Emagrecer de forma rápida e sem orientação pode fazer você perder firmeza facial e fios de cabelo, ganhar rugas e olheiras e ficar com uma aparência mais ‘cansada’ e triste. Saiba o que fazer para evitar tudo isso e emagrecer com saúde
Perder peso não é fácil. E há alguns efeitos colaterais quando isso é feito sem orientação. Uma delas podemos ver diretamente na pele: perder peso demais em um curto período de tempo, com dietas altamente restritivas, pode acentuar o envelhecimento da pele, principalmente com o aparecimento de quatro sinais: flacidez, rugas, olheiras, queda capilar e aparência cansada. “Quando pensamos em perda de peso, pensamos sempre na perda de volume e de gordura corporal, num corpo mais esguio, em mais energia e numa autoconfiança perdida que fora agora reconquistada. Até aqui, tudo bem, são efeitos naturais dos quilos perdidos. Mas um processo de perda de peso tem ainda implicações também no rosto, afinal perdemos gordura no corpo inteiro, e isso nem sempre agrada”, afirma o cirurgião plástico Dr. Mário Farinazzo, membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e Chefe do Setor de Rinologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). “O menor aporte proteico em dietas de alta restrição calórica, em que se ingere muito menos calorias do que se gasta, é um dos grandes fatores ligados ao envelhecimento. Além disso, uma ingestão reduzida em vitaminas, minerais e antioxidantes está ligada ao envelhecimento da pele, já que esses micronutrientes são condicionais para manter a saúde do organismo como um todo e ainda sobrar para o adequado aporte à pele, cabelo e unhas. Uma dieta de escassez para emagrecer também traz impactos na queda de cabelo, ressecamento, unhas quebradiças, além de rugas e flacidez”, explica a Dra. Marcella Garcez, médica nutróloga e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
De acordo com o médico, a perda de peso causa a redução do volume que mantinha a pele mais esticada. “Com essa redução, há uma ‘sobra’ da pele, obviamente se considerarmos uma perda expressiva de gordura”, diz o Dr. Mário Farinazzo. “Este fenômeno é particularmente mais importante no rosto, sendo mais significativo no terço inferior e no pescoço”, afirma o especialista. A acentuação da flacidez do rosto e do pescoço parece ser a consequência mais clara, porém, mais rugas, mais olheiras e mudança da expressão facial aparecem também. Abaixo, os especialistas explicam mais sobre como o emagrecimento acentua alterações de pele e cabelo:
Perda de cabelo: Dietas restritivas ou alimentação nutricionalmente pobre fazem o organismo digerir a energia apenas para funções essenciais de funcionamento do corpo, deixando de lado a nutrição e oxigenação de tecidos como cabelo e pele, segundo o dermatologista Dr. Daniel Cassiano, da Clínica GRU e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. “Por esse motivo, um dos principais sintomas físicos de uma alimentação deficitária é a queda de cabelos. Com relação à nutrição, anemia ferropriva e deficiência de zinco, Vitamina B12 e Vitamina D podem também ser causas de Eflúvio Telógeno”, explica o Dr. Daniel. Segundo a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, as carências de vitaminas, minerais, proteínas, gorduras e carboidratos de boa qualidade também impactam na saúde dos fios e do couro cabeludo. Seu cabelo é composto principalmente de proteínas, portanto, incluir quantidades adequadas em sua dieta é vital para o crescimento do cabelo. Aproximadamente 85% do cabelo é formado de queratina, que é uma proteína, e por ser um tecido de excreção, é formado de aminoácidos sobressalentes para essa função. “Se não houver sobra de aminoácidos, não há boa síntese de queratina. Além disso, minerais metálicos como ferro e cobre além de vitaminas do complexo B como a biotina participam da manutenção da saúde capilar”, diz a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez. Se você tiver carência desses nutrientes, seu cabelo irá cair mais num quadro intenso (eflúvio telógeno), a textura dos fios pode mudar, além de ficarem mais fracos e propensos à quebra. “O excesso de açúcar na dieta pode comprometer a saúde dos folículos capilares aumentando a possibilidade de eflúvio (queda de cabelos)”, diz a Dra. Marcella.
