Regra 50: uma discussão em aberto

Zair Candido de Oliveira Netto*

 

Caminhando pelos conceitos do esporte, nos deparamos com a importância na formação do ser humano. Dentre as habilidades cognitivas, as expressões culturais, as manifestações artísticas e as demais áreas da formação humana, o esporte tem um papel relevante nesse ambiente construtivo, sendo recomendado por especialistas educacionais como uma ferramenta fundamental na formação de crianças e adolescentes, pois, além de seus benefícios fisiológicos e do encantamento pela atividade física, que poderá garantir hábitos de vida mais saudáveis, o esporte também agrega valores éticos e morais. Saber respeitar qualquer adversário em suas diversas pluralidades, lidar com a derrota e buscar formas de superação, entender as regras e respeitá-las, além de conseguir avaliar e desafiar seus próprios limites são elementos que fazem parte do cenário esportivo. 

Nesse contexto, o esporte pode despertar o prazer pela atividade física ou também profissional, alavancada, atualmente, pelas redes sociais, mídias e contratos publicitários, que o tornaram muito lucrativo – evidenciando o crescimento global do esporte, somado à exposição de atletas, transformando-o em um campo para discussão de temas emergentes em nossa sociedade. Diversas ligas, confederações e organizações esportivas estão abrindo espaço aos atletas para que se manifestem, principalmente em relação às questões raciais. O slogan “Vidas Negras Importam” ficou evidente na NBA, por exemplo, tendo um impacto imenso no mundo inteiro, após a morte de George Floyd, nos Estados Unidos.

A Global Athlete, ONG formada por atletas de diversas modalidades, ajudou a despertar essa questão importante sobre as manifestações na Olimpíada de Tóquio 2021, se contrapondo com a Regra 50 do Comitê Olímpico Internacional (COI), que proíbe qualquer tipo de manifestação política, racial, religiosa ou outra qualquer que não esteja vinculada à essência esportiva nas cerimônias oficiais da competição. A entidade é a favor de uma reformulação da Regra 50 para que sejam estabelecidos critérios para que os atletas se manifestem durante as cerimônias de premiação nos jogos olímpicos e expressem suas opiniões. Certamente, é um tema relevante e deve ser tratado com muita habilidade e responsabilidade. Precisamos que a sociedade tenha harmonia e respeito, e o esporte e os atletas fazem parte desse processo, tendo um papel importante nessas causas. Só assim poderemos viver pacificamente.

Diante da repercussão desse movimento, o COI fez uma pesquisa entre os atletas olímpicos e o resultado mostrou que cerca de 70% deles é contra qualquer tipo de manifestação, seja política, racial ou religiosa no momento da premiação. Particularmente, concordo com a maioria dos atletas, pois acredito que todo o esforço do atleta para conseguir chegar a uma olimpíada e conquistar uma medalha olímpica é uma glória individual e de toda sua nação. Há vários canais que os atletas dispõem para divulgar seus posicionamentos, inclusive na própria Olimpíada. O COI tem um caderno de ações voltado para as expressões e manifestações dos atletas. O momento da celebração da conquista de uma medalha olímpica representa todo o esforço do atleta, mesmo que bilhões de pessoas estejam vendo aquele momento, o atleta representa sua nação com toda a pluralidade cultural e história. Certamente, cada atleta tem sua posição e sua representatividade, muitos deles com milhões de seguidores nas redes sociais e a conquista de uma medalha olímpica impulsiona suas opiniões, seus posicionamentos e atitudes. Há que se levar isso em conta antes de pensar na possibilidade de se manifestar num momento tão emblemático como as Olimpíadas. 

*Zair Candido de Oliveira Netto, doutor em Ciências da Saúde e coordenador do curso de Educação Física da Universidade Positivo.

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