Impacto da participação dos pais na vida escolar das crianças

Candice Almeida*

 

“Puxa, professora, o problema é que meu filho odeia ler”. Ouço com muita frequência esse tipo de desculpa para justificar a falta de repertório do filho no texto. As notas baixas, dizem eles, são por conta desse bendito celular. Não tem como competir. De fato, devo concordar que as redes sociais são sim tentadoras e, olhando por esse lado, não dá exatamente para dizer que eles não leem; leem até muito, mas nada (ou muito pouco) que agregue valor ou conhecimento. Mais uma coisa para a lista de culpa dos pais, talvez esta esteja até no topo: a atenção à rotina escolar.

Segundo Nicholas Papageorge, economista da Universidade Johns Hopkins, duas pessoas que são geneticamente semelhantes podem ter pontuações surpreendentemente diferentes no teste de QI porque algumas famílias, geralmente as mais ricas, investiram mais em seus filhos: alimentando-os bem, lendo para eles em taxas mais altas e inscrevendo-os em mais atividades.

O papel dos pais, portanto, é preponderante. No entanto, participar da vida escolar do filho não é fácil. Afinal de contas, os pais também devem ter repertório para poder cobrar um. Como tornar um filho leitor se eles mesmos não o são? Como convencer de que a leitura te faz melhor se a própria definição de pessoa melhor não me é clara? Aliás, a atriz Reese Witherspoon faz uma excelente interpretação de uma mãe obcecada pela rotina escolar dos filhos na série Big Little Lies. O equilíbrio nem sempre é fácil. Mas há algumas unanimidades.

Participar da vida dos filhos não é fiscalizar professor ou tolher acesso a certo tipo de conhecimento, mas sim oferecer o contato com o contraditório para que, a partir de informações, a criança e o adolescente consigam formar sua opinião. Quando se participa da vida escolar, percebe-se que a liberdade de ensinar deve ser soberana. Os docentes nunca deveriam ser auditados pelas suas opiniões. Participar da vida escolar do filho é defender a escola como instituição, é lutar contra seu sucateamento e a favor da laicidade. É combater o desrespeito, enaltecer as diferenças e ensinar a tolerar. 

Participar da vida escolar do filho é dar poder a ele por meio das palavras e do conhecimento e não ensinar a força pela violência, como bem distingue Hannah Arendt. Participar da vida escolar dos filhos é, por vezes, aprender mais e melhor, é mudar de opinião, o que não exige mudar de caráter, apesar de que o conhecimento tem esse poder. Participar da vida escolar do filho é defender a rotina, as obrigações e os horários determinados pela instituição. Ou seja, é defender a cidadania.

Participar da vida escolar dos filhos é ficar mais tempo com eles, é ler para eles, é participar de atividades culturais, debater questões políticas, econômicas e sociais, é escolher junto. O respeito não deve vir ‘porque eu sou seu pai/ sua mãe’, mas porque todos devem ter lugar de fala e devem, sim, ser respeitados pelo que são, pelas suas escolhas. A boa escola dará continuação a isso, um papel suplementar. O tripé escola, família e aluno ainda continua sendo a base da formação de uma sociedade democrática. 

*Candice Almeida, professora de Redação do Colégio Positivo e assessora pedagógica de Redação no Centro de Inovação Pedagógica, Pesquisa e Desenvolvimento (CIPP) dos colégios do Grupo Positivo.

 

** Artigos de opinião assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do Colégio Positivo.

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