discutidos incessantemente no pré-natal”, explica a médica.

Mas existem formas de minimizar esse risco. “O trabalho de parto não deve ser induzido. O ideal é sempre aguardá-lo espontaneamente”, explica a Dra. Eloisa. “Além disso, o ideal é que o parto normal seja realizado após dois anos da primeira cesárea. Dessa forma, a cicatriz estará mais forte e o risco de rotura será praticamente nulo nessa situação. O parto vaginal após uma cesárea é cada vez mais realizado justamente porque a obstetrícia mostrou através de vários trabalhos científicos que o risco de rotura uterina é extremamente baixo”, explica o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo.

O parto normal na segunda gravidez pode ser ainda mais importante para as gestações futuras. “O grande benefício de se realizar um parto normal após a cesariana é que a mulher, em uma terceira gravidez, terá menor risco cirúrgico, pois, após duas cesarianas, uma terceira é praticamente obrigatória, o que aumenta muito o risco de complicações cirúrgicas como aderências, infecções e hemorragias. Então, o parto normal é sempre bem-vindo, pois diminui os riscos para a mãe e para o bebê quando comparado com a cesárea. Logo, como não há contraindicação, a mulher, caso deseje, tem todo o direito de realizar um parto normal mesmo com uma cesárea prévia”, finaliza o Dr. Rodrigo Rosa.

FONTES:

*DRA. ELOISA PINHO: Ginecologista e obstetra, pós-graduada em ultrassonografia ginecológica e obstétrica pela CETRUS. Parte do corpo clínico da clínica GRU Saúde, a médica é formada pela Universidade de Ribeirão Preto, realiza atendimentos ambulatoriais e procedimentos nos hospitais Cruz Azul e São Cristovão, além de também fazer parte do corpo clínico dos hospitais São Luiz, Pró Matre, Santa Joana e Santa Maria.

*DR. RODRIGO ROSA: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana

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