Por Jacir Venturi*
As mães foram, são e sempre serão as maiores educadoras de todos os tempos. Lenda ou fato, jamais me esqueci do meu professor de História, que com a verve de um grande didata nos contava que na Antiguidade houve povos invasores que, ao se apoderarem de uma região ou país, exterminavam os homens, conquanto mantinham vivas as crianças e suas mães. E destas, cruelmente decepavam as línguas para que a tradição fosse banida. Desse mister, e do inerente reconhecimento do elevado papel da mãe na formação dos filhos, ressurgia uma geração nos moldes da cultura dos conquistadores.
Ao longo da História, se por um lado as mães sempre tiveram reconhecido esse papel, por seu turno as crianças de hoje não são as mesmas de antes, sendo muito mais estimuladas e detendo participação familiar e social de elevado protagonismo. Assim, mais complexo é o papel de mãe, que mais do que nunca precisa ser versátil, polivalente e afetiva, sem ser muito concessiva.
A maternidade responsável é uma missão e um dever à qual não se pode furtar e se apresenta ainda mais exigente e desafiadora do que no tempo de nossas avós. Ainda assim, a vida profissional, apesar de suas elevadas demandas, pode muito bem ser ajustada a uma vida particular equilibrada. Percebo que muitas mães desenvolvem conflitos interiores por não estarem suficientemente presentes na vida dos filhos, porém mais importante que a quantidade de tempo disponível é a segurança de seu amor e de nutri-lo afetivamente. Mais cedo do que imaginam as mães, os seus rebentos compreenderão a dura tarefa de conciliar o papel de provedora e as tarefas do lar. Mas que a mãe se apresente por inteira na lida com os filhos – lembrando que o celular é meu bem e meu mal; ou para fazer blague, é a maquininha de Deus e do diabo.
Como que a compensar a culpa pela ausência, há mães que cometem dois grandes erros. O primeiro é a leniência, a frouxidão ao exigir responsabilidades dos filhos. A autoridade, quando exercida com equilíbrio, é uma manifestação de amor – até porque é mais trabalhoso ser exigente que ser “boazinha”. O segundo grande erro é a superproteção. Nada mais certo que o arrependimento futuro, pois esta supermãe, paradoxalmente, é falível no que lhe é a preocupação preponderante: não prepara o filho para a vida adulta permeada de adversidades e frustrações e para a qual se exigem autonomia e autoconfiança.
A psicóloga paulista Maria Estela A. Santos se faz oportuna: “Um filho superprotegido possivelmente será um adulto inseguro, indeciso, dependente, que sempre necessitará de alguém para apoiá-lo nas decisões, nas escolhas, já que a ele foi podado o direito de agir sozinho.” Ademais, aos filhos deve-se delegar tudo o que eles têm de capacidade física e intelectual para realizar. Se isso não for feito – e essa dura tarefa deve ser estimulada por todos os adultos da casa –, perde-se uma oportunidade única e é pouco provável que a nossa super-heroína se livre das consequências futuras. E nas situações do dia a dia, muitas são as oportunidades de converter as pequenas frustrações em lições de resiliência, imprescindíveis para uma vida adulta equilibrada.
Como diretor de escola, conheci muitas mulheres vocacionadas para o lar e dedicadas à educação dos filhos, ótimas mães e merecem a nossa justa homenagem. Outras deixaram o trabalho por alguns anos e retornaram ao mercado. Outras, ainda, exerceram a maternidade e a profissão com equilíbrio e planejamento, embora eventualmente perpassasse em seus corações algum sentimento de culpa. É a pluralidade e a diversidade que tornam a vida interessante!
Quando um utensílio realiza três tarefas dizemos que é multifuncional. E o que dizer de uma mãe? Na árdua frágua cotidiana realiza dezenas de funções: cuidadora, provedora, psicóloga, professora, cozinheira, motorista… que em geral agrega aos papéis sociais de esposa, filha, amiga, etc. Há momentos, sim, de desamparo e desalento no cotidiano de uma mãe. Presto minha homenagem a elas neste mês das mães parafraseando a Oração de São Francisco de Assis em sua suprema sabedoria: que eu, sendo mãe, aceite mais consolar que ser consolada. Mais compreender que ser compreendida. Mais amar que ser amada.
Jacir J. Venturi, diretor de escola, professor, avô de 3 netos e vice-presidente do Conselho Estadual de Educação do Paraná