Menos firmeza: A flacidez da pele do rosto e do pescoço não é apenas uma consequência do passar dos anos. Quem diz adeus a alguns (ou muitos) quilos pode deparar-se também com esta realidade, visto que a perda de peso leva a uma diminuição do tecido celular subcutâneo na face, havendo redução do volume geral. “Isso faz com que a pele fique mais flácida e com aparência mais enrugada. Além disso, um processo de emagrecimento rápido leva a um aumento da produção de radicais livres, que levam a um maior dano no colagénio, contribuindo para o aumento da flacidez”, esclarece o Dr. Mário Farinazzo. “A flacidez excessiva que ocorre nos processos de emagrecimento muito rápidos geralmente se dá pelo menor aporte proteico que traz como consequência a redução na síntese de fibras colágenas, que dão estrutura à derme. Além de aminoácidos provenientes de proteínas, as fibras de colágeno precisam de vitamina C para serem formadas e ainda a estrutura de matriz extracelular é composta de minerais como silício. Portanto uma orientação alimentar com aumento de consumo alimentar ou suplementar de proteínas, vitamina C e silício são condicionais nessa situação”, diz a Dra. Marcella. Nem sempre uma dieta restritiva restringe o consumo de carboidratos. Às vezes, e por falta de orientação, sobra esse macronutriente, o que pode causar um processo denominado glicação. “A glicação é um dos maiores vilões da nossa pele. Esse processo significa o açúcar destruindo, endurecendo e mudando a estrutura do colágeno dentro da nossa pele. Essa reação pode aumentar acne, rosácea, estimular oleosidade, piorar o aparecimento de rugas, flacidez, manchas e envelhecimento, aumentar as estrias e celulites. A glicação envolve a pele do corpo todo, as alterações aparecem tanto no rosto quanto no corpo”, explica Ludmila Bonelli, cosmetóloga, especialista em dermatocosmética e diretora científica da Be Belle. Uma boa forma de atenuar o problema é conciliar a dieta, com melhor aporte proteico e de micronutrientes, com uma rotina de aplicação de cremes antienvelhecimento com ação antioxidante, como vitamina C, E e resveratrol, que aumentam a firmeza e dão luminosidade à pele. “Ao usar um dermocosmético com ação antioxidante e antiglicante (que evita os danos de açúcar na pele), é possível tratar a funcionalidade da pele, reforçando sua estrutura interna para a proteção do colágeno”, explica Ludmila. Em clínica, há opções para prevenção e tratamento do problema, como procedimentos como radiofrequência, ultrassom microfocado, preenchimento de ácido hialurônico, mesoterapia, peelings, lasers, entre outros. “A radiofrequência e o ultrassom microfocado são boas opções para a flacidez leve a moderada, enquanto os preenchedores injetáveis, bioestimuladores ou até mesmo a lipoenxertia (injeção de gordura) representam uma boa estratégia para devolver um pouco do volume perdido com o processo de emagrecimento”, afirma o Dr. Mário.
