A Doença de Chagas está entre as três principais moléstias infecciosas tropicais, junto com a malária e a esquistossomose. De acordo com a World Heart Federation (Federação Mundial do Coração), de 6 a 7 milhões de indivíduos no mundo convivem com o mal, sendo que 1,2 milhão desenvolvem miocardiopatias e 12 mil morrem a cada ano.
Um dos grandes entraves da Doença de Chagas é a falta de diagnóstico: apenas um em cada dez pacientes é identificado. Sem tratamento adequado, há risco de sequelas crônicas após a fase aguda da doença, com manifestações cardíacas e digestivas. “Na primeira fase, a pessoa pode não sentir nada ou sentir como se fosse uma pequena infecção, com febre e mal-estar. Posteriormente, passa para a chamada fase crônica, quase sempre sem ter a fase anterior diagnosticada.”
Após duas a quatro décadas aparecerão os problemas mais sérios, que incluem danos ao coração, esôfago e intestino, entre outras agressões”, explica um dos maiores estudiosos da Doença de Chagas no Brasil, José Antonio Marin Neto, professor titular de Cardiologia da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto. A relevância do trabalho de Marin Neto fez dele um dos convidados para o congresso anual do American College of Cardiology (ACC), em Chicago, em 2008, com o tema “Doenças parasitárias do coração”.
Segundo o especialista, 40 a 50% dos indivíduos que tiveram Doença de Chagas terão sequelas cardíacas mais graves. “Isso se dá porque a enfermidade provoca uma inflamação, que mata muitas das células cardíacas, responsáveis pela contração muscular, aquelas que fazem o coração trabalhar como uma bomba de sangue. Essas células ficam enfraquecidas e o músculo cardíaco comprometido, e também levando à trombose em vários pontos do organismo, aumentando a chance de o paciente vir a óbito.”
Durante o 41º Congresso Virtual da SOCESP (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo), Marin Neto será o coordenador da mesa redonda Miocardiopatias: Avaliação Diagnóstica e Tratamento, que incluirá palestra sobre o panorama atual da Doença de Chagas no Brasil.
Nova diretriz à vista
A primeira Diretriz Latino-Americana para o Diagnóstico e Tratamento da Cardiopatia Chagásica foi publicada em 2011, mas até o final do ano uma nova diretriz deve direcionar o trabalho dos médicos. “De 2011 para cá tem-se registrado múltiplos avanços em diagnóstico, prognóstico e também na compreensão do estrago que é feito no coração pela Doença de Chagas”, diz Marin Neto, coordenador da nova diretriz sobre cardiomiopatia da Doença de Chagas da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
“Em dez anos, ocorreram avanços significativos e, por isso, se faz necessária uma nova diretriz para nortear o uso de métodos capazes de evitar desfechos súbitos, uma vez que até 70% dos casos fatais ocorrem por eventos inesperados, que poderiam ser evitados por terapias medicamentosas e (ou) procedimentos cirúrgicos, como o implante de marcapassos, e cardiodesfibriladores, por exemplo”.
Serviço:
41º Congresso Virtual da SOCESP
Data do evento: 10 a 12 de junho 2021
Tema: Miocardiopatias: Avaliação Diagnóstica e Tratamento
Coordenador: José Antonio Marin Neto
Data: 12/06/2021
Horário: 13h