Mais rugas: Você emagreceu e notou que tem mais rugas? É normal. “Quando perdemos peso, a pele perde a capacidade de retrair por causa do dano no colágeno e na elastina, que são fundamentais para a elasticidade da pele”, explica o cirurgião. “A perda de gordura na face também leva ao aparecimento de mais rugas, pois a pele não tem capacidade para se retrair quando perde o que está debaixo de si, e quanto mais idade a pessoa tem, pior é a capacidade de recuperação. Há rugas que podem aparecer ou ficar ainda mais pronunciadas se já existiam”, argumenta. De acordo com a Dra. Marcella, as rugas ocorrem em grande parte pelos mesmos motivos que causam a flacidez da pele, porém a radiação ultravioleta agrava ou acelera muito o aparecimento das linhas mais demarcadas. “Por isso, além de um aporte proteico, de vitamina e silício, para prevenir rugas ou manter os resultados dos tratamentos, o ideal é aumentar a ingestão alimentar ou suplementar de antioxidantes que tenham atividade fotoprotetora oral, como é o caso dos carotenoides, os ácidos graxos ômega 3 e os polifenóis provenientes de frutas vermelhas”, diz a médica. Nas rugas, os preenchedores e a toxina botulínica, segundo o médico, acabam surtindo bons efeitos. “No caso das demarcações mais profundas, quando são muitas, a cirurgia das rugas, ou ritidoplastia, pode trazer mais resultados”, diz o cirurgião.
Olheiras mais intensas – Menos peso pode levar a mais olheiras? Sim. Mais uma vez, a perda de gordura no rosto é a responsável. “Grande parte da nossa gordura facial está, digamos, na zona das bochechas, e quando essa gordura desaparece por conta de um emagrecimento rápido e sem orientação, essa zona ‘despenca’ e a olheira estrutural fica mais pronunciada, podendo apresentar uma cor mais azulada ou azul acastanhada”, afirma a dermatologista Dra. Letícia Bortolini. Os preenchimentos faciais com ácido hialurônico podem ajudar a corrigir a profundidade da olheira e os cuidados diários devem ser feitos com cremes específicos para a área dos olhos, em formulações com retinol, alistin e vitamina C.
Aparência cansada e triste – Quando a almofada entre a pele e o músculo, que é a gordura, diminui, é comum que a pele fique mais flácida e algumas regiões ao redor dos olhos e da boca ficam muito semelhantes à expressão que usamos quando estamos tristes ou cansados. Os exemplos mais comuns são o aumento da olheira e a queda dos cantos da boca. E esse é um dos principais motivos da consulta pós-perda de peso. “A pessoa sente-se mais triste, ou seja, a pessoa fica com o rosto mais triste, e é essa tristeza que identificamos e queremos tratar. Quando o fazemos, não estamos apenas a tratar a pele e outras estruturas, estamos também a tratar a expressão. Temos de diagnosticar as emoções da pessoa, não apenas o tipo de pele e o seu estado, temos de identificar a expressão da pessoa, o que transmite”, afirma o cirurgião plástico. “Se a perda de peso não foi acompanhada, o período de tratamento da pele deve ser, através de orientações alimentares e suplementares que preparam o organismo para obter melhores e mais duradouros resultados para os procedimentos corretivos. Além das questões estéticas, um hábito alimentar equilibrado, variado e natural, acompanhado de suplementos alimentares individualizados, são capazes de auxiliar o organismo a manter-se saudável e prevenir disfunções próprias do envelhecimento acelerado”, completa a nutróloga.
Afinal, como deve ser o emagrecimento ideal?
De acordo com a Dra. Marcella Garcez, o ideal é que qualquer emagrecimento rápido ou que conte com perda ponderal de mais de 10% do peso corporal, tenha acompanhamento médico. “Só assim é possível descartar patologias e carências que agravam os sinais físicos de um emagrecimento não orientado. Como em muitas ocasiões a perda de peso não é monitorada, as intervenções nutrológicas devem ser incorporadas assim que o aspecto de envelhecimento precoce ou acelerado pelo emagrecimento for notado. Com mudanças no hábito alimentar e a prescrição individualizada de suplementos alimentares, muito do aspecto indesejável pode ser minimizado”, diz a médica. “O mais importante é afastar-se das dietas muito restritivas. Quando há muita restrição, você pode perder peso mais rápido, mas de uma forma não saudável, que pode afetar da imunidade à saúde e beleza da pele, dos cabelos e das unhas. Além disso, elas podem acentuar os episódios de compulsão alimentar depois que o paciente atinge o peso desejado”, acrescenta a médica.
Durante o processo de emagrecimento também é importante ficar ligado nos seus hábitos de sono, que podem atrapalhar seus objetivos. “Sete horas de sono são cruciais para a perda de peso”, diz a Dra. Marcella. Muitas vezes, algumas pessoas que lutam para perder peso estão, na verdade, sofrendo de apneia do sono não diagnosticada. Esse distúrbio do sono, em particular, envolve seu corpo não recebendo a oxigenação adequada de que precisa à noite, levando a uma péssima qualidade do sono e cansaço. “E quando você está cansado, seu corpo anseia por carboidratos para obter energia. Isso provavelmente vai atrapalhar seu plano de perda de peso e sua saúde”, afirma a médica nutróloga. “A falta de sono diminui todo o metabolismo do ciclo circadiano, o que compromete o tempo necessário para que ocorra o reparo e regeneração durante o período noturno. Então isso afeta a produção natural de melatonina que também é parte da defesa antioxidante primária do nosso organismo”, explica a Dra. Letícia.
Hábitos saudáveis de vida, como a prática de exercícios físicos, irão ajudar a aumentar o gasto energético, principalmente no caso da musculação. “Os pesos irão ajudá-lo a ganhar mais massa muscular e queimar mais calorias. O estímulo muscular queima calorias. As pessoas podem até pensar que não querem ganhar músculos e ficar mais volumosas, mas a verdade é que a atividade física, principalmente musculação, ajuda a queimar mais gordura com mais eficiência”, diz a médica nutróloga. Além disso, durante a atividade física, toda a circulação é estimulada. “O sistema arterial (sangue que “alimenta” os músculos em movimento, por exemplo) aumenta seu fluxo, e consequentemente, o aporte de nutrientes e oxigênio para todos os tecidos, inclusive a pele. Os sistemas venoso e linfático também aumentam a velocidade de drenagem, retirando toxinas e diminuindo a retenção de líquidos. Isso se reverte na pele deixando-a mais hidratada, corada e mais viçosa. Com a melhora da oxigenação das células, isso contribui também para uma aparência mais saudável da pele”, completa a Dra. Letícia.
Por fim, os médicos destacam que a mudança de hábitos após o emagrecimento deve priorizar uma alimentação mais balanceada, evitar o cigarro, praticar atividade física e ter uma rotina skincare adequada à pele.
FONTES:
*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo.
*DR. MÁRIO FARINAZZO: Cirurgião plástico, membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e Chefe do Setor de Rinologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Formado em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), o médico é especialista em Cirurgia Geral e Cirurgia Plástica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Professor de Trauma da Face e Rinoplastia da UNIFESP e Cirurgião Instrutor do Dallas Rinoplasthy™ e Dallas Cosmetic Surgery and Medicine™ Annual Meetings. Opera nos Hospitais Sírio, Einstein, São Luiz, Oswaldo Cruz, entre outros. www.mariofarinazzo.com.br
*DR. DANIEL CASSIANO: Dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica. Cofundador da clínica GRU Saúde, o Dr. Daniel Cassiano é formado pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Doutorando em medicina translacional também pela UNIFESP. Professor de Dermatologia do curso de medicina da Universidade São Camilo, o Dr. Daniel possui amplo conhecimento científico, atuando nas áreas de dermatologia clínica, cirúrgica e cosmiátrica.
DRA. LETÍCIA BORTOLINI: Dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica. À frente da clínica Enlapy, em Cuiabá, a médica é formada em Medicina pela Universidade de Cuiabá, com especialização em Dermatologia pela Fundação Souza Marques (São Paulo/SP) e em Clínica Médica pelo Hospital Guilherme Álvaro (Santos/SP).
*LUDMILA BONELLI: Cosmetóloga, especialista em dermatocosmética e diretora científica da Be Belle.